Vitor Magalhães é jornalista do O POVO e escreve sobre política e mundo. É criador do Latinoscópio, projeto jornalístico que reúne diariamente informação, notícias, opinioes e curiosidades sobre os 20 países da América Latina
Vitor Magalhães é jornalista do O POVO e escreve sobre política e mundo. É criador do Latinoscópio, projeto jornalístico que reúne diariamente informação, notícias, opinioes e curiosidades sobre os 20 países da América Latina
A guerra civil na Síria completou dez anos no último dia 15 de março. O conflito que surgiu no clarão de esperança da Primavera Árabe, movimento revolucionário iniciado na Tunísia e que tomou conta de diversos países do Oriente Médio e do norte da África, hoje é responsável por quase 390 mil mortes segundo relatório do Observatório Sírio de Direitos Humanos divulgado este mês. Do total de vítimas, estima-se que 22 mil eram crianças.
Na Síria, a Primavera não foi suficiente para derrubar o ditador Bashar Al-Assad. No poder desde o ano 2000, Assad equilibrou-se a um custo altíssimo como mostram os números. Antes de Bashar, seu pai, Hafez Al-Assad, governou por 29 anos. Em resumo, a mesma família segue governando o país há cerca de cinco décadas.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) lançou relatório no mês passado no qual dimensiona o saldo e o impacto do conflito na vida dos jovens sírios. Pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, encomendada pelo CICV, entrevistou 1,4 mil sírios de 18 a 25 anos na Síria, no Líbano e na Alemanha.
Dos entrevistados nos três países supracitados:
- 77% disseram ter acesso inexistente ou muito limitado às necessidades básicas (água, eletricidade, etc)
- 62% disseram que precisaram fugir de casa, seja na Síria ou no exterior;
- 55% afirmaram ter perdido anos de escolaridade, ou mesmo deixaram de frequentar as aulas.
- 54% perderam contato com um familiar próximo;
- 54% perderam seus pertences ou sua propriedade
- 53% sem acesso ou muito limitado aos cuidados de saúde
- 49% perderam seus meios de renda (por exemplo, emprego, receita, terras agrícolas, etc.)
- 45% disseram que um membro da família ou um amigo próximo ficou gravemente ferido
- 42% disseram que um membro da família ou um amigo próximo foi morto
- 21% tiveram que adiar um casamento ou noivado
- 12% foram feridos durante o conflito
- 10% disseram que um de seus pais ou ambos ficaram gravemente feridos
- 6% foram presos ou feitos de refém
- 6% foram vítima de violência sexual
- 6% disseram que um de seus pais ou ambos foram mortos
O relatório completo da Cruz Vermelha (em inglês) pode ser visto aqui.
Especialistas em relações internacionais apontam que a perspectiva para o fim da guerra não é vista como próxima; longe disso. A Síria, hoje, é um laboratório para as novas relações internacionais. Além de grupos étnicos e diversas milícias a guerra conta também com o interesse de potências estrangeiras de lados opostos, EUA e União Europeia de um lado (contra Assad) e Rússia e China e Irã do outro (pró-Assad).
A questão não é o apoio ao ditador em si e também não envolve a briga por recursos do país. A disputa, nesse caso, é pelo controle de uma área estratégica para a geopolítica mundial. A Síria faz parte, juntamente com outros países do Oriente Médio, de um "corredor" (entre Europa e Ásia) que ainda será disputado por muitos anos.
Na última segunda-feira, 15, milhares de manifestantes protestaram nas ruas de Idlib, última grande região do país controlada por rebeldes, em alusão ao décimo aniversário do início da revolução. Além dos 388 mil mortos na guerra, pelo menos 12 milhões de pessoas foram forçadas a deixarem suas casas, seja na Síria ou no exterior.
Atualmente, com a guerra e a pandemia, a economia do país está em colapso. A moeda síria desvalorizou em nível recorde. Em março deste ano, U$$ 1 comprava 4.000 libras sírias no mercado paralelo.
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