A busca de pais e responsáveis para garantir a educação dos filhos com deficiência tem crescido significativamente em Fortaleza ano após ano. De acordo com o Censo Escolar 2019, a Rede de Ensino Municipal conta com 8,9 mil estudantes com deficiência matriculados. Sendo a terceira cobertura do País e a primeira do Nordeste. Dados da Prefeitura apontam que houve em cinco anos um incremento de 2.100% no número de profissionais de apoio em sala aula, mas ainda assim a quantidade se mostra insuficiente para atender a demanda na Capital.
Angela Beatriz buscou vaga para o filho, de 3 anos, com diagnóstico de transtorno do espectro autista no Centro de Educação Infantil (CEI) João Marçal Mesquita, no bairro Álvaro Weyne. Não conseguiu. Discutiu com a equipe, procurou a Coordenadoria de Educação e acabou por matricular o menino no CEI Maria Roseli Mesquita, mais longe de casa.
"Eu fiquei receosa em como o meu filho seria tratado", comenta, criticando o atendimento inicial. A preocupação da mãe agora é em relação ao profissional de apoio em sala de aula, que ainda não está garantido. "Solicitei. Mas a prefeitura e a secretaria negaram. Disseram que como ele fala e anda não seria possível", explica. Segundo ela, a atenção do filho é insuficiente para deixá-lo sozinho nos espaços.
Maria de Fátima já enfrentou o mesmo problema e só conseguiu acompanhamento exclusivo para o filho de 12 anos depois de buscar o intermédio do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Ceará. A criança possui paralisia cerebral e estuda na Escola Municipal João Hildo de Carvalho Furtado, no bairro Mondubim. Ela conta que mesmo com o apoio o filho não tem se adaptado e se recusa de ir à escola. "É um pouco distante. Meu filho não fala, mas bate nas pernas porque não tem transporte e não quer ir. Ele não pode levar um brinquedo para lá. Não pode levar jogo de dama, um tablet, nada", lista. A mãe destaca que o adolescente avança pouco na aprendizagem.
"Mesmo com as vagas garantidas, porque passar nossos filhos de ano, se não aprendem nada?", questiona Juliana Domingos, mãe de uma menina de 10 anos que também tem diagnóstico de transtorno do espectro autista. Ela reclama que a filha não traz atividades da escola para fazer em casa. As únicas atividades que tem é para pintar e ligar letras iguais. A pré-adolescente está no 5º ano, mas não sabe ler nem escrever.
"Nossos filhos ficam na escola perdidos, isolados, não tem amizade com outras crianças. Muita vezes, a direção não está preocupada, só querem jogar na escola. Se não for outra criança para avisar que a filha está sendo agredida, é difícil alguém dizer", lamenta Juliana.
Aos 8 anos, o filho de Varondina Braga, autista com grau moderado a severo, só conseguiu avançar na aprendizagem depois de chegar à Escola José Carlos Matos, na Granja Portugal. A mãe explica que a auxiliar de sala o trata bem e tem ajudado a criança avançar nos estudos, algo que não foi possível durante três anos na rede particular de ensino.
" Agora ele consegue reconhecer letras, formas geométricas, cores, figuras, pequenas coisas do dia a dia, como casa e árvore, começou a chamar as pessoas pelo nome", lista a mãe com gratidão aos profissionais que encontrou pela frente. Apesar disso, ela reconhece a dificuldade enfrentada por outros pais.
Ensino inclusivo
Censo Escolar 2019
Matrículas
Há 220.420 alunos em toda a Rede de Ensino; 3% maior em relação a 2018.
A Rede é a quarta do País, antecedida por São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.
Educação inclusiva
8.956 estudantes com deficiência; maior quantidade do Nortesde e 3º do País, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro
A capital cearense aumento em 27,2% o acompanhamento de alunos na educação inclusiva
Instituições parceiras
Associação dos Cegos do Estado do Ceará
Associação de Pais Amigos dos Excepcionais
Associação Pestalozzi do Ceará Recanto Psicopedagógico da Aldeota
Centro de Integração Psicossocial do Ceará
Instituto Filippo Smaldone
Instituto Moreira de Sousa
Rede de ensino inclusivo
6.500 alunos são acompanhados pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Rede Municipal
179 Salas de Recursos Multifuncionais (SRM)
6.500 alunos são acompanhados pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE)
Matrícula
O calendário de matrícula na rede municipal foi encerrado ontem, 8. A Educação Inclusiva teve matrícula antecipada em novembro, com o objetivo de identificar as necessidades educacionais dos alunos e mapear as escolas