Além de se preocuparem com as medidas de prevenção contra o novo coronavírus, indígenas do povo Anacé, de Caucaia, relatam dificuldade para conseguir alimentos e materiais de higiene. Parte das famílias perdeu a fonte de renda durante a quarentena determinada por decreto estadual desde o último dia 19 de março.
"A maior parte do nosso povo não provém de empregos assalariados ou carteira assinada, a maior parte é autônoma ou se sustenta apenas com algum recurso do Bolsa Família. Algumas famílias foram cortadas, nesse último corte que teve", explica Climério Anacé, cacique da aldeia Japuara. De acordo com ele, parte da renda era proveniente do turismo no litoral. "Não tem mais como tirar o alimento, então tem ficado muito pesado. E como isso tudo foi uma coisa de uma hora para outra, rápido, não deu tempo se organizar nem se preparar."
Na aldeia Santa Rosa, também do povo Anacé, o agente da equipe de saúde indígena Luis Antônio Ferreira da Silva afirma que a população também passa por insegurança alimentar. "Os impactos maiores que a gente sente nessa quarentena são muitas famílias não terem onde comprar, porque está fechado, não tem transporte." Os cuidados de prevenção, porém, estão sendo adotados. "A comunidade tem atendido (às recomendações), até nossos atendimentos médicos não estão sendo tão lotados. Estamos passando por essa dificuldade, mas compreendemos também que é um período que vai passar", afirma Climério Anacé.
De acordo com o cacique, até o último dia 1º, foram arrecadados cerca de R$ 1.500, além de fardos de arroz, leite e biscoitos, em campanha realizada nas redes sociais. As doações serão distribuídas entre as comunidades que compõem as aldeias Japuara e Santa Rosa, no território tradicional do povo Anacé. "Estamos com uma arrecadação boa o suficiente para podermos dar o primeiro pontapé para ajudar essas famílias, enquanto passam esses problemas", acrescenta Silva.
Além dos Anacé, a pandemia de Covid-19 preocupa os povos indígenas cearenses como um todo. Segundo Ceiça Pitaguary, coordenadora da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), as aldeias não têm estrutura para estarem "completamente isoladas". "(Elas) são cortadas por diversas estradas e BRs, sempre (com) um grande fluxo de pessoas. Mas, de qualquer maneira, estamos mantendo na medida do possível o isolamento das famílias."
O possível impacto da Covid-19 entre indígenas preocupa pela maior vulnerabilidade dessa população a infecções respiratórias, conforme Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (Covid-19) em Povos Indígenas, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). "O perigo e o risco para nós é a contaminação de toda uma aldeia ou povo. Como moramos em aldeias, casas bem próximas umas das outras e todos parentes, sempre temos o costume de estar reunidos, e isso pode espalhar o vírus", afirma Ceiça Pitaguary.
O primeiro caso do novo coronavírus entre indígenas no País foi confirmado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas nesta quarta-feira, 1º. A paciente, uma mulher da etnia Kokama de 19 anos, mora na aldeia São José, em Santo Antônio do Içá. Até ontem, havia três casos suspeitos de Covid-19 entre populações indígenas no Ceará, segundo boletim epidemiológico da Sesai.
Doações ao povo Anacé
Alimentos e material de higiene para tribos Japuara e Santa Rosa
Caixa
Agência: 1961
Operação: 13
Conta: 18252-4
TRANSFERÊNCIAS E DEPÓSITOS
Aurea Maria Santos M Filho
CPF: 950.785.173-91
Contato: (85) 99635.6151
Pastoral do povo da rua
Alimentos e material de higiene para pessoas em situação de rua, migrantes catadores e povos indígenas
Banco do Brasil
Agência: 2793-6
Conta corrente: 120.465-3
CNPJ: 10.945.649/0001-39