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Atendimentos para câncer de mama no Estado caem em 80% durante pandemia
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Atendimentos para câncer de mama no Estado caem em 80% durante pandemia

Demora para diagnóstico e tratamento preocupa médicos. Sociedade Brasileira de Mastologia no Ceará alerta para "explosão de casos" após controle da Covid-19
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Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) é uma das unidades no Ceará com atendimento em mastologia (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) é uma das unidades no Ceará com atendimento em mastologia

A Covid-19 vem causando efeitos preocupantes em todo o mundo. O número de infectados pelo novo coronavírus nos hospitais só aumenta. Ao mesmo tempo, médicos têm notado redução significativa de pacientes com doenças que costumavam ser maioria nos corredores; entre elas, o câncer. "O que observamos nessa pandemia, tanto no Estado quanto na Capital, é uma diminuição de cerca de 80% nos atendimentos nos ambulatórios de mastologia, tanto nos serviços públicos quanto nos privados", afirma Aline Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia no Ceará.

Para a mastologista, a queda nos atendimentos tem dois fatores explicativos. "O primeiro é o medo das pacientes de irem até as unidades de diagnóstico, mesmo com consultas e cirurgias agendadas, e contraírem a Covid-19 no trajeto. O outro é a suspensão de atendimentos em mastologia em algumas unidades de saúde", enumera. O cenário é preocupante porque, mesmo que muitas mulheres atendidas não estejam com câncer de mama, as consultas são a porta de entrada do diagnóstico e do cuidado.

 

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"A gente sabe que diagnóstico e tratamento precoces são extremamente importantes e impactam nas chances de cura. Temos certeza que existem mulheres com câncer de mama que não estão sendo diagnosticadas", aponta Aline. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima o surgimento de 2.510 novos casos de câncer de mama no Ceará em 2020, sendo 1.230 em Fortaleza. O prognóstico negativo levantado pela comunidade médica é que o número seja ainda maior e haja uma "uma explosão de casos" oncológicos.

Um dos indicadores que despertam atenção é o número de mamografias realizadas no Estado. Em março de 2019 foram 5.720 enquanto que em março deste ano foram 3.358 exames - uma queda de 41,3%. Já em Fortaleza, são somente 492 mamografias feitas no mês passado contra 2.314 em abril de 2019. "Essas mamografias foram de rastreamento, ou seja, em mulheres assintomáticas e foram ser examinadas visando descobrir a doença no início. As mulheres infelizmente não estão tendo os primeiros cuidados. As que chegam para nós agora são as com tumores já palpáveis", lamenta Aline.

Luiz Porto, do Serviço de Mastologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça o alerta. Ele afirma que as consultas e atendimentos tiveram uma redução significativa nos últimos meses mesmo com unidades de referência, como o Centro Regional Integrado de Oncologia, tendo mantido os tratamentos e adaptado os fluxos para se adequar às medidas de prevenção ao novo coronavírus. "Um dos problemas são as mulheres que precisam vir do Interior para se tratar em Fortaleza e não estão tendo o serviço público de saúde para esse transporte."

O mastologista que também é coordenador do Comitê Estadual de Controle do Câncer afirma que a Secretaria da Saúde (Sesa) está atenta às necessidades de pacientes oncológicos e de demais doenças crônicas. "Estamos discutindo ações com os consórcios de saúde para que essas pessoas não fiquem desassistidas e também formulando estratégias para aprimorar o rastreamento do câncer, que ainda deixa a desejar", expõe.

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