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Jovens têm maior complicação com Doenças Inflamatórias Intestinais
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Jovens têm maior complicação com Doenças Inflamatórias Intestinais

41% dos portadores demoram mais de um ano para receber diagnóstico final
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HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA: expectativa que cirurgias eletivas voltem na segunda quinzena de julho (Foto: BEATRIZ BOBLITZ)
Foto: BEATRIZ BOBLITZ HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA: expectativa que cirurgias eletivas voltem na segunda quinzena de julho

O pico de incidência das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) ocorre entre os 20 e 40 anos. No entanto, quanto mais jovem o paciente for mais sintomático será a inflamação, é o que alerta o professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Marcellus Ponte. O médico atua no Hospital Universitário do Walter Cantídio (HUWC), maior Centro de Referência para a doença no Ceará. Atualmente, cerca de 850 pessoas são atendidas na unidade. As enfermidades mais comuns são a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Neste mês, especialistas e pacientes fazem a campanha "Maio Roxo" para conscientizar sobre as enfermidades.  

Entre os sintomas característicos estão dores abdominais, idas excessivas ao banheiro e diarreia. Em casos mais graves, ocorrem sangramentos e muco nas fezes, perda excessiva de peso e anemia. "O acesso ao tratamento e aos medicamentos falham. Sobretudo a chegada dos novos medicamentos. É uma doença que impacta uma parcela de indivíduos jovens, além de ser muito desconhecida por parte da população geral", comenta Ponte.

Na Capital, além do Walter Cantídio, recebem pacientes com as inflamações o Hospital Geral de Fortaleza, o Hospital Dr. César Cals e o Hospital Infantil Albert Sabin. O POVO solicitou à Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) a quantidade de pacientes atendidos nas duas primeiras unidades e em outros centros no Ceará, mas não obteve retorno.

"Há uma demora muito grande para chegar aos hospitais terciários, que são esses maiores. Isso mostra a necessidade de chegar mais precocemente e ter uma maneira de facilitar o acesso a esses hospitais. Como são os pacientes jovens, a demora pode facilitar o avanço da doença, aumentando a necessidade de operar, o que seria evitado caso tivesse tratado anteriormente", frisa Marcellus Ponte.

Levantamento feito pela Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), com mais de 3,5 mil brasileiros portadores dessas condições, mostra que 41% deles demoraram mais de um ano para receber um diagnóstico final. Destes, 20% levaram mais de 3 anos e 12% mais de 5 anos.

"São vários meses de tentativas e erros. Às vezes começam com um período de negação da doença e menosprezo dos sintomas, passando por inúmeras visitas a hospitais e especialistas até encontrar um que conheça a doença e faça o diagnóstico adequado. A partir daí, inicia-se o período de adaptação ao tratamento, já que a melhora pode não acontecer de forma imediata", afirma Marta Machado, gastroenterologista e presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD).

Dentre os pacientes ouvidos, 78% relataram impactos significativos na rotina. Para 51%, a DII afetou o emprego e 20% tiveram que se ausentar do trabalho ou estudo por mais de 25 dias. Sobre as crises de dor, 42% tiveram até três no intervalo de dois anos e 18%, mais de dez crises no mesmo período. 77% dos portadores da doença se preocupam quando a próxima crise irá atacar.

As Doenças Inflamatórias Intestinais não têm cura, mas têm tratamento. "A assistência ao paciente deve ser multidisciplinar devido aos episódios depressivos que alguns podem ter pelas constantes crises incapacitantes", explica Marta. O tratamento varia pela localização e intensidade da doença. Para sintomas leves, a mudança de hábitos, como alimentação balanceada e exercícios físicos periódicos, pode diminuir os incômodos. Já os casos moderados e graves necessitam de medicamentos e também procedimentos cirúrgicos.

As alternativas terapêuticas também estão entre os tratamentos convencionais, como os aminossalicilatos, os corticoides, os imunomoduladores e os antibióticos, e os medicamentos biológicos ―, considerados inovadores.

 

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