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Oito PMs são afastados por suspeita de duplo homicídio em Juazeiro do Norte
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Oito PMs são afastados por suspeita de duplo homicídio em Juazeiro do Norte

Vítimas seriam investigadas por matar um PM. Policiais dizem ter tido tiroteio, mas CGD apurou indícios de execução
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INTERVENÇÃO policial suspeita de cometer abusos foi divulgada no site da Polícia Militar do Ceará (Foto: Divulgação / PMCE)
Foto: Divulgação / PMCE INTERVENÇÃO policial suspeita de cometer abusos foi divulgada no site da Polícia Militar do Ceará

Oito policiais militares foram afastados preventivamente suspeitos dos homicídios de Francisco Wesley Vieira da Silva e David Lima da Silva, fato ocorrido em 29 de junho último, em Juazeiro do Norte (a 498km da Capital). Conforme os policiais, ambos morreram em tiroteio. Os dois eram tratados como suspeitos de envolvimento no latrocínio que vitimou o subtenente da PM Francisco Augusto da Silva, em 6 de junho último, no bairro Vila Manoel Sátiro, em Fortaleza.

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) apurou possíveis abusos na ação policial. "(...) Há muitos indícios de que os policiais militares (afastados) e mais outros, no mínimo, sete policiais envolvidos, a serem identificados, (...) tenham cometido (...) homicídio qualificado (duplo), tortura, abuso de autoridade (invasão de domicílio, retenção de documentos, restrição de liberdade), falsidade ideológica, fraude processual, denunciação caluniosa, roubo (celulares e de documento), entre outros", diz trecho do parecer da Coordenadoria do Grupo Tático de Atividade Correcional (Cogtac), da CGD, ao qual O POVO teve acesso.

Conforme informado pela PM à época, os policiais haviam recebido informações da Inteligência de que suspeitos do latrocínio estavam escondido em uma casa. Ao chegarem no local, os PMs foram recebidos à bala. Após tiroteio, localizaram os dois homens feridos e encaminharam-nos ao hospital, mas eles não resistiram. Dois revólveres foram apreendidos. Dois tenentes, um cabo e cinco soldados do Batalhão de Divisas participaram da ação. O POVO não divulga a identidade dos investigados por não haver ainda acusação formal contra eles. Os policiais foram afastados do trabalho nas ruas por 120 dias. Eles tiveram armas, algemas e outros instrumentos de trabalho retidos.

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"Restaram evidenciados elementos aptos a viabilizar o afastamento (...) posto que os fatos que lhe são imputados, em tese, revestem-se de acentuado grau de reprovabilidade, sendo incompatíveis com a função pública, além de ser necessário à garantia da ordem pública e à correta aplicação da sanção disciplinar", afirma na decisão, ao qual O POVO também teve acesso, a controladora geral, Cândida Maria Torres de Melo Bezerra. Cópia do procedimento administrativo foi enviado à Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da CGD, para investigação na esfera criminal e identificação dos demais envolvidos.

A investigação preliminar da CGD ainda indica que Wesley e David não teriam relação com a latrocínio do ST Augusto. Conforme a apuração, o inquérito que investiga a morte do PM, apontou que apenas um homem participou da ação. Ele também foi morto em decorrência de intervenção policial, em 6 de junho. Wesley tinha passagem pela Polícia por porte ilegal de arma, fato ocorrido em 2014, enquanto David não tinha antecedentes criminais.

Outra ilegalidade identificada pela CGD foi a identificação equivocada de David, que, em um primeiro momento, foi identificado como se fosse outro homem. Até mesmo a guia cadavérica chegou a ser expedida com o nome errado. O homem foi à CGD esclarecer que estava vivo, sequer havia ido a Juazeiro e ainda relatou que sua imagem foi divulgada em redes sociais como partícipe do latrocínio. Ele acrescentou não ter ligações com o crime e que a única conexão que poderia vir a ter com o caso era o fato de ter vendido um carro a uma revendedora, que, soube depois, vendeu-o a Wesley.

Procurada por O POVO, a PM afirmou apenas que "por serem recentes", os fatos se encontram em apuração. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não se manifestou.

 

Intervenção policial

Em junho, 18 mortes no Ceará foram declaradas como oposição à intervenção policial, conforme a SSPDS. Desde o início de 2020, foram 96 casos.

 

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