Logo O POVO+
Catadores enfrentam redução da renda e risco de contaminação no retorno às atividades
CIDADES

Catadores enfrentam redução da renda e risco de contaminação no retorno às atividades

Lideranças de associações e cooperativas citam dificuldade para receber auxílios estatais como problema recorrente
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Apesar de realizarem atividade essencial para o meio ambiente, catadores lidam com vulnerabilidade social e riscos de infecção por Covid-19 (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Apesar de realizarem atividade essencial para o meio ambiente, catadores lidam com vulnerabilidade social e riscos de infecção por Covid-19

É da reciclagem que Sebastiana do Carmo Alves, 43, coordenadora geral da Associação dos Catadores do Jangurussu (Ascajan), tira o sustento da casa que divide com outros sete familiares. Antes da pandemia do novo coronavírus, a catadora ganhava cerca de R$ 500 por mês pelo trabalho. No contexto atual, a renda caiu para R$ 115 mensais. A situação é similar para outras 57 famílias que fazem parte da Ascajan.

"Isso é porque a quantidade de material diminuiu, mas também porque o valor de cada material caiu muito. A gente teve a graça de receber doação de cestas básicas de parceiros da associação, mas se não fosse o auxílio emergencial, que nem todo mundo conseguiu, o aperto estaria muito maior", aponta Sebastiana. O cenário, confessa ela, fica ainda mais preocupante frente ao medo de ter contato com materiais contaminados pelo novo coronavírus.

Acesse a cobertura completa do Coronavírus >

Para evitar a infecção, o fluxo de trabalhadores na sede do Associação, no Passaré, foi reduzido. Após dois meses e 15 dias fechado, o galpão reabriu há 15 dias. O horário de funcionamento foi reduzido a meio período. Os indivíduos do grupo de risco permanecem em casa. Máscara e higienização constante das mãos são obrigatórios. O cenário, porém, não é o mesmo para algumas associações e cooperativas.

Conforme Lilian Teixeira, presidente da Rede dos Catadores de Resíduos Sólidos e Recicláveis do Ceará, que conta com mais de 500 associados, muitos trabalhadores não conseguiram retomar o trabalho por problemas de logística, como a falta de motoristas e caminhões para transportar o material. Além disso, Lilian acrescenta a baixa que teve com o falecimento de colegas em decorrência da Covid-19.

"A gente tem parceria com a Prefeitura (de Fortaleza), que cedia o carro com motorista, mas ainda não retornou. Prejudicou alguns pontos como o galpão do (bairro) João XXIII, com a Raio de Sol, que está na produção, a Brisa-mar, no Mucuripe, e a Associação do Bom Jardim. A Ascajan não está podendo sair todo dia porque os motoristas não estão saindo todos", detalha.

A presidente diz que a luta dos catadores, desde a suspensão dos trabalhos em março, é para não faltar alimentação para os integrantes da rede e para as famílias deles. Ela aponta falhas na cobertura dos programas de auxílio financeiro e alimentício tanto do Estado e municípios, quanto do Governo Federal. "Foi uma coisa que fez a gente ficar mais próximo, mesmo estando distante. A gente fez um grupo, mobilizou os parceiros e os catadores da base para distribuição de alimentos."

Segundo Lilian, poucos catadores conseguiram acessar o programa de vale-gás do Governo do Ceará porque alguns catadores não se adequaram aos critérios exigidos. Ela justifica que "soube em cima da hora" sobre a distribuição de cestas básicas e, por isso, poucos colaboradores foram contemplados. A expectativa da presidente é pelo auxílio de R$ 261, aprovado na última semana.

O benefício foi sancionado, na última segunda-feira, 3, pelo governador Camilo Santana (PT) aos catadores de resíduos sólidos e recicláveis. A lei nº 17.256 tramitou em caráter de urgência na Assembleia Legislativa do Ceará. O texto garante o pagamento mensal de 25% do salário mínimo, hoje em R$ 1.045. Cerca de 1.249 catadores de 65 associações cearenses devem ser beneficiados.

O texto versa ainda para que o Poder Executivo Estadual disponha de recursos à parte da verba ao pagamento dos catadores, para compra de Equipamentos de Proteção Individual(EPIs). A expectativa é de que o recursos sejam repassados aos profissionais ainda este por meio de um cartão social a ser entregue aos catadores.

 

Panorama da reciclagem

Principais efeitos econômicos e ambientais da reciclagem
- Minimiza a exploração de recursos naturais
- Reduz poluição do solo, água e ar
- Mitiga as emissões de gases do efeito estufa
- Reduz o custo de produção
- Geração de renda

A renda média no Brasil dos catadores de materiais reciclados é de aproximadamente 1 salário mínimo (R$ 975,00)

Perfil socioeconômico dos catadores de material reciclável

Distribuição por gênero
Mulheres: 28% Homens: 72%


Distribuição por raça

Branco ou amarelo: 26%
Preto, pardo ou indígena: 74%

Distribuição por faixa etária

Até 29 anos: 18%
30-49 anos: 47%
50-60 anos: 24%
mais de 60 anos: 11%


Distribuição por grau de instrução

Sem instrução: 17%
Até fundamental: 60%
Até ensino médio: 21%
Até ensino superior: 2%


Renda média dos catadores para o Brasil e regiões.

2017 /2018

Média Brasil
982 / 969

Norte
1032 / 1009

Nordeste
796 / 769

Sudeste
1092 / 1096

Sul

1112 / 1043

Centro-Oeste
1132 / 1155

FONTE: Pnad IBGE 2017/2018 - Anuário da reciclagem 2017/2018

O que você achou desse conteúdo?