Desde o início da pandemia, 51.540 cearenses acima dos 60 anos foram diagnosticados com Covid-19. Do total, 7.221 morreram em decorrência da doença, resultando numa taxa de letalidade de 14% entre essa população. Considerando todas as faixas etárias no Estado, o indicador cai para 3,5%. Os idosos representam 78,33% dos óbitos em consequência do novo coronavírus no Ceará. Os dados são da plataforma IntegraSUS, atualizados às 9h31min de ontem, 20.
"No Ceará, não diferente do restante do Brasil nem do restante do mundo, a prevalência dos casos mais graves e dos óbitos realmente tem sido em idosos", aponta Melissa Medeiros, infectologista do Hospital São José. "Isso porque geralmente são os pacientes que têm mais comorbidades e uma resposta imunológica deficiente", expõe. Em Fortaleza, o cenário epidemiológico é parecido. Segundo boletim divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde na última sexta-feira, 16, 26% dos casos e 77% dos óbitos registrados na Capital foram entre idosos.
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
A médica explica que a curva de produção de anticorpos cai progressivamente a partir dos 50 anos. "Isso vai dificultar que a gente promova uma vacinação bem efetiva para os mais velhos e é mais uma razão para que tenham maior proteção."
Melissa lembra que o cuidado deve ser de toda a população. "Todo mundo convive com um idoso. Esse é um grande risco, pois as transmissões continuam ocorrendo", afirma. "Nas pessoas jovens, os sintomas têm sido mais leves ou inexistentes, mas convivendo com seus idosos elas podem estar transmitindo o vírus para alguém que terá um quadro muito mais grave."
Na última semana, o Observatório Covid-19 da Fiocruz publicou um boletim analisando os seis meses de pandemia no Brasil. De acordo com o documento, até o dia 6 de outubro, foram notificados 210.007 casos e 100.059 óbitos de pessoas de 60 anos ou mais no País. Os registros correspondem a 53,1% do total de casos e 75,2% dos óbitos. "Esses números significam uma redução de 0,41% da população idosa masculina e de 0,25% da população idosa feminina, trazendo como uma das consequências demográficas da pandemia a intensificação da tendência de feminização da população idosa brasileira", aponta o boletim.
Para Dalia Romero, coordenadora do Grupo de Informação em Saúde e Envelhecimento da Fiocruz, o maior risco de mortalidade está diretamente ligado a aspectos institucionais. "É comum dizer que o idoso é frágil, não é. Frágil é o sistema de saúde e o sistema econômico para dar um envelhecimento saudável e com o mínimo de segurança", afirma. Ela analisa que o cenário seria melhor caso houvesse uma atenção primária melhor estruturada e mais agentes de saúde visitando os idosos em casa.
A socióloga lembra ainda que idosos estão no mercado de trabalho e não tiveram a possibilidade de ficar em isolamento. "Temos uma pesquisa que indica que pelo menos 50% dos idosos estavam trabalhando antes da pandemia. Eles são o suporte econômico de muitas famílias e a morte significa um aumento de vulnerabilidades", explica. Outro ponto levantado por Dalia é o idadismo, ou seja, a discriminação pela idade.
"Existe um imaginário de que o idoso é descartável e isso minimiza sua morte", analisa. Enquanto isso, casos de depressão e o medo da morte crescem entre as pessoas com mais de 60 anos. "Não é o medo de morrer é o medo de como você morre com essa doença, que é muito agressiva e sozinha."
Os números da Covid-19 entre idosos
No Ceará, 51.540 pessoas acima dos 60 anos foram infectadas pelo novo coronavírus. Destas, a maioria são mulheres
Desde o início da pandemia, 7.221 idosos cearenses morreram em decorrência da Covid-19. Como nas demais faixas etárias, a maioria dos óbitos foi entre homens
Fonte: IntegraSUS. Atualizado às 9h31min de 20/10/2020
53,1% é o que representam os casos em idosos em relação a todos os casos confirmados no Brasil
Mais de 100 mil brasileiros com 60 anos ou mais morreram em decorrência do novo coronavírus. Os idosos são 75,2% dos óbitos causados pela Covid-19 no País
Estima-se que 4 em cada mil idosos e 2 em cada mil idosas morrerão pela Covid-19 no Brasil
Fonte: Fiocruz. Boletim Observatório Covid-19. Publicado em 16/10/2020