Logo O POVO+
Paleontólogo da UFRJ é alvo de operação da PF contra o tráfico de fósseis
CIDADES

Paleontólogo da UFRJ é alvo de operação da PF contra o tráfico de fósseis

Polícia Federal fez busca e apreensão em 19 endereços entre Santana do Cariri, Nova Olinda e no Rio de Janeiro. Três pessoas foram presas em flagrante
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
O trafico cientifico de fesseis da chapada do araripe (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta O trafico cientifico de fesseis da chapada do araripe

O suposto "tráfico de fósseis para fins científicos" voltou a entrar no radar da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal no Ceará. Ontem, a surpreendente Operação Santana Raptor chacoalhou o meio acadêmico e movimentou conversas em grupos de WhatsApp de paleontólogos e outros pesquisadores das universidades Regional do Cariri (Urca) e da Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

E não foi para menos. Enquanto os federais cumpriam 17 mandados de busca e apreensão entre Santana do Cariri e Nova Olinda, no Ceará, duas equipes diferentes de policiais ocupavam de súbito o gabinete de trabalho de um paleontólogo respeitado da UFRJ e a residência do pesquisador.

Com a ordem judicial na mão, a orientação do delegado Alan Robson Alexandrino - da Polícia Federal do Cariri cearense - era apreender computadores, celulares, anotações, documentos e fósseis.

A "lamentável incursão" da PF no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da UFRJ, como classificou a Decania do CCMN e a Reitoria da UFRJ em uma nota pública, é parte de uma investigação que suspeita do envolvimento do professor com um esquema de tráfico de fósseis do Geopark Araripe.

A Reitoria da universidade carioca fez questão de informar que "todos os fósseis sob a guarda da UFRJ" estariam "legalmente cadastrados, catalogados na instituição e notificados aos órgãos responsáveis".

Porém, nem o delegado Alan Robson nem o procurador da República Rafael Rayol estariam convencidos da origem legal de todos os fósseis da Chapada do Araripe encontrados ali. Sim, as pedras de 110 milhões de anos apreendidas na sala do paleontólogo podem até estar legalizadas.

A busca, no entanto, teria o objetivo de localizar, por exemplo, conversas de zap e e-mails que confirmem o suposto tráfico de fósseis engendrado entre o pesquisador, atravessadores, "peixeiros" (homens que escavam a região), e proprietários de pedreiras onde existem gigantescas jazidas de registros da época do dinossauros no Ceará.

Fac-símile de Páginas Azuis do O POVO de 2017
Fac-símile de Páginas Azuis do O POVO de 2017 (Foto: BD O POVO)

Em três anos de investigação, de 2017 para cá, Alan Robson e sua equipe teriam levantado "indícios e evidências" que colocariam o paleontólogo da UFRJ no protagonismo de uma rede de contrabando de fósseis, para fins científicos. Seria o professor, segundo a PF, um assíduo comprador de material raro encontrado nas minas da pedra Cariri. Com pagamentos mensais, de R$ 100 a R$ 10 mil, pelas descobertas.

"Esses fósseis têm como destino pesquisadores. Em específico, alguns pesquisadores das ciências ambientais e da geologia", afirmou o delegado.

Na operação de ontem, nem o pesquisador da UFRJ nem os empresários donos de pedreiras foram presos. Mas houve flagrante de três peixeiros ou atravessadores em Santana do Cariri e em Nova Olinda. Eles, segundo o delegado, estariam com fósseis em casa. Um deles, de acordo com procurador Carlos Rayol, era reincidente no tráfico de fósseis. Outro teria confessado que recebia dinheiro do pesquisador para selecionar as pedras.

"A segunda etapa da investigação é uma análise do material apreendido visando identificar os limites de participação e, especialmente, se o foco da extração dos fósseis se limitava à venda doméstica ou à venda para o exterior", afirmou Carlos Rayol.

Como ainda são investigados, os nomes do paleontólogo da UFRJ, dos empresários e dos presos em flagrante não foram revelados nem pelo procurador da República nem pelo delegado Alan Robson.

 

O que você achou desse conteúdo?