Em 15 de novembro de 1980, era inaugurado o Parque do Cocó próximo ao ramal férreo Parangaba-Mucuripe. Hoje conhecido como área Adahil Barreto do Parque Estadual do Cocó, o local foi viabilizado com investimentos municipais a partir de demandas e protestos de ambientalistas realizados em anos anteriores. Nas quatro décadas que se seguiram, houve avanços; entretanto, muito precisa ser feito.
"Nós fizemos um piquenique ecológico com o lema 'Visite o parque antes que ele se acabe', com muita gente e muitos artistas. Era uma pressão para que o prefeito não permitisse que o Banco do Nordeste construísse sua sede ali", lembra Flávio Torres de Araújo, um dos fundadores da Sociedade Cearense de Defesa do Meio Ambiente e da Cultura (Socema). Ele conta que, em 1977,a área do Cocó estava fixada em 35 hectares e definida como de utilidade pública, mas o prefeito Evandro Ayres pretendia mudar para área de preservação urbanística a fim de permutar parte dela com o banco. O grupo e o movimento SOS Cocó foram centrais para a criação do Parque.
Jeovah Meireles, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará, considera que "o parque Adahil Barreto ensinou uma lição que agora está sendo exigida" pelas demais áreas verdes de Fortaleza. "O que houve foi o processo de resiliência do ecossistema incorporado com a luta ambientalista e com a informação científica", aponta lembrando que conforme os anos passaram, mais se pesquisava nas universidades acerca do rio Cocó e os ecossistemas abrangidos.
O pesquisador lembra ainda que até início da década de 1990, funcionava a salina Diogo em parte da área que hoje é manguezal protegido no Parque. "Gradualmente, a natureza se reconstituiu e isso trouxe ganhos fundamentais para a Cidade", afirma. "Há diversos serviços ecológicos prestados pelo Cocó, como o controle de cheias, o reabastecimento de estuários e lençóis freáticos, o equilíbrio climático. Isso é cada vez mais urgente diante das mudanças globais e é preciso se colocar uma centralidade climática na gestão da Cidade e nas políticas públicas."
"O Parque tem três objetivos gerais: despoluir e preservar o rio Cocó; preservar a fauna e a flora locais; e disponibilizar equipamentos para a população usufruir da área verde, seja para pesquisa, seja para lazer", afirma o titular da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Artur Bruno. "Algo importante é desenvolver um sentimento de pertencimento da população em relação a área. Por isso, nas áreas em que é permitido, estamos construindo diversos equipamentos", completa. Enquanto Unidade de Conservação Integral, o Parque deve ser regido por um Plano de Manejo. Após três anos da criação da unidade, o documento está em fase final de aprovação pela pasta.
Quando sancionado, o documento será o manual de execução de ações ainda faltantes para garantir a conservação do Parque que passa por 15 bairros da Capital e abrange áreas de municípios vizinhos. Cinco programas devem ser implantados: de Uso Público; de Educação Ambiental; de Gestão Ambiental; de Gestão Institucional e o Programa de Monitoramento e Avaliação. "No próximo ano, vamos começar uma campanha intensa de educação ambiental com as comunidades que vivem em torno do Parque", garante o secretário.
Linha do tempo
Fim da década de 1970. Protestos e reivindicações ambientalistas buscam preservar 44 ha na margem esquerda do rio Cocó. A ações concentram-se contra a construção da sede do BNB
15 de novembro de 1980. O prefeito Lúcio Alcântara e o governador Virgílio Távora entregam a primeira fase do Parque do Cocó, uma área de 13 ha
1983. Decreto 5.754 denomina oficialmente o polo de lazer como Parque Adahil Barreto
1986. A prefeita Maria Luiza cria a Área de Proteção Ambiental (APA) do Vale do Rio Cocó
1989. O governador Tasso Jereissati, por meio do decreto 20.253, declara de interesse social para fins de desapropriação área que se estende da BR-116 até a região onde hoje está a avenida Sebastião de Abreu. A extensão se destina a implantar o Parque Ecológico do Cocó
1991. É inaugurada área do Parque que conta com anfiteatro, quadras esportivas, playground e banheiros públicos
1993. O decreto estadual 22.587, assinado por Ciro Gomes, estabelece o interesse social para fins de desapropriação da área que se estende da avenida Sebastião de Abreu à foz do rio Cocó. A poligonal é destinada à expansão do Parque
2008. Decreto do Estado cria um grupo de trabalho para elaborar o programa de revitalização do rio Cocó e promover a unidade de conservação do Parque do Cocó. Quando foi concluído, o estudo propôs a ampliação da poligonal para 1.312 ha
2009. É criada a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) das Dunas do Cocó
2014. Gestão do prefeito Roberto Cláudio determina ampliação do Parque Adahil Barreto. Pelo decreto 13.284, o espaço passa a ter 37,8 ha
2015. Compõe-se o Fórum Permanente pela Implantação do Parque do Cocó. Mais de 20 entidades reuniram-se periodicamente durante dois anos com o objetivo de pressionar e subsidiar o Estado no processo de criação da unidade
2016. Poligonal do Parque do Cocó é definida com 1.050 ha. O governador Camilo Santana marca assinatura do decreto de criação para junho
7 de junho de 2017. É publicado o decreto 32.248, que cria o Parque Estadual do Cocó. A poligonal fica com 1.571 ha e passa a ser Unidade de Conservação Integral
2018. Tomam posse os 24 integrantes do Conselho Gestor do Parque Estadual do Cocó
2018. É inaugurada a requalificação da Área Adahil Barreto, agora integrada ao Parque Estadual do Cocó. Gestão do espaço é cedida pela Prefeitura ao Estado por 20 anos
novembro de 2020. Redação final do Plano de Manejo do Parque do Cocó é aprovada, texto segue para revisão e publicação. Documento define o zoneamento e o uso da área de 1.580 ha