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CGD ainda apura morte de garoto de 12 anos em intervenção policial
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CGD ainda apura morte de garoto de 12 anos em intervenção policial

Nessa quarta-feira, 2, pai da criança foi denunciado pelo homicídio que desencadeou a ação policial
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CARRO em que Kauã estava foi metralhado, quando seu pai tentava fugir; outras três pessoas ficaram feridas (Foto: VIA WHATSAPP)
Foto: VIA WHATSAPP CARRO em que Kauã estava foi metralhado, quando seu pai tentava fugir; outras três pessoas ficaram feridas

Quase três meses depois, ainda são investigadas as circunstâncias da morte de Kauã Viana Sales, de 12 anos, ocorrida após intervenção policial, em 11 de setembro último, no bairro Nova Metrópole, Caucaia. O caso ocorreu após uma briga de vizinhos, em que o pai de Kauã, Wandiney Sales Matos, matou a tiros Herlando Andrade da Silva, 44 anos. Em seguida, após a Polícia ser acionada e cercar a casa de Wandiney, ele tentou fugir de carro com a família, que foi alvo de disparos. Quatro pessoas foram feridas e Kauã não sobreviveu.

Ontem, Wandiney foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPCE) por homicídio simples e porte ilegal de arma de uso permitido. Na denúncia, o MPCE afirma haver indícios de que o ato ocorreu em legítima defesa, mas também há "probabilidade alta" de que Wandiney tenha agido em excesso, "fatores que hão de ser aprofundados na instrução".

Conforme narrado na peça acusatória, a vítima bebia em casa, localizada em frente à casa do acusado, junto com amigos, incluindo um parente com quem Wandiney possuía uma rixa. Em determinado momento, o grupo passou a insultar os moradores da casa de Wandiney, chegando até a jogar pedras na casa. A confusão evoluiu até Herlando invadir o terreno da casa com uma barra de ferro, com a qual passou a danificar a porta da residência.

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"Quando (Herlando) estava na iminência de conseguir quebrá-la para ter acesso ao interior da residência, o delatado, assustado, buscou uma espingarda que guardava em um dos armários e efetuou dois disparos contra a vítima, que foi a óbito ainda no local".

A morte de Kauã é investigada em inquérito à parte, conduzido pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina (CGD). Conforme relatório da DAI, após Herlando ser baleado, familiares foram até a delegacia do bairro pedir ajuda. Policiais do 23º Distrito Policial, em viatura descaracterizada, foram até o local, verbalizando para que Wandiney deixasse a casa.

Logo depois, diversas viaturas da Polícia Militar chegaram. O cerco teria durado entre 15 e 20 minutos. Wandiney teria saído no carro — onde, além de Kauã, estavam a esposa, sua filha de dois anos e a mãe dele — derrubando o portão da casa e colidindo na viatura da Polícia Civil. O carro foi metralhado. A Perícia contabilizou, entre outros, pelo menos, 19 perfurações no para-brisa dianteiro, 4 no vidro da porta traseira esquerda e 4 no capô, todas com trajetória de fora para dentro.

Até 19 de outubro, quando o inquérito foi remetido à Justiça, seis policiais haviam sido submetidos a exame residuográfico, sendo que cinco não tiveram vestígios de chumbo detectado e um teve detectado na mão esquerda. Nos laudos, porém, a Perícia ressalta que os exames não podem ser considerados provas "definitivas" por limitações como o método não diferenciar se o resíduo é resultado de uso de arma ou de atividade profissional envolvendo chumbo ou então atraso na coleta.

A DAI pediu à Justiça prorrogação do prazo para término da investigação. Em 20 de outubro, a Justiça determinou que o MPCE se manifestasse sobre o pedido, o que ainda não ocorreu. Em nota, o órgão afirma que apreciação demanda também análise do inquérito sobre a morte de Herlando. "Em que pese a tendência de a Promotoria concordar com o pleito policial, a complexidade do caso reclama mais tempo para uma análise responsável e mais ampla", diz nota do MPCE, que ainda acrescenta que a 1ª Promotoria de Justiça de Caucaia foi também promotoria eleitoral, impactando nos trabalhos da esfera criminal. "A previsão é que a manifestação conclusiva do MP seja lançada nos autos nos próximos dias, antes do recesso forense".

 

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