Atualizada em 04/12/2020 às 16h14min
Diversas casas localizadas na rua Morro Branco, no bairro Barra do Ceará, em Fortaleza, estão com a estrutura comprometida, com rachaduras nas paredes e piso cedendo. Alguns moradores abandonaram as residências, prédios foram interditados e outros já ruíram, mas ainda há quem permaneça ocupando os imóveis mesmo sob o risco iminente de desabamento. Não é possível estimar a quantidade de construção afetadas.
O problema atinge área onde até 1965 funcionava o antigo Lixão da Barra. O perímetro pode chegar a 1 quilômetro quadrado. O bairro é um dos mais adensados de Fortaleza, e está localizado na Regional I - a área mais populosa do município. Conforme o Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), aproximadamente 44,5 mil pessoas vivem por km² na Barra do Ceará.
Donos há mais de 30 anos de um prédio na rua Morro Branco, Sebastiana Alencar e Reiner Collmann, ex-marinheiro vindo da Alemanha, tiveram que deixar o local ainda em 2014 quando o espaço foi interditado pela Regional I. À época, engenheiro da Prefeitura descreveu a situação da seguinte forma: "edificação apresentando rachaduras com risco iminente de desabamento, colocando em risco e prejuízo à segurança, sossego e comodidade de moradores e vizinhos".
Desde então, o casal esbarra na burocracia para conseguir um alvará de demolição do imóvel. É que o terreno ocupado pertence oficialmente ao Estado, dado pela União durante o período de ditadura militar no Brasil.
"Todo o planalto Goiabeiras (como é conhecido a região) está em cima do lixão. A briga começou desde 1997 com a Cohab (Companhia de Habitação do Estado do Ceará). O piso do meu prédio está 30 cm para baixo. O quintal já cedeu pouco mais de 1 metro. Não foi possível legalizar a propriedade por motivos desconhecidos", lamenta Reiner, 80 anos. Ele estima em R$ 100 mil os gastos necessários para demolir corretamente a estrutura.
O casal afirma que a preocupação é de que o prédio desabe, atinja pessoas e prejudique ainda mais a situação do entorno. A menos de 50 metros do local funciona uma escola. "Todas as casas têm rachaduras. Quando começaram, fomos atrás. Nos colocaram para fora e não resolveram nada", diz Reiner. "Se esse prédio cair, vai cair em cima dos vizinhos. Depois, a culpa virá para cima da gente", pontua Sebastiana. "Pensaram que era só a nossa casa. Mas não é", complementa o esposo.
Ao lado da casa de Sebastiana e Reiner, uma residência já foi abandonada porque os moradores temem o desabamento. Mesmo quem decide permanecer no local convive diariamente com a necessidade de intervir na estrutura e reforçar a segurança. A situação se complica porque os ferros usados na sustentação das paredes são corroídos pela maresia.
"Todo os anos a gente manda consertar várias vezes as rachaduras, mas continua do mesmo jeito, racha no mesmo lugar sempre. Infelizmente, não temos como sair daqui e ir a outro lugar. Primeiro que a gente não tem condições. Pensamos que seja preciso um acordo entre as partes para que possamos sair daqui, mas não perder a nossa residência", diz uma moradora da área que pediu para não ser identificada.
Vivendo com os filhos, a irmã e a mãe em um duplex, ela explica que o medo aumenta com a proximidade da quadra chuvosa.
"A gente ora a Deus para que o pior não aconteça. Por que pra onde é que a gente vai? Quem é que vai nos auxiliar? A gente ainda está mudando uma parede e outra, mas com aquele receio. Eu já moro aqui tem 32 anos. Fui uma das primeiras a chegar. Quando cavamos um buraco no quintal, encontramos lixo hospitalar", comenta outra senhora enquanto observa pedreiros reforçando a estrutura da casa.
Em nota, A Defesa Civil de Fortaleza informa que atendeu a três ocorrências na Rua Morro Branco. "As casas de número 100 e 112 estavam fechadas e não foi possível entrar para verificar a situação", detalha a nota enviada ao OPOVO. Conforme o órgão, o próximo passo é identificar e localizar os proprietários para que os agentes possam entrar nas casas. "Já no número 118 os agentes identificaram risco de desabamento e o proprietário já foi notificado."
Em caso de risco, a Defesa Civil de Fortaleza deve ser acionada via Ciops, através do fone 190. As equipes trabalham em regime de plantão, 24h, para atender as ocorrências demandadas pela população