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Moradores deixam casas no Benfica após episódios recorrentes de violência
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Moradores deixam casas no Benfica após episódios recorrentes de violência

|ÊXODO| Relatos de quem mora no local há décadas é de que o êxodo de moradores tornou-se mais intenso nos últimos anos com aumento da criminalidade
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Praça da Gentilândia será um dos locais a receber intensificação  (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Praça da Gentilândia será um dos locais a receber intensificação

Morar no Benfica, em Fortaleza, tornou-se insustentável para muitos residentes da região. Quem anda pelo bairro encontra com facilidade placas de vende-se ou aluga-se espalhadas tanto em casas mais antigas como nos edifícios construídos há menos tempo. A queixa de êxodo parte dos moradores mais antigos, principalmente. Gente que chegou há 60 anos, 70 anos e que viu a região se desenvolver.

Bairro boêmio de Fortaleza, o Benfica concentra universidades, escolas, restaurantes, bares, e atrai jovens de todas as partes da Capital. Aos fins de semana, com a pandemia da Covid-19, é recorrente abordagens da polícia em festas clandestinas. Com mais uma tentativa de chacina, na última terça-feira, 12, onde seis pessoas ficaram feridas em um ataque a tiros, o temor é de que o êxodo se intensifique ainda mais.

Na manhã seguinte à ocorrência, o Bar e Restaurante Martins, onde ocorreu o tiroteio, estava fechado. Porém, pontos comerciais no entorno, como restaurantes, frigoríficos, salões e bares, funcionavam normalmente. Era intenso o fluxo de policiais nas vias próximas. Homens da Polícia Militar do e Batalhão do Raio circulavam em motos e carros.

Numa roda com quatro senhores, a indignação era a mesma: muita gente está saindo da região por conta dos episódios de insegurança registrados no local.

Sales Lima, 72, trabalha na região e contou as dificuldades. "Era um bairro nobre, foi-se o tempo. Muita droga. Está espantando as pessoas de bem." O idoso lembra ainda da Chacina do Benfica, que ocorreu em 8 de março de 2018, como motivo para muita gente ter deixado o bairro. Segundo ele, a debandada ocorre principalmente em casas próximas às praças.

Um outro homem que participava da conversa, mas que preferiu não se identificar, vive na Vila Demétrio, próximo à Sede da TUF, onde pessoas foram mortas no episódio de 2018, diz que há muitas casas e apartamentos vagos desde então. Segundo ele, há uma vila próxima da área que tem nove casas. Dessas, oito estão disponíveis.

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Uma senhora que vive há 62 anos no bairro lamenta a situação. "Muita gente já foi embora daqui. O Benfica não é mais como no passado não. Agora, pelo menos na minha rua, do povo de antigamente, se tiver cinco pessoas do tempo que eu cheguei aqui tem muito. O resto tudo é gente de fora."

A mulher lembra que, antigamente, populares se juntavam na calçada à tarde para conversar e permaneciam até meia-noite com a prosa. Nos últimos meses, os residentes subiram os muros, reforçaram a segurança e não saíram mais de casa. "Agora, na pandemia, as casas estavam todas fechadas", comenta.

Na manhã dessa quarta-feira, 13, em conversa com O POVO, o tenente coronel da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Kilderlan Souza, reiterou o trabalho realizado para manutenção da ordem na região. "O policiamento aqui se mantém, não somente especificamente na Gentilândia, mas também em todo seu entorno. É uma área com uma agregação boêmia, dos estudantes e pessoas que habitam no entorno, e a Polícia Militar faz seus esforços para atender a todos", garante.

Nas redes sociais, o The Lights Bar lamentou o episódio de terça-feira. O perfil do empreendimento considera que o Poder Público trata com descaso os problemas estruturais do bairro. "Por enquanto o The lights continua aqui, funcionando do jeito que pode, torcendo para que tudo melhore e futuramente a gente consiga se estabelecer em algum outro lugar ou por aqui mesmo, mas com mais segurança e apoio."

 

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