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Nova cepa de Manaus pode ter chegado ao Ceará
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Nova cepa de Manaus pode ter chegado ao Ceará

| Coronavírus | Profissionais de saúde e gestores de hospitais públicos e particulares relatam mudanças no perfil de novos pacientes e gravidade dos casos
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VELOCIDADE E GRAVIDADE das internações chamam atenção de especialistas
 (Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO VELOCIDADE E GRAVIDADE das internações chamam atenção de especialistas

A velocidade e a gravidade da evolução da Covid-19 em pacientes que buscam os prontos-socorros em Manaus têm chamado a atenção dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente em Fortaleza. O POVO obteve informações de que pelo menos quatro hospitais em Fortaleza possuem casos de Covid-19 diferentes dos encontrados no começo da pandemia, quando o grupo de maior risco era formado por idosos e portadores de algumas doenças.

"O que a gente tem observado é uma mudança no padrão dos pacientes que estão sendo internados, especialmente aqueles que precisam ir para a UTI. No início da pandemia, a maioria dos pacientes tinha acima de 60 anos. Hoje, dos pacientes que tenho no hospital, 55% têm movi-19enos de 60 anos. Se contarmos os que estão na UTI, 71% são de 20, 30 e 40 anos, e eles estão evoluindo para casos graves da doença", destacou a médica Fernanda Colares, diretora geral do Hospital Unimed, em vídeo gravado no dia 13 de janeiro deste ano.

O mesmo perfil de pacientes foi identificado no Amazonas e em outros estados. No entanto, em virtude da baixa quantidade de testes genéticos feito no País, ainda não há confirmação oficial de que a variante tenha se espalhado. No dia 21 deste mês, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) afirmou que estava encaminhando amostras para a Fiocruz verificar a presença da nova linhagem.

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De acordo com Lígia Kerr, pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), há vários indícios da presença de pacientes infectados com a mutação no estado.

"A impressão é de que está havendo agravamento de quadro [sintomático] em pacientes jovens, em curto espaço de tempo. Não se sabe ainda se o observado aqui é devido à nova cepa ou às festas de final de ano, mas uma certeza é que essa nova linhagem do coronavírus já está se espalhando pelo País".

Pesquisas indicam que a mutação aumentou a capacidade do vírus invadir as células humanas, aumentando também a transmissibilidade. "Em dezembro, 30% dos casos em Manaus era da nova cepa. Hoje já são 90%. É essencial que o Ceará faça uma vigilância molecular para acompanhar o comportamento dessas variantes", recomenda.

O Hapvida informou em nota que "nos últimos dias, foi identificado um discreto aumento na procura por atendimento de emergência com quadro de síndromes gripais".

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A Unimed Fortaleza disse, também em nota, que "ainda não é possível afirmar que os pacientes atendidos pela rede estejam contaminados com a variante do coronavírus de Manaus. A cooperativa afirma ainda não ter como atribuir então que o aumento mais acelerado de atendimentos nas emergências e internações, que vem sendo observado desde o começo do mês de janeiro, seja decorrente dessa outra cepa do vírus".

Contatadas pela reportagem, as secretarias de saúde de Fortaleza e do estado não responderam sobre a presença de casos da nova linhagem nos hospitais da rede.

 

Como ocorre o sequenciamento genético de um vírus

O sequenciamento do genoma de um vírus permite identificar suas características, como age e de qual região veio. Apesar de já haver mais de 800 variantes do novo coronavírus catalogadas pelos cientistas, apenas três (até o momento) os preocupam: a britânica, a sul-africana e a encontrada em Manaus. O processo de sequenciamento é sofisticado e caro, pois utiliza reagentes importados e equipamentos de ponta. A Fiocruz Rio, o Instituto Adolpho Lutz, em São Paulo e o Instituto Evandro Chagas, no Pará, são os laboratórios brasileiros de referência.

Coleta da amostra

Ela é feita através de swabs em contato com a região nasal ou saliva, como no RT-PCR;

Extração do material genético

Nessa etapa é feito o processo de obtenção do material genético do vírus, o RNA, com a utilização de reagentes;

Amplificação do material genético

Os especialistas recorrem a enzimas para transformar o RNA do vírus em DNA complementar, também chamado de cDNA. Trata-se de uma fita de DNA obtida no momento da transcrição das informações genéticas;

Sequenciamento do DNA

Neste momento é determinada a sequência de letras que, encadeadas uma depois da outra, compõe o genoma completo do vírus;

Análise dos dados

A comparação é feita a partir do genoma do vírus encontrado em Wuhan, na China. A análise de dados é realizada por um algoritmo de inteligência artificial, que aponta em qual parte da sequência ocorreu a mutação

Fonte: Hospital Albert Einstein

 

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