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Especialistas já trabalhavam com cenário da variante de Manaus circulando no Estado
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Especialistas já trabalhavam com cenário da variante de Manaus circulando no Estado

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Testes clínicos da Covid-19 (Foto: Mauricio Vieira/Secom-SC)
Foto: Mauricio Vieira/Secom-SC Testes clínicos da Covid-19

Antes mesmo da comprovação por meio de exames de que a variante P.1 do coronavírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19, está em circulação no Ceará, profissionais da área já viam indícios de que ela tinha chegado ao Estado. Identificada pela primeira vez em Manaus (AM), em uma amostra coletada em 4 de dezembro de 2020, ela é apontada como já está presente em oito países, segundo informe epidemiológico da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela é apontada como um dos motivos para o aumento de casos de Covid-19 em Manaus, onde chegou a faltar oxigênio para pacientes em estágios mais graves da doença.

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Pela maior transmissibilidade da variante, a médica Lígia Kerr, pós-doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que ela esteja "em praticamente todos os estados do Brasil". Em um mês, a variante P.1 tornou-se predominante em Manaus. Em dezembro, ela estava em 51% das 55 amostras analisadas. Em janeiro, até o dia 13, ela havia aparecido em 91% dos 35 genomas sequenciados.

A médica apontou ao O POVO a capacidade da variante de "passar por cima" da imunidade de quem já teve a doença anteriormente. Assim, casos de reinfecção, aumento da taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e mudança da faixa etária atingida, com a maior contaminação de jovens, são pontos indicados pela médica, em relação ao cenário estadual.

"E casos mais graves, porque ela realmente tem uma capacidade maior de entrar nas nossas células", acrescenta Lígia Kerr. "A mutação que ocorreu na espícula do vírus, a parte com que ele se liga na nossa célula para entrar, tornou um passo muito fácil pra ele. E, por questões de sobrevivência, de 'quem se disseminar mais ganha', essa cepa tá ganhando."

O infectologista Anastácio Queiroz também via no aumento da transmissão do vírus observado nos últimos meses o indicativo prévio da presença da variante P.1 uma vez que ela tem maior capacidade de multiplicação do vírus. "Inclusive, nas casas, (são) famílias inteiras adoecendo: é o pai, a mãe, o irmão."

Com a confirmação da variante P.1 em circulação, os especialistas apontam que as medidas de prevenção continuam sendo as mesmas já recomendadas: uso constante de máscara e distanciamento social. As orientações incluem uso de álcool gel 70%, quando não for possível lavar as mãos com água e sabão.

Pesquisa na UFC

Após receberem insumos para trabalhar com sequenciamento genético, pesquisadores da Central de Genômica e Bioinformática do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC deram início à análise de amostras coletadas de julho a dezembro de 2020. Com isso, o grupo percebeu que, pelo menos desde julho, há circulação da mutação D614G do Sars-Cov-2 no Estado. Ela está associada à linhagem B.1 do coronavírus, que atualmente domina a pandemia.

Os pesquisadores acreditam que a variante de Manaus, entre outras, pode estar circulando entre a população. "Resolvemos fazer isso (o primeiro sequenciamento) porque era mais rápido, mas já estamos nos preparando, fazendo todo o controle de qualidade, para fazer o sequenciamento total e ver o que está acontecendo", afirma Raquel Montenegro, professora da Faculdade de Medicina (Famed) da UFC e membro do NPDM.

A professora destaca que o trabalho foi possível por conta de um financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Para o segundo sequenciamento, serão selecionadas amostras de diferentes meses para monitoramento das possíveis variantes. Os resultados devem ser encontrados em cerca de um mês. "Nós temos expertise e equipamentos. Tendo o dinheiro para comprar os insumos, acho que não tem por que não fazer essa vigilância genômica no Estado", afirma.

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