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Ceará não está caminhando para flexibilização do isolamento rígido, afirma secretário da Saúde
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Ceará não está caminhando para flexibilização do isolamento rígido, afirma secretário da Saúde

O secretário estadual da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, destaca que os atuais indicadores da pandemia apontam para um cenário mais crítico do que o enfrentado nos meses de pico em 2020
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Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, secretário da Saúde do Ceará (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, secretário da Saúde do Ceará

Com mais 430 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus mais de 11 mil cearenses mortos em decorrência da Covid-19, o Ceará não está caminhando para a flexibilização das medidas de isolamento rígido. Conforme o secretário estadual da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, os atuais indicadores da pandemia apontam para um cenário mais crítico do que o enfrentado nos meses de pico em 2020.

"Considero que estamos vivendo uma situação pior do que abril e maio passados, por vários motivos. Primeiro porque o número de pacientes internados já é próximo do que a gente teve no pico", explica o secretário em entrevista exclusiva ao O POVO nesta segunda-feira, 1º. "Segundo porque hoje os doentes crônicos também estão nos hospitais; naquela época, tomamos a decisão de esvaziar os hospitais para deixar preparados para Covid-19 e o isolamento rígido fez reduzir todos os outros indicadores, permitindo a todo mundo trabalhar para atender só um tipo de doença. Hoje estamos atendendo os dois ao mesmo tempo e estamos com um volume, que a meu ser, vai ser maior.", continua.

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Dr. Cabeto aponta também que o número de pessoas jovens contaminadas aumentou consideravelmente, "o que reduz a mortalidade, mas faz com que o tempo de internação fique longo e aumenta a sobrecarga do sistema". "A meu ver, vamos enfrentar uma situação muito mais grave, afora se a sociedade colaborar", enfatiza. Além disso, outro fator que pesa é a contaminação simultânea, tanto considerando os bairros de Fortaleza, quanto as cidade do Interior ao mesmo tempo. "Em 2020, foi Fortaleza, depois Sobral, depois o Crato e aí por diante. Isso permitia um deslocamento de pacientes de uma região para outra. Isso não vai ser possível na mesma intensidade", lembra.

Diante disso, ele é categórico ao afirmar que o Ceará não está caminhando para liberação do isolamento social rígido ou do toque de recolher estabelecidos por decreto. "Na medida em que os números pioram, e eles vêm piorando, nós temos aprofundado essas medidas. A discussão sobre fazer uma forma mais restritiva ou não, depende do índice de criticidade", explica o secretário, que também ontem foi entrevistado no programa O POVO no rádio, por Maísa Vasconcelos e Farias Júnior, na rádio O POVO CBN, em rede com a CBN Cariri.

Dr. Cabeto em entrevista na manhã desta segunda-feira, 1º de março. Titular da Sesa comentou sobre segunda onda de casos de Covid-19
Dr. Cabeto em entrevista na manhã desta segunda-feira, 1º de março. Titular da Sesa comentou sobre segunda onda de casos de Covid-19 (Foto: Thais Mesquita)

Periodicamente, os índices da pandemia são avaliados e, na próxima semana, será possível avaliar os primeiros resultados das restrições. "Se essas curvas (de casos e óbitos) se aplainarem, manteremos as medidas como estão. Se as curvas piorarem, essas medidas são aprofundadas. Do mesmo jeito que a gente fez na flexibilização", compara ao processo paulatino de liberação das atividades. "Agora nós estamos retrocedendo e é preciso as pessoas entenderem que é necessário fazer esse sacrifício. Não existe economia sem uma pandemia controlada."

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"Não é uma solução fácil, mas conforme estamos fazendo tem se mostrado acertada. Se você olhar em volta, estados vizinhos têm adotado medidas semelhantes após termos adotado", analisa. Apesar de não ter determinado o fechamento total das atividades econômicas e sociais, a Secretaria vem apoiando o lockdowns em alguns municípios cearenses. Meruoca, Santa Quitéria e Mombaça já anunciaram medidas do tipo. "Municípios com maior percentual de população de idosos, sem unidade de saúde com capacidade de atendimento mais complexo ou sem saúde primária bem estruturada têm de ficar mais atentos e ter medidas mais restritivas", defende o titular da pasta. 

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"A lógica de medidas como o toque de recolher é reduzir ao máximo a circulação viral. As grandes aglomerações, principalmente as clandestinas, acontecem no período noturno e foram essas aglomerações que ampliaram os surtos de Covid-19 no Ceará", expõe. "Tem que diga que o Estado afrouxou em outubro, mas os decretos nunca permitiram aglomerações. Entretanto, decreto nenhum consegue ser cumprido se a população e as autoridades não colaborarem", aponta. (Colaborou Érico Firmo)

Assista ao segundo episódio da série vídeo "Atravessando a pandemia": 

 


Capacidade de internação em UTIs no Ceará já está no limite

Apesar da ampliação da oferta de leitos de internação no Ceará, a capacidade de resposta do sistema está no limite. Com isso, tempo de espera dos pacientes para conseguir vagas de internação já chega a 12 horas. Conforme o secretário da Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, para driblar o problema, o Ceará está modificando a metodologia de trabalho dentro das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para garantir assistência adequada aos pacientes que aguardam leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

"De janeiro para fevereiro, houve grande acréscimo (de casos) e um terço dos pacientes atendidos precisando internar. Se nós não reduzirmos isso, a capacidade de responder ao sistema se esgota. Em quanto tempo? Já está no limite", explica. Como está próximo da saturação, o sistema fica mais lento e os pacientes têm maior dificuldade de transferência.

"Os hospitais privados já estão assim. Na rede pública também. Já existe um número de pacientes que precisa aguardar mais tempo para internar. O tempo era de poucas horas e isso já passou para pouco mais de 12horas", alerta.

Ele detalha que foi iniciada a construção de 80 leitos de UTI em estruturas anexas às UPAs. "Montamos uma estrutura na UPA da Messejana e na UPA da Praia do Futuro, onde vamos ter em cada uma delas 40 leitos de UTI. Para que esses pacientes que estão demorando mais tempo para ser transferidos sejam tratados como se estivessem em um hospital", relaciona.

Segundo o médico, as UPAs passarão a contar com médico intensivista, maior número de enfermeiras e fisioterapeutas especialistas, inclusive, no uso do elmo. "Isso vai acontecer em todas as UPAs do Estado. Inicialmente de Fortaleza, depois em todos do município. Isso vai propiciar uma solução caso a gente não consiga transferir e seja saturado", acrescenta.

O Estado ultrapassou a marca de 3 mil leitos para atendimento Covid-19, entre enfermaria e UTI. São 2.297 mil leitos de enfermaria, com previsão de expansão até a marca de 2.600 no mês de março. O número de UTIs deve saltar de 824 para 1.074 leitos. (Ana Rute Ramires)

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