A Polícia Civil do Ceará (PC-CE) prendeu no último sábado, 9, um chefe de facção criminosa apontado como mandante da chacina do Boqueirão de Araras, distrito de Caucaia, que resultou na morte de cinco pessoas no último dia 31 de julho. Domingos Costa Miranda, 38, teria articulado a ação com outros cinco suspeitos, que já foram presos pela Polícia. Em depoimentos, eles confessaram a participação no crime e alegaram que os assassinatos foram planejados por Miranda, que segundo duas das testemunhas, assumiu o comando de um grupo criminoso na cidade após a prisão do então chefe do bando.
Os mesmos depoentes ainda afirmaram que os cinco homens mortos na chacina pertenciam a um grupo criminoso rival. Segundo eles, as vítimas eram dissidentes da facção liderada por Miranda e ameaçavam assassinar os integrantes do bando adversário. Os dois grupos disputam o controle do tráfico de drogas em diversos bairros da periferia do Município.
O POVO teve acesso ao inquérito policial que investiga o caso. No documento, de 175 páginas, dois participantes do crime - entre eles um adolescente de idade não revelada - relatam que a chacina não foi um fato isolado. Segundo eles, “diversos homicídios estão ocorrendo em Caucaia” por causa da disputa entre duas facções pelo controle do comércio ilegal de entorpecentes.
Os interrogados ainda afirmaram que as mortes são ordenadas pelos chefes dos grupos, que mesmo presos continuam exercendo controle sobre os demais membros das facções. “As ordens [para assassinatos] são emanadas pelas chefias desses dois grupos criminosos, de dentro do sistema prisional cearense, onde eles determinaram aos seus subordinados que matassem qualquer um da organização criminosa rival, com o fim de se manter no controle da área”, detalha trecho do inquérito. Miranda, segundo os depoentes, é “braço direito” de um desses chefes de facção preso.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) anunciou que mais detalhes sobre as investigações serão revelados nesta terça-feira, 10, em coletiva de imprensa na sede da instituição.
Apontado como possível mentor intelectual da chacina do Boqueirão, Domingos Costa Miranda já havia sido denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), no último dia 3 de agosto, por tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa. Miranda foi acusado com outras quatro pessoas que estariam pleiteando, junto aos chefes das facções presos, o controle da venda de drogas nos bairros São Miguel I, São Miguel II e Beco do Fumaça, regiões periféricas de Caucaia.
Segundo o MP, havia um conflito entre ele e a ex-companheira do comandante do bando (preso), que reivindicava para si o domínio do comércio de entorpecentes e armas de fogo. O controle, até então, pertencia a Miranda, que segundo o MP, resistia em passar o domínio das atividades ilícitas para a mulher.
As suspeitas foram confirmadas por meio de conversas em aplicativos de mensagens encontradas pelo MP no celular da mulher. O aparelho foi apreendido no dia 7 de abril último, durante Operação Guilhotina, que cumpriu mandados de busca e apreensão contra integrantes de organizações criminosas do Ceará. O material recolhido foi analisado pelo Núcleo de Inteligência da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (NUIP/DRACO), que apresentou o relatório técnico utilizado pelo MP na denúncia.
O POVO também teve acesso ao documento na íntegra. Os seis promotores responsáveis pela peça acusatória finalizam as argumentações dizendo que “há evidências suficientes de autoria e materialidade delitivas relativamente aos denunciados”. Ainda ressaltaram que a facção à qual pertencem Miranda e a mulher “pratica seus crimes mediante o uso de armas de fogo e com integrantes adolescentes, sobretudo para o cometimento de crimes de homicídios e roubos, dentre outros, como o tráfico de entorpecentes[...]”.