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"Mães da Periferia" completa um ano de luta contra violência policial
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"Mães da Periferia" completa um ano de luta contra violência policial

|JUSTIÇA E MEMÓRIA| Coletivo reúne familiares de mortos e feridos por policiais. Nenhum delas viu condenação ainda
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 Edna Carla Souza Cavalcante,46, militante e mãe do Álef de Souza Cavalcante, uma das vítimas morta na chacina da Grande Messejana (Foto:  Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes Edna Carla Souza Cavalcante,46, militante e mãe do Álef de Souza Cavalcante, uma das vítimas morta na chacina da Grande Messejana

Transformei meu luto em luta. A máxima não é só frase de efeito para as mães das vítimas da Chacina da Grande Messejana, que deixou 11 mortos em 2015. O ativismo por justiça e memória que se iniciou ali rendeu frutos e, em 2020, gerou o Mães da Periferia, que estende o alcance da iniciativa a famílias de outras vítimas de violência policial. Nesta segunda-feira, 20, o grupo completou um ano, data marcada por uma confraternização para as mães no Projeto 4 Varas, no bairro Barra do Ceará.

As 12 mães que compõem o grupo tiveram um dia de atividades de recreação e autocuidado, assim como amigos ocultos e entregas de cestas básicas. Uma bazar ainda foi realizado, em que o dinheiro arrecadado foi revertido para as mães. Com atividades como essa, o grupo tem sido um espaço de acolhimento e fortalecimento mútuo para as mães. 

"Foi um ano de muita batalha e reconhecimento da nossa luta. A nossa bandeira é por memória e Justiça, que é para os casos não ficarem impunes", diz Edna Carla Cavalcante, uma das idealizadoras do grupo e mãe de Álef de Souza Cavalcante, morto aos 17 anos na Chacina da Grande Messejana. "A Polícia mata esses jovens e diz que eles estavam com arma na mão. Dizem 'matei, pois achei parecido com alguém'. Mentira! E não importa se eram culpados ou não. A Polícia não é paga para matar", ela completa.

Nenhuma das mães que compõem o grupo viu o caso de seus filhos ter condenação judicial. No caso da Chacina da Messejana, o processo ainda aguarda julgamento. São 33 os policiais militares pronunciados para ir a julgamento. "É uma Justiça lerda, lenta, cega. E se a gente se calar ai é que todos estão impunes", critica Edna.

Leia também: Chacina do Curió: Justiça obriga Estado a dar assistência psicológica às mães das vítimas

Há ainda mães que não viram sequer a investigação ser concluída, como é o caso de Tânia de Brito Ferreira, mãe de Juan Ferreira dos Santos, morto aos 14 anos, em 2019, após um policial atirar durante uma festa no Morro Santa Terezinha. Mais de dois anos depois, o inquérito segue em andamento. Para Tânia, momentos como esse são importantes para "tirar a tensão" de quem "vive sempre tão angustiada, tão cansada de tanto sofrimento". "É muito importante porque a gente, por alguns instantes, consegue sorrir, escutar o outro, sair de casa", diz Tânia.

Leia também : Mães fazem campanha nacional por justiça aos filhos mortos pelo Estado

"Eu tiro por mim: quando a gente perde um filho, a gente não consegue ser mais a mesma de antes. Ao mesmo tempo que a gente está sofrendo, a gente também está ajudando alguém, uma outra mãe, uma outra família. Eu estava muito angustiada pela questão do fim de ano chegando e estar faltando o meu filho. É o terceiro (fim de) ano sem o meu filho e a saudade é a mesma, o sofrimento é o mesmo, mas a gente consegue sorrir um pouquinho".

Já no caso de Ingrid Mayara Oliveira Lima, de 19 anos, e Igor Andrade, de 16, mortos em 2013 durante uma abordagem policial após um pré-carnaval no bairro Ellery, não cabem mais recursos após a absolvição dos policiais acusados. Sandra Sales, mãe de Ingrid Mayara, porém, segue lutando por uma indenização do Estado. Ela convive com as sequelas psiquiátricas da perda, assim como tem de cuidar da filha de Ingrid, hoje com 10 anos. Assim como Tânia, Sandra diz que a atividade é uma forma de esquecer um pouco a angústia. "No momento em que você perde um filho, você perde uma parte da sua vida, do seu viver, do que você já viveu, do que vai ainda viver. Muitas de nós, como eu, chegam a querer deixar de viver, interagir com outras pessoas e ela (Edna) nos chama para viver".

 No mesmo sentido fala Erilene Sousa, mãe de Wesley de Souza Silva, morto em fevereiro último aos 17 anos. "Foi muito bom e gratificante. Apesar da dor da perda dos nossos filhos, a gente pode relaxar um pouco e até rir de algumas brincadeiras. Foi um encontro maravilhoso por poder conhecer todas as mães do grupo (pessoalmente) também como as nossas queridas psicólogas que estiveram com a gente na hora em que mais precisamos". (Com informações de Jéssika Sisnando)

 

Os casos lembrados

Algumas das vítimas-bandeira das Mães da Periferia são:

Ingrid Mayara Oliveira Lima e Igor Andrade, mortos em 26/01/2013

Francisco Ricardo Costa de Souza, "Tico", morto em 13/02/2014

João Paulo de Sousa Rodrigues, visto pela última vez em 30/09/2015

Vítimas da Chacina da Grande Messejana em 12/11/2015

Weverton Mesquita, morto em 28/11/2017

Wesley Miguel Fernandes Muniz, morto em 22/01/2019

Juan Ferreira dos Santos, morto em 13/09/2019

Mizael Fernandes da Silva Lima, morto em 1/07/2020

Wesley Sousa Silva, morto em 14/02/2021

Decisão

Uma decisão da Justiça no Ceará, em fevereiro deste ano, obrigou o governo do Estado a oferecer e patrocinar "atendimento psicológico e psiquiátrico às vítimas sobreviventes e a familiares de vítimas fatais da Chacina da Grande Messejana.

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