No dia 15 de março de 2020, em um domingo, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), confirmou oficialmente os três primeiros casos de Covid-19 no Ceará. Deste então, já foram confirmados mais de 1.234.029 casos e foram computados 26.571 óbitos em decorrência da doença no Estado. Período foi permeado de aprendizados com relação ao que se sabe sobre o vírus e aprendizados sobre como defender a população dos riscos.
Há mais de um mês, municípios vivem redução de casos, após terceira onda, caracterizada pela disseminação da variante Ômicron, altamente transmissível, que provocou explosão de casos rapidamente. Disseminação avassaladora, contudo, não foi acompanhada por alto pico de mortes. Segundo pesquisadores, a cobertura vacinal somada ao grande número de casos recente criou imunidade híbrida.
Conforme Keny Colares, médico infectologista do Hospital São José e Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), um importante aprendizado para o sistema de saúde foi a maior utilização dos testes diagnósticos mais complexos.
"A gente se habitou a tratar pacientes com zika, dengue, chikungunya sem ter diagnóstico de confirmação, baseado nos sintomas ou, no máximo, em teste de sorologia, que tem suas dificuldades. Isso fez com que a gente, no começo da pandemia, tivesse uma capacidade laboratorial muito limitada, tanto no serviço público quanto no privado", avalia.
Colares, que é professor e pesquisador da Universidade de Fortaleza (Unifor), cita o avanço na vigilância dos dados, superando um problema histórico na notificação de casos da rede suplementar. Além disso, a disponibilização das informações em tempo real foi uma novidade positiva.
Outro avanço foi na importância das medidas de prevenção. "Temos uma visão da medicina muito curativa, que enfatiza diagnóstico e tratamento. Mas para doenças como essa a prevenção é mais eficaz e mais barata", diz.
Na avaliação do infectologista, o processo de isolamento e distanciamento social não foi feito de forma perfeita, ainda que tenha havido certo nível avanço nessa questão. Os aprendizados são relevantes e não podem ser perdidos principalmente considerando as novas ondas que devem surgir, assim como de outras epidemias.
Do ponto de vista clínico, está claro que a transmissão do vírus é essencialmente respiratória e se dá de forma mais intensa em ambientes fechados. "Algumas medicações não mostraram eficácia nenhuma, só causaram grande confusão. Mas algumas como corticoides são as ferramentas mais importantes para os pacientes internados", diz.
Quanto ao manejo dos pacientes, a ideia inicial de intubar precocemente os indivíduos foi revista. "Monitorar o indivíduo em busca dos primeiros sinais e não esperar que ficasse com falta de ar, grave. E buscar outras alternativas para facilitar a respiração que não fosse o tubo e o respirado imediatamente, especialmente o Elmo, desenvolvido no Ceará', acrescenta.
"Num cenário de pandemia de uma doença nova, os próprios médicos tiveram muitas dificuldades de consensualizar inclusive sobre como abordar essa doença. Ainda hoje existem divergências dentro da classe medica relativa até ao próprio tratamento da doença. Você imagina isso como política pública, que é mais complexo ainda", comentou o secretário da Saúde do Estado, Marcos Gadelha, em entrevista coletiva sobre os dois anos da pandemia no Ceará.
Para Marcos, uma das principais medidas tomadas pelo Governo do Estado foi seguir dados e informações científicas, mas dividir a responsabilidade das decisões entre diversos setores. A forma compartilhada permitiu, segundo ele, a escuta de áreas como a econômica. "Em alguns momentos foi muito difícil tomar decisões, ainda hoje a gente tá vivendo um momento de flexibilização em que essa tomada de decisões não é fácil."
A Secretária Executiva de Vigilância e Regulação em Saúde, Ricristhi Gonçalves, também comentou sobre a mudança rápida de protocolos e novas informações obtidas durante a pandemia, o que impõe estudos frequentes sobre a melhor forma de conduzir a gestão da crise. "Fomos aprendendo com o tempo, a medida que esses três momentos aconteceram cada um de um jeito diferente, apesar de ser a mesma doença. Em cada uma a gente teve que ter um aprendizado diferenciado. Então isso é muito dinâmico. E hoje se você perguntar se a conduta é a mesma lá de 2020, sem duvida não será."
Conforme o biólogo epidemiologista Luciano Pamplona, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), o que se espera para os próximos meses, a partir do que foi observado durante a pandemia, é que a tendência é de baixa transmissão nos próximos meses.
Projeção considera a sazonalidade da doença respiratórias — cuja circulação ocorre no final do ano e início do primeiro semestre — e a vacinação. "A gente espera um cenário positivo no segundo trimestre e no segundo semestre de 2022", diz.
Como será a convivência com o vírus? Qual a capacidade de o vírus continuar mudando e causando novas ondas? Essas são algumas perguntas que ainda pairam na comunidade científica e que devem ser sanadas apenas ao longo dos próximos anos.
Futuro
Como será a convivência com o vírus? Qual a capacidade de o vírus continuar mudando e causando novas ondas? Essas são perguntas que devem ser sanadas apenas ao longo dos próximos anos.