A tendência de aumento de casos de Covid-19 e a volta de restrições em outros estados reacendem debate sobre o uso de máscara de proteção no Ceará. Estado está entre as vinte unidades da federação com tendência de recrudescimento, segundo boletim InfoGripe. Nessa quarta-feira, 1º, a Prefeitura de São Paulo voltou a recomendar o uso de máscaras contra a Covid-19 em ambientes fechados.
A volta da recomendação para a população cearense deve ser discutida amanhã, 3, pelo Comitê Científico, conforme adiantou o blog do Jocélio Leal. O aumento "discreto", contudo, não viria acompanhado de impacto nas hospitalizações.
Para a epidemiologista Lígia Kerr, que é professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a desobrigação dessa medida de proteção contra a Covid-19 não deveria nem ter sido feita.
"Estamos lidando com uma variante extremamente transmissível. Temos crianças sem imunização, muitas pessoas adultas que não tomaram reforço. Poderia ter tirado em locais abertos sem aglomeração, mas não em locais fechados. A gente abriu a brecha", analisa a pesquisadora, que évice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Conforme a médica, aumento é resultado do relaxamento das medidas. Além disso, a introdução da BA.2, subvariante da Ômicron (BA.1), preocupa. "Se não retornarmos, esse indicativo vai aumentar. Vamos esperar chegar a isso parar usar máscara? É a única maneira de barrar infecção", alerta.
Magda Almeida, professora Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC, destaca que a quantidade de exames realizados tem sido muito baixa. "A baixa testagem influencia em qualquer análise ou projeção", diz, frisando a importância de maior testagem e analise das cepas circulantes por meio do sequenciamento genético. Lígia Kerr concorda que, sem número relevante de exames realizados, "não temos amostragem".
Magda considera que a volta da obrigatoriedade deve ser uma medida acertada apenas "se houver aumento da circulação viral". "Os indicadores mais precoces de aumento de circulação viral são o aumento de positividade e de demanda de pacientes com síndrome gripal nas UPAS. No momento, a quantidade de pacientes com síndrome gripal em maio foi menor que no mês anterior."
Segundo Antonio Lima Neto, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) e professor assistente na Universidade de Fortaleza (Unifor), o aumento de casos em São Paulo já repercute nos números assistenciais. Situação diferente de Fortaleza.
"A gente observa um discreto aumento na positividade aqui (Fortaleza). Casos, em geral, muito brandos, mais leves. Por enquanto, ainda não há clareza de algum tipo de repercussão assistencial", disse, em entrevista à Rádio O POVO/CBN.
"A quadra invernosa produz normalmente mais circulação viral devido a permanência em ambientes fechados por mais tempo. Com o relaxamento de medidas de etiqueta e higiene respiratória associada a quadra invernosa é esperado aumento da circulação viral, inclusive de Sars-CoV-2. Medidas não somente como o uso de máscara, mas como permanecer afastado se apresentar sintomas gripais, são importantes para reduzir a disseminação de qualquer vírus", acrescenta a professora Magda.