O ex-titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) André Costa, a delegada Patrícia Bezerra e o inspetor de Polícia Civil Antônio Chaves Pinto Júnior foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPCE) por fraude processual. Os três teriam participado de um conluio para forjar um áudio, atribuído a um criminoso, em que era dito haver uma ordem para aumentar o número de homicídio. O objetivo seria derrubar o então secretário.
O caso teria ocorrido em 2017 e a denúncia foi ofertada em 22 de abril último. As mensagens que comprovariam a fraude teriam sido obtidas na extração de conversas do celular de Patrícia Bezerra, o que foi determinado no contexto de investigação sobre um esquema de extorsão e corrupção dentro da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), unidade onde a delegada era então lotada. Patrícia e Antônio Chaves chegaram a ter a prisão decretada na operação "Vereda Sombria", mas respondem às acusações em liberdade. Além de fraude processual Patrícia e AJ, como é conhecido, foram denunciados também por associação criminosa. O informante usado no suposto crime não foi identificado.
Conforme a denúncia, a história teve início durante uma reunião dos comandantes das Áreas Integradas de Segurança (AIS) do Estado. Na ocasião, a delegada Patrícia Bezerra mencionou a existência de um áudio em que criminosos tramavam aumentar o número de homicídios no Estado como forma de retaliação à atuação do secretário André Costa. O suposto áudio teria sido captado no bojo de uma investigação da DCTD. Presente à reunião, o então governador Camilo Santana (PT) disse querer ouvir o áudio, o que levou, conforme o Nuinc, os denunciados a passarem a combinar formas de obter a gravação. Sem encontrar tal áudio, Patrícia diz, em conversa com Costa, que vai recorrer a um "Plano B". Dias depois, o secretário aparece perguntando se "já deu certo com o info (informante, conforme o MPCE)".
A denúncia narra que, após alguns dias, Patrícia aparece conversando com AJ sobre como o áudio deveria ser. Ela chega a dizer que um áudio que ouviu não era "isso q eles querem não". Em seguida, AJ tece considerações sobre o teor da gravação. "prejuízo com apreensão de armas e drogas. Secretário acochando Dnarc acochando ( sou que eu vou fazer o áudio então eu falo o que quiser Rsrs ) Matar pro secretário cair", diz ele nas mensagens, que estão publicadas nesta matéria conforme a grafia original. "Basicamente isso, neh ?", pergunta. Com a confirmação de Patrícia, AJ diz que: "Depois do dia 31 eu vou sentar pra escrever com meu amigo que virou bandido".
No próximo passo do plano, conforme o MPCE, a delegada Patrícia obteve na Justiça a quebra do sigilo telefônico de um investigado. A denúncia diz, porém, que estavam ligados a AJ os números de telefone participantes da ligação em que o áudio com ameaças é feito. Na interceptação, o suposto criminosos diz que: "Meu mano, eu recebi a ordem aqui, né [....] Nós tem que matar todo mundo! Nós matando todo mundo, meu mano, aí o secretário vai cair, entendeu (SIC)". Um dia após a interceptação, Patrícia comunica a André Costa que "tá feito". Cerca de três meses depois, André Costa diz ter conseguido tornar "aberto" o áudio e o encaminhou para o "01" — provavelmente, o governador.