A impunidade tem sido a tônica no município que registrou a maior taxa de homicídios do País no período que vai de 2019 a 2021 — conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no último dia 28. São João do Jaguaribe, município do vale do Jaguaribe, teve, nesse período, uma taxa de 224 homicídios para cada 100 mil habitantes. Conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de 2019 a 2021, o município de 7.557 habitantes registrou 50 assassinatos.

Somente em 2021, 23 homicídios ocorreram em São João do Jaguaribe, maior número desde o início da série histórica disponibilizada pela SSPDS, iniciada em 2013. Após não registrar nenhum homicídio em 2018, o município viu a violência crescer ano a ano, na contramão do Estado, que registrou os seus dois anos menos violentos na década em 2019 e 2021.

Essas mortes não vieram acompanhadas da devida responsabilização. Levantamento do O POVO mostra que apenas um dos 23 homicídios ocorridos no ano passado no município teve denúncia ofertada pelo Ministério Público Estadual (MPCE). Fora isso, são 16 casos cujos inquéritos ainda estão em andamento e três casos que foram arquivados sem que nenhum suspeito tivesse sido identificado. O POVO não localizou os inquéritos das três outras mortes — entre elas, um duplo homicídio — mas a Polícia Civil informou que um deles foi concluído e o outro segue em andamento.

O único caso em que O POVO identificou a oferta da denúncia foi resultado de uma prisão em flagrante. Jean Silva Maia, de 27 anos, foi morto, no dia 24 de dezembro, a golpes de faca em um bar de Sítio São José, na Zona Rural. Conforme a denúncia, o autor do crime é José Zildeirton da Silva. A acusação afirma que o crime foi motivado pelos ciúmes que o acusado tinha da ex-companheira. Apesar de testemunhas o terem identificado como o autor das facadas, José Zildeirton negou o crime. Quando foi preso, o acusado estava sujo de sangue, mas ele afirmou, em depoimento, que havia matado um porco. O caso ainda não foi julgado; no último sábado, 2, o MPCE representou pelo pronunciamento do réu.

Essa também foi a única execução praticada por arma branca em São João do Jaguaribe em 2021, conforme a SSPDS. Todos os demais crimes foram praticados por armas de fogo. Os dados ainda apontam que a maior parte dos crimes ocorreu em plena luz do dia: 18 casos ocorreram entre 7h30min e 17h39min.

Entre os casos arquivados está o do aposentado José Rodrigues, de 68 anos, morto em 13 de agosto, por volta das 15h30min. Morador de Sitio Mocós, José foi morto em frente à sua residência com mais de 100 tiros. Familiares relataram à Polícia desconhecer a motivação do crime, já que José não tinha inimizades.

"Registre-se que nenhuma linha investigativa foi apurada, a não ser rumores de que o assassinato teria se dado em virtude de criminosos, após terem fugido de um confronto com a Polícia Militar no mesmo dia do fato terem encontrado a vítima ao telefone e imaginado que esta estaria se comunicando com os policiais", afirmou o MPCE na manifestação que pediu o arquivamento do caso, concedido pela Justiça em 3 de junho último.

Em nota, a SSPDS afirmou que, com a as nomeações de novos 490 policiais civis, no último dia 28, o efetivo da Delegacia Municipal de Tabuleiro do Norte, que atende São João do Jaguaribe, será reforçado, o que impactará na elucidação de crimes.

A SSPDS também destacou que, neste ano, o município apresenta uma redução no número de homicídios. Até o momento, dois assassinatos foram registrados em São João do Jaguaribe em 2022.

 

Cidade registrou homicídios de vários políticos

Nos últimos anos, São João do Jaguaribe também chamou a atenção pelas execuções de políticos e pessoas ligadas à administração municipal. Também esses crimes aguardam Justiça. O mais recente caso registrado foi em 1º de março de 2021, quando a ex-secretária de Educação do Município, Izaura Maria Freire da Silva, de 59 anos, foi morta a tiros no Centro da cidade.

Ela estava na calçada da casa de uma prima quando foi atingida pelos disparos. Também este caso segue sem denúncia de suspeitos. Izaura havia deixado a pasta em dezembro de 2020.

Também no ano passado o procurador-geral do Município, Vicente Robson Chaves Freire, de 60 anos, foi morto a tiros por dois homens que trafegavam em uma moto. Ele já havia sido vereador, sendo presidente da Câmara Municipal, e vice-prefeito. Outro caso sem solução até o momento.

Em 2017, Anthony Kennedy Chaves Marques, de 45 anos, que havia sido candidato a prefeito de São João do Jaguaribe nas eleições de 2012, foi morto a tiros quando chegava a sua casa. O crime foi praticado por dois homens não identificados.

Em 2016, as vítimas haviam sido dois vereadores. Em 27 de dezembro, Francisco Anailde Freire Chaves, de 50 anos, foi morto a tiros enquanto estava sentado na calçada da própria casa. Foi quando dois homens chegaram e o executaram. O vereador era o então presidente da Câmara Municipal e havia sido o mais votado nas eleições municipais.

Três meses antes, a vítima havia sido José Elbio de Almeida Chaves, de 39 anos. O vereador foi morto após os criminosos anunciarem um assalto ao comércio de que era proprietário. José Elbio estava próximo ao local e tentou esconder-se na Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente do Município, mas foi alcançado e morto.

No mesmo ano, um ex-vereador de Limoeiro do Norte, município vizinho a São João do Jaguaribe, também foi morto. Benedito Mendes Cabral, 66 anos, foi morto na localidade de Sítio São Braz, na Zona Rural. Nenhum desses casos foi solucionado.