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Tiros também feriram autoestima da rede municipal da Educação em Sobral
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Tiros também feriram autoestima da rede municipal da Educação em Sobral

Depois da tragédia na escola estadual Carmosina Ferreira Gomes, secretaria da Educação de Sobral irá ampliar sistema de videomonitoramento e reforçar programas socioemocionais na rede municipal de ensino
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A educacao publica em Sobral (Foto: Luciana Pimenta)
Foto: Luciana Pimenta A educacao publica em Sobral

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Os tiros do revólver de um CAC (colecionador, atirador desportista, caçador) disparados por um estudante de 15 anos da escola estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral, também feriram a rede municipal de ensino na cidade da região Norte do Ceará. O ataque resultou na morte do aluno Júlio César de Souza Alves, 15, deixou mais dois adolescentes baleados e atingiu a autoestima do sistema de educação sobralense. Júlio César estava internado na Santa Casa de Misericórdia e morreu no sábado passado, 8/10, três dias depois do ocorrido.

“Lamentamos pelas vítimas e os familiares, é doloroso o momento para todos. Também lamento pelo aluno que atirou e pelos pais dele. Infelizmente, tanto a rede estadual quanto a rede municipal terão de aprender e se transformar com o episódio da escola do bairro Sumaré”, avaliou no dia da tragédia, em entrevistas e numa reunião pública, Hebert Lima, secretário da Educação de Sobral.

Na quinta-feira passada, 6/10, um dia depois do acontecido, por orientação do prefeito Ivo Gomes (PDT), Hebert Lima virou a pauta de uma reunião semanal que tem com gestores e psicólogos da rede municipal de Educação. Convidou diretores da rede estadual de ensino, alguns secretários da Prefeitura e representantes do Ministério Público do Ceará, Poder Judiciário e Defensoria Pública para conversar sobre os desdobramentos da ocorrência.

Até aquela quinta-feira, Júlio César permanecia entre a vida e a morte no hospital. Os outros dois adolescentes, depois de medicados logo depois dos disparos, se recuperavam em casa. Já o estudante agressor, um atirador improvável, permanecia recolhido em um Centro Socioeducativo.

Localizada a 235 km de Fortaleza, Sobral passou a ter destaque nas avaliações nacionais de educação depois da implantação e aperfeiçoamento das ideias e das práticas gestadas com o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), a partir de 2007.

De acordo com os últimos dados do Ministério da Educação, divulgados no mês passado, o Ceará tem 87 das 100 melhores escolas do Brasil nas séries iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). Segundo o ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Sobral tem nove colégios municipais entre os mais ranqueados do País.

Mesmo com as distorções nacionais causadas pela pandemia da Covid-19, a partir de 2020 até aqui, o sistema municipal de educação em Sobral virou referência há anos e serve de laboratório para o ensino fundamental no território brasileiro.

Daí o constrangimento de aparecer no noticiário com uma tragédia como a que ocorreu na escola estadual Carmosina Ferreira Gomes. E ainda com o fenômeno do bullying atravessando o ambiente escolar. O aluno que efetuou os disparos contra os três colegas disse na delegacia que sofria constrangimentos.

Hebert Lima, mesmo sendo secretário da Educação municipal, não fez de conta que os tiros na escola gerida pela Secretaria da Educação do Ceará tinham relação apenas com a pasta estadual. “O foco, hoje, é fortalecer e reiterar as parcerias e serviços que estão nas escolas municipais e estaduais. A pauta era pedagógica, mas estamos aqui para reforçar a segurança escolar”, afirmou o secretário.

Na reunião, em um auditório da Prefeitura de Sobral, o secretário municipal da Educação e a secretária da Segurança Cidadã – Emanuela Leite – afirmaram que as pastas deverão ampliar o sistema de videomonitoramento, aperfeiçoar o treinamento com controladores de acesso às escolas, reforçar o programa de atividades socioemocionais na comunidade escolar e universalizar até 2024 o tempo integral nas 79 escolas da Prefeitura.

Atualmente, 36 das 79 escolas municipais são monitoradas por câmeras de segurança. De acordo com Herbert Lima o restante das unidades escolares receberão o equipamento, mas ainda não há data definida para a implantação.    

“O cuidado mora nos detalhes. Essa violência extrema foi uma exceção. Dobramos o efetivo do programa Ronda Escolar, mas acredito que o amor cobre uma multidão de violência”, pontuou Emanuela Leite, que também é defensora pública no Ceará.

O efetivo da Ronda Escolar foi dobrado de três para seis guardas municipais, em agosto deste ano. Um contingente pequeno para 79 escolas municipais. Agora, Emanuela Leite estuda novo reforço. Há um concurso em andamento para a contratação de 100 guardas municipais.

 

Mãe de vítima acredita em livramento divino

FORTALEZA, CE, BRASIL, 06.10.2022 -  Ataque escola Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral. COPAC prestando assistencia a familia do aluno foi atigindo na cabeça. (Foto: Thais Mesquita/OPOVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 06.10.2022 - Ataque escola Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral. COPAC prestando assistencia a familia do aluno foi atigindo na cabeça. (Foto: Thais Mesquita/OPOVO) (Foto: THAÍS MESQUITA)

Mariane Maria de Sousa, mãe de um dos adolescentes baleados durante a tragédia na escola estadual Carmosina Ferreira Gomes, acredita que o filho de 15 anos foi salvo graças a “um livramento de Deus”.


A crença da funcionária do setor de nutrição do Hospital do Coração, em Sobral, tem uma razão. O filho foi atingido pelo projétil do revólver do atirador numa região próxima à nuca e teve à vida por um fio, na manhã da última quarta-feira, 5/10.

“Não foi nem de raspão, a bala entrou e saiu na carne mole atrás do pescoço. Como ele estava jogando no celular, de cabeça baixa, foi salvo. Tenho certeza de que foi a mão de Deus empurrando a cabeça dele”, contou Mariane de Sousa ao O POVO enquanto o estudante repousava numa rede na sala da casa.

Até agora, Mariane de Sousa procura explicações para entender a atitude do estudante atirador. “Meu filho é muito calado, não é de muita conversa. Segundo o diretor da escola (Jorge Célio), todos os envolvidos (na tragédia) eram alunos estudiosos e pacíficos. Queria entender o porquê”, pontuou a mãe.

Mariane de Sousa é mãe de dois filhos, o adolescente de 15 anos e um jovem de 22. No dia do ataque, o esposo foi buscá-la no trabalho com a notícia. Horas depois, já fora de perigo, o estudante contou que só percebeu estar baleado depois de sentir esquentar a parte posterior do pescoço. Ele correu para o banheiro para lavar o ferimento e em seguida foi socorrido.

Hoje, as atividades no colégio Carmosina Ferreira Gomes serão retomadas com uma manifestação pela paz. Porém, o filho de Mariane de Sousa ainda não voltará à rotina de aluno. Ele está sendo acompanhado pela psicóloga da escola.

Escola não identificou bullying

FORTALEZA, CE, BRASIL, 06.10.2022 -  Ataque escola Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral. COPAC prestando assistencia a familia do aluno foi atigindo na cabeça. (Foto: Thais Mesquita/OPOVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 06.10.2022 - Ataque escola Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral. COPAC prestando assistencia a familia do aluno foi atigindo na cabeça. (Foto: Thais Mesquita/OPOVO) (Foto: THAÍS MESQUITA)

Na delegacia regional da Polícia Civil, em Sobral, o estudante de 15 anos que disparou contra três alunos disse que havia atirado porque sofria de bullying na escola de Ensino Médio Carmosina Ferreira Gomes.

Em entrevista ao O POVO, Eliana Estrela, secretária da Educação do Ceará (Seduc) afirmou que foi informada pela diretoria não ter havido “qualquer registro por parte do aluno de que estivesse sofrendo bullying. O convívio na sala de aula foi considerado adequado”. E até a última quarta-feira, 5/10, dia do ataque, “a escola não tinha histórico de violência seja por parte dos alunos envolvidos ou por qualquer outro”, disse.

O adolescente, que usou a arma de um CAC (colecionador, atirador desportista, caçador) para realizar o ataque, é descrito por outros estudantes como uma pessoa calada e que dormia durante a maior parte do tempo integral na escola. E por isso seria chamado de “morto” por alguns alunos.

Segundo o diretor da escola, Jorge Célio Coelho, o estudante atirador tinha um comportamento tranquilo até então. A única alteração na rotina escolar dele era a sonolência durante as aulas, fato tratado com os pais no colégio público. De acordo com o gestor, o aluno havia revelado que dormia no período letivo porque jogava, até tarde da noite, jogos eletrônicos.

Na rede estadual de educação, de acordo com Eliana Estrela, há uma “política de competências socioemocionais” que abrange a prevenção ao bullying. Na escola Carmosina, por exemplo, o Projeto Professor Diretor de Turma busca qualificar as relações interpessoais e intrapessoais. Um docente tem um horário semanal disponível para realizar o atendimento individualizado com cada estudante. Além disso, cada colégio conta com o trabalho de um psicólogo.

 

 

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