Duas escolas de Aracruz, na região norte do Espírito Santo, foram alvo de ataques a tiros na manhã desta sexta-feira,25. Três pessoas morreram e 13 ficaram feridas, das quais, à noite, seis seguiam internadas. Apreendido à tarde, o suspeito pelos atentados tem 16 anos, é filho de um policial militar e estudou até junho deste ano na Escola Estadual Primo Bitt, a primeira a ser invadida.
Segundo o governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), o adolescente usou uma pistola .40, que pertence à PM, e um revólver 38, além de três carregadores. Na roupa camuflada que vestia, havia uma suástica nazista em uma das peças.
O atirador chegou ao colégio por volta de 9h30min. Ele invadiu a sala dos professores e atirou nas pessoas que estavam lá. Duas morreram no local - as professoras de Matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos, e de Arte, Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48.
Pouco depois, o adolescente entrou em um carro de cor dourada modelo Renault Duster, que estava com as placas cobertas, e partiu para a segunda escola.
No Centro Educacional Praia de Coqueiral, colégio particular, ele se direcionou ao segundo andar do prédio, entrou em uma das salas de aula e começou a atirar em alunos que estavam próximos à entrada da sala. Ao todo, três pessoas foram baleadas e uma aluna de 12 anos morreu. A família da menina esteve no local, mas não quis falar com a reportagem.
A apreensão do adolescente foi anunciada pelo Twitter pelo governador, que decretou luto oficial de três dias no Estado. "Nossas equipes de segurança alcançaram o autor do atentado que, covardemente, atacou duas escolas em Aracruz pela manhã", escreveu Casagrande.
Para chegar ao autor dos ataques, a polícia identificou o proprietário do carro usado por ele e cercou a casa. "Os pais dele colaboraram (no momento da apreensão), estavam destruídos. Uma das armas era do pai, da Polícia Militar. E outra era particular. O adolescente confessou à Polícia Civil, mostrou a roupa, as armas e como fez. Estava bem calmo. Até então, não tem motivo, ele planejou durante dois anos", afirmou Casagrande em entrevista.
Na hora dos ataques, o adolescente estava com roupa camuflada, um capuz e rosto coberto por uma máscara de caveira. "Segundo informações preliminares, obtidas por imagens, o criminoso estava sozinho e arrombou um cadeado para ter acesso à primeira escola. Próximo ao acesso do portão, estava a sala dos professores. Ele teve acesso direto à sala, no momento do intervalo, e assim surpreendeu e vitimou os professores", afirmou o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Espírito Santo, coronel Márcio Celante.
Imagens do circuito de segurança de uma das escolas atacadas mostram o momento em que o suspeito invade o local correndo e com uma arma na mão. É possível ver o fardamento que ele usa, assim como a máscara que cobre o seu rosto. Ele efetua disparos a distância contra professores e alunos e continua a percorrer os corredores com velocidade. Funcionários correm ao notar os disparos e tentam se esconder da ação do adolescente.
Entre os feridos, três mulheres (com 38, 45 e 52 anos) tiveram perfurações no corpo e passaram por cirurgia no Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves. Já no Hospital Estadual N Sra. da Glória "Infantil de Vitória", um menino de 11 anos e uma menina de 12 estavam em estado gravíssimo até a última atualização fornecida pelo governo.
O sexto ferido internado é uma mulher de 58 anos com três perfurações por arma de fogo em membros inferiores. Ela tem estado de saúde estável.
A aluna Sofia Castro, de 17 anos, conta que estava no pátio do colégio particular quando o atentado começou. "Eu não tinha noção do que estava acontecendo. Primeiro escutei um ‘pá’, e depois escutei a ‘tia da limpeza falando ‘meu neto’ ou ‘meu sobrinho’, não entendi muito bem. Então, o professor de geometria falou pra gente sair correndo, porque era tiro. Saiam para o fundo da escola e arrumem um jeito de sair daqui, mas saiam correndo’", relatou.
Junto a outros alunos, Sofia se direcionou aos fundos da escola, onde ficaram abaixados, em uma tentativa de se proteger dos disparos.
"No início, eu achava que era brincadeira, mas aí vi todo mundo correndo e só corri junto, nem olhei para trás", contou a estudante capixaba. "Na hora não pensei direito, porque comecei a ver aquelas crianças todas chorando e comecei a tentar acalmá-las. Não adiantava nada eu ficar com medo e passar mais medo para eles", continuou a adolescente.
Após alguns minutos escondidos no fundo da escola alvo dos ataques, Sofia e seus colegas foram chamados pela mãe de outra aluna, que indicou uma saída.
"Tinha um portão aberto pelos fundos. A gente conseguiu sair e depois as outras crianças conseguiram também", relata. "Foi assustador. Não sei se vou conseguir voltar para a escola, porque dá muito medo. Podia ter sido eu", conclui a jovem.
Mauro Balbino Fernandes, vizinho da primeira escola a ser atacada, conta que viu a correria na rua decorrente do ataque e se assustou com a cena. "Vi o pessoal correndo e perguntei o que estava acontecendo. Fiquei assustado, sem conseguir sair do lugar e com medo de levar um tiro." Segundo ele, a polícia chegou ao local logo depois.
Em seguida, Fernandes soube que sua neta, aluna de um dos colégios alvo dos disparos, também corria perigo e ficou com medo que ela fosse baleada. "Minha esposa veio correndo e disse que estava tendo tiroteio na escola dela também, então peguei o carro e fui para lá. Quando cheguei na escola, me telefonaram e falaram que era para eu voltar para casa porque minha neta estava lá. Uma faxineira a levou para casa", conta. "Quando cheguei em casa, minha neta estava muito assustada e chorando."
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou em redes sociais. "Minha solidariedade aos familiares das vítimas dessa tragédia absurda. E meu apoio ao governador Casagrande na apuração do caso e amparo para as comunidades das duas escolas atingidas."
Com tristeza soube do ataque as escolas de Aracruz, Espírito Santo. Minha solidariedade aos familiares das vítimas dessa tragédia absurda. E meu apoio ao governador @Casagrande_ES na apuração do caso e amparo para as comunidades das duas escolas atingidas.
— Lula (@LulaOficial) November 25, 2022
O ministro da Educação, Victor Godoy, foi outra autoridade a se manifestar sobre o caso. Pela sua conta no Twitter, escreveu: "Meus sentimentos aos pais, familiares e funcionários da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e do Centro Educacional Praia de Coqueiral, em Aracruz (ES). Registro meu repúdio a essa manifestação de violência."
A prefeitura de Aracruz decretou luto oficial até o próximo domingo. As aulas foram suspensas ontem, assim como eventos oficiais em toda a cidade.