O março mais chuvoso dos últimos 15 anos fez mais do que bater a marca de 46 açudes sangrando. Os 288,5 milímetros (mm) de precipitação registrados durante o mês fizeram com que o nível dos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado (Cogerh) subisse 27,7% até sexta-feira, 31, segundo dados do Portal Hidrológico.
Com isso, o volume dos açudes chegou a 39,9% da capacidade, ante 31,2% no início do mês. No dia 1º, os 157 reservatórios somavam 5.795,1 hm³ d'água, com seis deles sangrando.
Desde então, os valores subiram para 7399,8 hectômetros cúbicos (hm³) nesta sexta-feira, 31. Um hm³ equivale a 1.000.000.000 (1 bilhão) de litros. Uma piscina olímpica de 50mx25mx2m tem 2,5 milhões de litros d'água.
Em valores absolutos, a maior cheia é a do Castanhão, maior açude do Brasil. O reservatório ganhou 295 hm³ de carga entre o dia 1º e 31 de março. Com isso, a barragem que inundou a velha Jaguaribara foi de 19,81% da capacidade total para ainda tímidos 24,01%.
Ao todo, o Castanhão soma 1.608,96 hm³ — o que equivale a 21,74% de todo o volume de água represada nos maiores açudes do Ceará.
O destaque percentual, entretanto, é outro. Trata-se do açude Banabuiú, o terceiro maior do Estado. Localizado no município homônimo, o reservatório mais do que dobrou de volume, após anos com dificuldade para "pegar água".
Ao todo, foram quase 196 hm³ de água que caiu nas partes altas do Sertão Central, uma das macrorregiões tradicionalmente mais secas do Ceará. A cifra fez o Arrojado Lisboa — nome real do Bababuiú — enchesse 142,78%.
Como base de comparação, no dia 30 de março de 2022, o Banabuiú não passava dos 8,22% da capacidade. Antes disso, em 2018, o Arrojado Lisboa chegou a apenas a 0,61%.
A alta recarga se dá por um março de muita precipitação na região hidrográfica do Banabuiú. Segundo dados do Calendário de Chuvas da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), já choveu 98,3% a mais do que a média de março na área.
Apesar do bom resultado em recarga da açudagem, o alto volume de chuvas afetou uma série de municípios do Sertão Central, principalmente Senador Pompeu e Milhã.
*Aumento do dia 1º ao dia 31 de março de 2023
São João do Jaguaribe registra maior chuva em 24 horas
Pelo menos 130 cidades no Ceará receberam chuvas nas últimas 24h, aponta a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O maior acumulado foi observado em São João do Jaguaribe, com 120 milímetros (mm), das 7 horas de quinta-feira, 30) até às 7 horas de sexta-feira (21).
Os outros sete maiores registros de chuvas foram verificados em Ipueiras (99 mm), Tabuleiro do Norte (87), Santa Quitéria (80 mm), Morada Nova (74 mm), São Benedito (73 mm e 72 mm) e Limoeiro do Norte (71 mm).
Diante dos estragos causados pelas enxurradas, a Secretaria de Proteção Social (SPS), ligada ao Governo do Estado, vem orientando os municípios atingidos em questões relacionadas a protocolos de atendimento e gestão de situações de alagamento.
Segundo informações da pasta, as cidades de Aratuba, Uruburetama, Itapipoca, Pacatuba, Umirim, Milhã, Senador Pompeu e Itapajé receberam doações de alimentos e de itens básicos, como colchões.
Atualmente, 13 municípios se encontram sob situação de emergência (Altaneira, Missão Velha, Aratuba, Antonina do Norte, Guaramiranga, Itapipoca, Uruburetama, Tururu, Porteiras, Itapajé, Umirim, Pedra Branca e Senador Pompeu). Somente Milhã decretou estado de calamidade.
O governo estadual aponta que 3.693 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas no Ceará. Foram registrados 25 feridos e 6 mortes.
Para sábado e domingo, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) aponta que chuvas intensas podem ser observadas nas regiões Norte e Noroeste do Estado, além de Fortaleza e seu entorno. As precipitações devem ocorrer durante a manhã e a tarde. A Funceme destaca que há a possibilidade de descargas elétricas e rajadas de vento.
Isso se deve, de acordo com a fundação, em função da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) encontra-se posicionada em torno de 2°S e segue colaborando para mais instabilidade e chuva sobre o Estado. "Além disso, as chuvas estão associadas ao sistema de brisa, a interação dos ventos com o relevo, e ao calor e a umidade".
Oito trechos de CEs apresentam rompimento ou riscos de deslizamento
Oito trechos de rodovias estaduais estavam parcialmente ou completamente interditadas nesta sexta-feira, 31, aponta a Superintendência de Obras Públicas (SOP), em boletim integrado divulgado diariamente. Os setores foram atingidos pelas chuvas e apresentam sinais de erosão e rompimento.
No Litoral Oeste, o trecho da CE-240, no município de Miraíma, o rompimento de uma barragem causou uma rachadura na pista. Os dois sentidos da rodovia estão interditados.
Já no Sertão Central, o setor da CE-166 que liga Senador Pompeu a Piquet Carneiro — dois dos municípios mais atingidos pelas chuvas — está bloqueado por uma cratera. De acordo com a SOP, equipes realizam sinalização para os motoristas.
Ainda na região, a CE-371, entre Dep. Irapuan Pinheiro e Milhã, apresenta trechos com erosão. A SOP está concluindo a reabilitação do espaço.
Na Serra da Ibiapaba, a CE-311, em trecho que liga Viçosa do Ceará a Santa Terezinha, as chuvas fizeram com que determinadas áreas no entorno da pista corressem risco de deslizamentos de terra.
Na região do Cariri, quatro setores estão com problemas na estrutura. No primeiro deles, na CE-384, que liga Mauriti a Piancó, na Paraíba, um rompimento causou a completa interdição do espaço.
Em uma outra área da rodovia, sinais de erosão são perceptíveis — causados pelo comprometimento de um bueiro. Alagamentos também são vistos na extensão da CE-384 que faz conexão com a BR-116.
Na CE-166, em trecho ligando Santana do Cariri a Nova Olinda. Áreas com erosão podem ser verificadas.
O último setor atingido é o da CE-393, situado em Rosário, um dos distritos da cidade de Milagres. A via se encontra totalmente interditada. Pontos de alagamento podem ser avistados em uma região com passagem molhada.
Onde há rompimento na rodovia, a SOP sublinha que os trabalhos de recuperação só podem ser realizados quando condições climáticas favoráveis forem observadas.
BLOQUEIO TOTAL
BLOQUEIO PARCIAL
LIBERAÇÃO