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Açude Araras sangrou: é tempo de fartura no Sertão
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Açude Araras sangrou: é tempo de fartura no Sertão

Localizado no município Varjota, no noroeste do Ceará, o açude Araras é responsável pelo abastecimento humano e irrigação de diversos municípios
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Açude Araras, em Varjota, foi um dos reservatórios que verteu suas águas durante a quadra chuvosa de 2023 no Ceará (Foto: Emanuell Coêlho / AVA Aero Imagem)
Foto: Emanuell Coêlho / AVA Aero Imagem Açude Araras, em Varjota, foi um dos reservatórios que verteu suas águas durante a quadra chuvosa de 2023 no Ceará

O açude Araras, oficialmente chamado de Paulo Sarasate, localizado no município de Varjota, chegou a 100% da capacidade nesta terça-feira, 11, e começou a sangrar na noite dessa segunda-feira, 10. Ele é o 62º do Ceará a encher completamente nesta quadra chuvosa.

A última vez que o açude havia sangrado foi em 2020 — ano com um dos melhores invernos recentes no Ceará. Antes disso, porém, ele passou por quase uma década com pouco volume, diante da mais longa seca da história do Estado, que durou de 2012 a 2017. O aporte recebido é comemorado pela população, que depende da barragem para abastecimento humano e para fins econômicos.

Principal reservatório da bacia do Acaraú e chamado na região como "O Gigante", o Araras tem 859,53 milhões de metros cúbicos (m³) de capacidade. Ele é o quarto maior do Estado, ficando atrás do Castanhão (Alto Santo), Orós (Orós) e Banabuiú (Banabuiú). Além de fornecer água para moradores de diversos municípios do Estado, ele é uma das principais fontes para a irrigação de culturas de coco, banana e acerola produzidas no Vale do Acaraú, especialmente do Perímetro Irrigado Araras Norte.

“Se você somar, temos hoje mais de 6 mil hectares irrigados no Vale do Acaraú tendo como principal fonte no açude Araras”, afirma Manoel Bartolomeu Gomes de Almeida, gerente da regional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh) de Sobral e responsável pelas bacias do Acaraú e do Coreaú.

Segundo ele, a região conta com uma “segurança para os próximos dois anos, pelo menos para o abastecimento humano e para a irrigação” — cenário semelhante ao do Estado como um todo. A bacia do Acaraú tem oito açudes sangrando e a bacia de Coreaú tem sete. Ambas estão acima de 95% da capacidade. A expectativa de Manoel é que o açude Taquara, que é um dos principais da região, também sangre até o fim da quadra chuvosa.

“Ele foi concluído em 2010 e ainda não sangrou. A expectativa é que ele venha a verter. Hoje ele tem em torno de 50 centímetros faltando para verter”, diz. O Taquara está com 92,37% da capacidade preenchida, de acordo com o Portal Hidrológico, plataforma de monitoramento de açudes mantida pela Cogerh.

Açude Araras já esteve com apenas 3,40% da capacidade em 2017. Na quadra chuvosa de 2023, açude chegou ao volume máximo.
Açude Araras já esteve com apenas 3,40% da capacidade em 2017. Na quadra chuvosa de 2023, açude chegou ao volume máximo. (Foto: Emanuell Coêlho / AVA Aero Imagem)

Araras chegou a ter apenas 3,4% da capacidade em período de seca

Em 2017, quando já fazia cinco anos desde a última sangria, o Araras chegou a ter apenas 3,4% da capacidade preenchida. Na época da estiagem, Manoel relembra que os distritos de irrigação que dependem do Araras não puderam mais utilizar as águas, visto que a prioridade era o abastecimento humano.

Como a seca atingiu todo o Estado, outras regiões com insegurança hídrica também precisaram das águas do açude. Foram construídas adutoras para levar o recurso de Varjota até outras regiões. Uma das maiores, de 152 km de extensão, levou a água do Araras até Crateús, no Sertão de Crateús.

Além disso, poços tiveram de ser perfurados para atender diversas sedes municipais, como Cariré, Santana do Acaraú, Morrinhos e Forquilha, segundo o gerente.

Varjota nasceu ao redor do açude

A história de Varjota é inteiramente ligada à existência do açude Araras. Antes de sua construção na década de 1950, a região pertencia à cidade de Reriutaba. Segundo Eusébio Ximenes, servidor público e secretário da Administração da cidade, foi a partir da migração de trabalhadores para atuar nas obras da barragem que o que era uma vila cresceu até virar município em 1985.

Eusébio é varjotense e fez pesquisas relacionadas à história da cidade. Ele conta que a pesca artesanal e a agricultura são importantes fontes de renda de Varjota, mas o açude também serve para a diversão local. “O banho de rio, comer peixe, julgamos aqui como muito importantes”, diz. A população mais antiga do local, inclusive, costumava chamar a localidade de "Araras".

Esse é um dos vários motivos para o momento da sangria ser tão aguardado. “Nesses últimos dias que antecederam, a peregrinação foi muito grande. A população fica com essa expectativa. É um dos eventos mais esperados. Quando passam-se muitos anos, fica essa aflição do povo”, conta.

Situação hídrica dos maiores açudes do Ceará
Situação hídrica dos maiores açudes do Ceará (Foto: Luciana Pimenta)

Situação hídrica dos maiores açudes do Ceará (percentual da capacidade preenchida)

  • Castanhão: 29,11%
  • Orós: volume 59,35%
  • Banabuiú: 34,22%
  • Araras: 100%
  • Figueiredo: 13,33%

 

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