A K9 é uma droga perigosa e poderosa. Uma de suas principais características é o chamado "efeito zumbi", causado em quem a consome: descoordenação motora e mental, falta de ar, taquicardia, alucinações, convulsões e agressividade. Também é chamada de Spice, K2 ou maconha sintética. Nela, o THC (tetrahidrocannabinol), substância psicoativa da maconha, é misturado a produtos químicos industriais altamente nocivos.
A Receita Federal fez nesta quinta-feira, 11, no Terminal de Cargas e Encomendas do Aeroporto de Fortaleza, a primeira apreensão de K9 no Ceará enviada como encomenda postal. Foram encontrados 6 quilos (kg) da droga.
A "maconha zumbi" chegou via Sedex misturada entre cinco pacotes que totalizavam 38,5 kg de entorpecentes. Neles havia mais 5,5 kg de cocaína e 27 kg de substância análoga a MDMA - usada para produção de outras drogas, como ecstasy, NBome e LSD.
Os pacotes apreendidos foram despachados de São Paulo e seriam remetidos para compradores em Fortaleza, Itapajé e Maranguape. O Interior cearense tem sido o principal destino das remessas de drogas pelo serviço dos Correios no Estado.
Entre 2022 e 2023, cerca de 20 municípios já tiveram registros de encomendas postadas com entorpecentes. Mais de 15 tipos de substâncias ilícitas já foram identificados em remessas para o Ceará.
"A K9 era desconhecida e já chegou a ser registrada no Ceará como maconha em outras vezes. Mas é a primeira vez enviada como encomenda postal", segundo um agente da Receita. A apreensão anterior teria sido em quantidade muito pequena. "Desta vez, os 6 quilos chamaram realmente atenção", admitiu.
Com as drogas apreendidas nesta quinta-feira, 11, a Receita estima um prejuízo de aproximadamente R$ 1 milhão para os criminosos. A descoberta foi feita pela Divisão de Vigilância e Repressão ao Contrabando e Descaminho.
O material foi percebido numa vistoria de rotina, com o auxílio dos cães farejadores Ithor e Symon. Os pacotes já foram enviados para a Polícia Federal, ainda na manhã desta quinta, 11, onde será aberto inquérito sobre o caso.
O químico Fabiano Soares de Araújo, do Laboratório Reaja, explica que os canabinoides sintéticos, como o K9 apreendido em Fortaleza nesta quinta-feira, são substâncias "muito mais potentes, diferentes do THC (tetrahidrocanabinol, substância psicoativa) presente na planta da cannabis (maconha). Por isso acabam tendo efeito muito mais intenso e sua margem de segurança do uso acaba sendo muito menor".
O Reaja é uma empresa sediada no Paraná, especializada no desenvolvimento de testes rápidos para detecção de substâncias entorpecentes. São os mesmos tipos de testes aplicados por agentes de segurança que identificam presença de cocaína e outras drogas em aeroportos.
Ele faz o alerta: "Não se tem conhecimento em relação à dose que está sendo utilizada nas ruas. Por serem substâncias novas, não se tem estudos clínicos. Não se sabe, por exemplo, dos efeitos a longo prazo. Isso, diferente, dos medicamentos à base de cannabis, que já se tem uma margem de segurança muito grande. Os canabinoides sintéticos, por terem efeito muito intenso, têm uma margem de segurança muito menor e que a gente pouco conhece".
Segundo Soares, existem hoje 328 canabinoides sintéticos. Os primeiros tipos surgiram originalmente entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, na Universidade Hebraica de Jerusalém. Foi no desenvolvimento de pesquisas sobre o funcionamento do sistema endocanabinoide, para se descobrir as propriedades, usos e efeitos do THC. "Acabaram criando substâncias muito mais potentes".
"Saber o que o usuário está utilizando acaba sendo muito difícil. Não se sabe nem qual substância ou dose (foi utilizada na composição)". Soares esclarece que os canabinoides sintéticos não têm nada a ver com os canabinoides da planta. "A única semelhança é que eles atuam nos mesmos receptores (no organismo), só que de forma muito mais intensa. Acaba sendo um erro chamar de maconha sintética. Ou até mesmo canabinoide sintético".
As variações de nomes, como k2, k9, k6, k10 são definidas de acordo com a forma como esse tipo de droga sintética é apresentada. "Porque podem ser líquidos, borrifados. Podem estar impregnados em papel, podem ser borrifados em outras plantas. Inclusive pequenos pedaços de bottons que podem ter uso sublingual", esclarece o especialista.
Atualizada às 17h30min