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Temperatura do Pacífico está acima do normal e reforça ocorrência de El Niño
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Temperatura do Pacífico está acima do normal e reforça ocorrência de El Niño

| 2024 COM MENOS CHUVAS | Se a tendência de altas temperaturas se confirmar, há grandes chances de um ano com chuvas abaixo da média
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TEMPERATURA alta indica permanência do El Niño em 2024 (Foto: FáBIO LIMA)
Foto: FáBIO LIMA TEMPERATURA alta indica permanência do El Niño em 2024

A Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico está, atualmente, com cerca de 1,4ºC acima do normal para essa época do ano. Os modelos de previsão indicam permanência do aquecimento, cenário que pode levar o Ceará a passar por um El Niño de categorias moderada a forte. Para 2024, o abastecimento está garantido, mas o alerta é numérico e histórico: nos anos em que a TSM já se apresentava alta entre os meses de dezembro e janeiro, as chuvas daquele ano foram abaixo da média.

"Em 2015 e 2016, o Pacífico, na área que mais afeta o Ceará, ficou com 2,5ºC mais quente do que o normal. Tivemos um El Niño forte mesmo", explicou a meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Estatística (Funceme), Meiry Sakamoto. Em 2016, um dos dez anos mais secos da história, choveu 47% abaixo da média.

Os modelos de previsão de temperatura da superfície do Pacífico começam a formular tendências para os meses que figuram entre o final e início do ano. É a TSM desse período que indica a ocorrência ou não de El Niño na estação seguinte. "O indicativo é de que (o Pacífico) chegue até a 2º C, pelo menos. Aí vem a nossa preocupação, porque o El Niño, com essas características, nos últimos tempos, teve impacto negativo nas chuvas", avalia a meteorologista.

Ela se refere a seis anos específicos, em que a TSM dos meses anteriores já indicavam poucas precipitações: 1974, 1983, 1987, 1992, 1998, 2010 e 2016. Porém, apesar das tendências apontarem um futuro de estiagem, Sakamoto ressalta que não é só o Oceano Pacífico que influencia a estação chuvosa do Ceará. "O Atlântico também, que inclusive banha o Nordeste. Dependendo das condições, pode ter um favorecimento para Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)", pondera a meteorologista.

De acordo com o secretário de Planejamento e Gestão Interna da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), Ramon Rodrigues, as regiões do Ceará "mais temerosas" em relação aos efeitos das poucas chuvas seriam os Sertões de Crateús e Inhamuns, principalmente a região próxima ao rio Poti. "Tem um certo aporte, mas precisa que seja finalizado o reservatório que está sendo construído. É fundamental para dar tranquilidade", afirmou. O açude Arneiroz, que abastece Crateús e Inhamuns, está com 84% do seu volume.

A preparação do Ceará para um possível ano de seca conta com a experiência dos últimos anos. Entre 2012 e 2020, o Estado viveu período de estiagem mais severa, com dezenas de municípios em estado de emergência, adutoras sendo implementadas e até taxa de contingência na tarifa de uso da água. "Sempre teremos de ter redundância nas nossas ofertas. A questão é também como a água é gerenciada e como se otimiza o uso", detalha o secretário, destacando que as ações de convivência com a estiagem precisam lidar com as diferentes realidades.

Se preparar significa também elencar prioridades, como o abastecimento humano, com preocupação para as regiões mais populacionais, como Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Crajubar, Região Norte e Sertão Central. "Hoje, RMF está tranquilo. Desde 2021 que não trazemos água do Castanhão. Norte choveu bem. No Sertão Central, no começo do ano a gente se preparou para fazer intervenções emergenciais, como a construção de uma grande adutora, mas acabou tendo chuvas bem concentradas depois", destacou o secretário da SRH.

 

Fenômeno traz seca para o Nordeste e tempestade para o Sul

Enquanto, no Norte e no Nordeste, o El Niño afasta as chuvas, no Sudeste e Sul do Brasil, o efeito é contrário. E já começou. Um ciclone deixou milhares de pessoas desalojadas no Rio Grande do Sul. O número de mortos era de 47 pessoas, além de dezenas de desaparecidos

De acordo com Caio Coelho, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o aquecimento das águas no Pacífico começou em fevereiro na Costa Leste do Peru, com até 3°C a mais do que o normal.

"A região aquecida favorece a formação de nuvens profundas, as que se curvam na América do Sul vão pra região mais ao Sul do Brasil. No Nordeste, como as chuvas ficam muito intensas em cima das águas aquecidas, o ar sobe e se desloca, descendo nas região. Essa descida desfavorece a ocorrência de chuva", detalha.

Caio destaca ainda que, no Oceano Atlântico, onde se forma Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), as águas também estão quentes. "São os sinais climatológicos de resposta do El Niño. Pode haver algumas variações, mas não deve perder essas características nos próximos meses. Não é certeza, mas são grandes chances", argumenta.

Caio afirma que El Niño mais forte é relativamente comum, principalmente se os dois oceanos atuam para desfavorecer as chuvas no Nordeste. Mas há o reforço das mudanças climáticas. "São dois fenômenos complementares. O aquecimento global tem efeitos no mundo todo. Aqui, isso atuando junto do El Niño, as temperaturas aumentam consideravelmente".

 

Frase

São dois fenômenos complementares. O aquecimento global tem efeitos no mundo todo. Aqui, isso atuando junto do El Niño, as temperaturas aumentam consideravelmente"

 

 

Caio Coelho, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

OCORRÊNCIAS DE EL NINO FORTE OU MODERADO NO CEARÁ

> 1983: El Niño forte e chuvas 45% abaixo da média

> 1987: El Niño moderado, com chuvas 14% abaixo do normal e TSM 1,2ºC acima da média no trimestre

> 1992: El Niño de moderado a forte e TSM 1,7ºC acima da média

> 1998: El Niño forte, com chuvas 54% abaixo do normal e TSM 2,2º C acima do normal no trimestre

> 2010: El Niño moderado a forte, com chuvas 49% abaixo do normal e TSM 1,5ºC acima do normal no trimestre

> 2016: El Niño forte, com chuvas 47% abaixo da média e TSM 2,5ºC acima do normal no trimestre

*Os trimestres incluem dezembro do ano anterior, janeiro e fevereiro do ano de referência. A TSM é referente ao Oceano Pacífico

RESERVATÓRIOS CEARENSES

Açude sangrando: um - Germinal, em Pacoti

Açudes com volume inferior a 30%: 40

>Açudes com volume superior a 90%: 24

*Dados extraídos em 13/9/2023 do Portal Hidrológico

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