Uma onda de calor deve atingir diversos estados brasileiros nos próximos dias. Institutos de meteorologia indicam máximas acima de 40ºC, podendo atingir patamares de 43ºC a 45ºC em alguns pontos do País, bem como baixa umidade. O Ceará não deve apresentar grandes variações de temperatura para esta época do ano, naturalmente mais quente.
O Brasil está passando pela mudança de estações, saindo do inverno astronômico e entrando na primavera, que começou nessa sexta-feira, 22. Nesse período, a adição de radiação solar mais forte proporciona o aquecimento da massa de ar que está no interior do continente da América do Sul.
De acordo com panorama divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma possível piora está prevista a partir desta sexta-feira, 22, atingindo as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, além do interior de São Paulo, conforme divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
Este ano, o efeito sazonal está sendo intensificado pela influência global das águas quentes do El Niño, cerca de 1,4ºC (graus celsius) acima do normal para o período. O fenômeno representa o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico que, mais quentes, aquecem a atmosfera, contribuindo para o aumento das temperaturas em todo o mundo.
Conforme aponta Meiry Sakamoto, meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Estatística (Funceme), apesar do El Ninõ também causar impacto regional, os picos de temperatura são pontuais e não muito diferentes dos esperados para este mês.
“O Ceará, embora seja quente o ano todo, tem uma época em que as temperaturas são ainda mais altas, que é agora durante o B-R-O BRÓ (setembro, outubro e novembro). Isso se deve à diminuição das chuvas, menos nuvens no céu e maior incidência de radiação solar, que torna as tardes mais quentes naturalmente”, explica a meteorologista.
Conforme previsão divulgada pela Funceme, entre a quarta-feira, 20, e a próxima segunda-feira, 25 de setembro de 2023, as ondas de calor no Ceará devem se concentrar na região Sul e nos Sertões de Crateús e Inhamuns.
Meiry Sakamoto ressalta que as temperaturas mais altas não devem chegar a patamares de 45°C ou 50 °C, porém, mais elevadas do que no período chuvoso.
“Regiões como Sobral, um exemplo naturalmente mais quente, estão com médias de 37 °C. Contudo, estamos vendo os efeitos do El Ninõ de forma pontual. Municípios como Barro e Jaguaribe, no sul do Estado, apresentaram cerca de 40 °C na última semana. Esse registro foi feito apenas em um determinado momento do dia. Contudo, já é maior do que o esperado”, explica Sakamoto.
De forma geral, as temperaturas máximas ocorrem por volta das 14 horas, quando também há uma diminuição na umidade relativa do ar. A menor presença de gotículas de água na atmosfera é comumente detectada em áreas mais afastadas da região litorânea. As mínimas temperaturas, por sua vez, comumente são registradas por volta das 6 horas da manhã.
Ao contrário do que muitos pensam, o termo “onda de calor” não faz referência a um fenômeno que se aproxima de uma região. A onda de calor é formada a partir de uma massa de ar que está sobre o continente e, devido à falta de nuvens e umidade, absorve toda a radiação solar do solo.
Conforme explica Giovanni Dolif, coordenador de Operações e Modelagem substituto Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), essa massa de ar vai aquecendo progressivamente, não sendo capaz de escapar para o Oceano Pacífico, permanecendo no interior do continente.
“A dinâmica ocorre da seguinte forma: ela se origina no centro do Oceano, sendo transportada pelos ventos alísios em direção ao continente, passando pelo Nordeste e Região Norte. Em seguida, essa massa segue seu trajeto, cruzando a Amazônia, fazendo uma curva nas proximidades dos paredões da Cordilheira Andes e descendo em direção ao Sul.
O meteorologista explica que, nas regiões ao sul do continente, essa massa de ar encontra condições de temperaturas mais frias, estabilidade atmosférica e precipitação. O mesmo efeito não ocorre no interior do continente. “Com o sol se tornando cada vez mais quente à medida que a primavera avança e o verão se inicia, essa massa de ar continua a se aquecer”, continua.
Segundo Giovanni Dolif, o aquecimento global e as mudanças climáticas desempenham um papel importante na influência dessas ondas de calor e no aumento das temperaturas no Brasil.
“Desde 1961, a gente não tinha um mês de julho [no inverno] tão quente no Brasil. Se não entrar frentes frias e se não começar a chover, a tendência é termos esses tipos de temperatura, até a possibilidade de registrarmos recordes de temperatura máxima”, conclui o meteorologista.
No período de calor, é essencial cuidar do nosso corpo para garantir o bem-estar. De acordo com a médica de Família e Comunidade, Ricarla Bomfim, como a temperatura ambiente afeta nossa temperatura corporal, é fundamental manter-se hidratado, especialmente nas faixas etárias extremas.
“O suor é um sinal de desequilíbrio hídrico, portanto, é importante beber bastante água e monitorar a cor da urina, que deve estar clara. Além disso, pessoas com pressão arterial elevada não devem negligenciar suas dietas hipossódicas [redução de sal] e medicamentos durante o calor”, comenta a médica
Para lidar com a ansiedade e desconforto, é aconselhável planejar atividades mais estressantes para horários mais amenos. Além disso, proteger a pele com filtro solar, bonés, chapéus e guarda-chuvas é essencial, especialmente para quem pratica atividades físicas ou trabalha sob exposição direta ao sol.