Um grupo criminoso, originado de um núcleo familiar, já atua há anos em Sobral (Região Norte do Estado) e municípios vizinhos praticando, conforme as forças de segurança, crimes como tráfico de drogas, roubo a instituições financeiras e inúmeros homicídios. A atuação dos “Irmãos Coragem” voltou à tona com a morte de um de seus integrantes, Evaldo Batista Ferreira, o “Evaldo Coragem”, morto em intervenção policial na Bahia nessa quinta-feira, 18.
Irmãos de Evaldo também fariam parte do bando, a exemplo de Marcos Batista Ferreira Mendes, o “Marquim Coragem”, e José Eraldo Mesquita do Nascimento, o “Eraldo Coragem”. Todos os três já estiveram na lista de Mais Procurados do Ceará elaborada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Ainda haveria outros irmãos atuantes no grupo. É o caso, por exemplo, de Erandir Batista Ferreira, conhecido como "Careca", assassinado em 2016 e considerado chefe do grupo à época. Também já foram apontados como integrantes da quadrilha Daniel Batista Ferreira e Danilo Batista Ferreira.
A operação “Covardes”, deflagrada em 2019, afirmava que o grupo era composto por seis irmãos e seus respectivos filhos, sobrinhos e primos.
“A FAMÍLIA CORAGEM hoje é filiada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), agindo através principalmente do tráfico de drogas ilícitas, mas também sendo responsável por roubos, furtos a residências e sítios, furto de animais de criação (gado, caprinos, ovinos), receptação de bens roubados e furtados, aumentando consideravelmente o patrimônio pessoal nos últimos anos, com aquisição de casas, fazendas, carros de luxo e motos, bens que, em geral, ficam registrados em nome de terceiros (laranjas)”, dizia a investigação.
Em seu depoimento na operação, Marcos afirmou que a família era composta por dez irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Ele disse que quem cunhou o termo "Irmãos Coragem" foi Erandir, sendo que o nome remetia a uma equipe de vaquejada da qual os irmãos fariam parte. Marcos negou envolvimento da família com o crime.
Evaldo, por sua vez, afirmou que o nome fazia referência à novela "Irmãos Coragem", exibida pela TV Globo em 1970 e, em um remake, em 1995. Também ele afirmou que a família não tinha envolvimento com a criminalidade.
Investigações da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) e do Ministério Público Estadual (MPCE), ao longo dos anos, apontaram o contrário. Em 2015, quando Erandir foi preso, a SSPDS informou que os "Irmãos Coragem" tinham entre 20 e 30 integrantes, que atuavam no tráfico, no roubo a fazendas e a instituições financeiras.
Conforme divulgado pela pasta, Erandir era proprietário de três fazendas “usadas para a lavagem do dinheiro dos roubos e do tráfico de entorpecentes”.
Consulta aos arquivos do Tribunal de Justiça do Estado (TJCE) mostra que, em outubro de 2006, Marcos e Erandir foram denunciados pelo MPCE, ao lado de outras sete pessoas, acusadas de receberem um carregamento de cerca de 230 kg de maconha oriundo de Cabrobró (PE) e que seria distribuído entre traficantes de Sobral.
Um ano antes, em 2005, os dois haviam sido acusados de um latrocínio que vitimou Antônio Carlos Fernandes de Sousa, vigilante que trabalhava em uma fábrica localizada na BR-222, também em Sobral.
Os irmãos disseram que, no dia do crime, estavam no velório do avô deles e foram absolvidos.
Em 2011, a morte de Kelson Araujo da Silva, conhecido como "Ponga", foi atribuída à “Família dos Irmãos Coragem”. Conforme denúncia do MPCE, a vítima teria roubado uma bicicleta no bairro Sumaré, em Sobral, onde atuava o grupo criminoso.
Como a prática de crimes dessa natureza era proibida pelos "Irmãos Coragem", Kelson foi executado. O homem acusado pelo crime, João Iranildo Tomaz da Silva, que integraria a organização, entretanto, foi absolvido pelo Tribunal do Júri.
Erandir foi morto em 19 de abril de 2016 no Centro de Coreaú, a 52 km de Sobral. Ele foi executado com, aproximadamente, 30 tiros. Duas pessoas foram denunciadas pelo crime, sendo um deles, Alexandre Ximenes de Carvalho, o “Pica-Pau”. Em 2019, ele seria apontado pela Polícia Civil como um dos chefes do Comando Vermelho (CV) em Sobral.
Em 2016, porém, a investigação apontou que a morte de Erandir seria consequência da “disputa de tráfico de drogas e desavenças familiares destes e da vítima”. Erandir era apontado como um dos autores da morte de um sobrinho de Alexandre, identificado como Jhonatan Ximenes.