Uma instalação na Praça dos Mártires, conhecida como Passeio Público e um ponto histórico icônico no Centro de Fortaleza, chama atenção por destoar do restante do cenário. Da lateral de onde se pode ter a visão parcial da praia da Leste Oeste, o muro que faz divisa com a área do Comando da 10ª Região Militar recebeu a instalação de arames de concertina. Considerado um patrimônio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a proteção perimetral agride a caracterização original da praça.
Foi nesse estabelecimento onde, na sexta-feira passada, 19, o jornalista cearense Eliézer Rodrigues parou para almoçar e se intrigou com os espirais de arame no muro. “Ué, o Passeio Público é tombado e essa cerca, montada pela 10ª Região Militar, agride a autonomia da caracterização original de um bem artístico”, publicou o escritor, em suas redes sociais.
O POVO foi até o local verificar a instalação, na terça-feira passada,24. Na ocasião, foi possível notar os cerca de 40 metros de arame sobre o muro, ao lado direito do equipamento público. No decorrer de sua extensão, contudo, o muro da praça é reduzido de altura para dar destaque a estrutura de grade de ferro ornamental.
Dessa forma, o arame posto pela organização militar não continua na área do Passeio Público, mas se inclina para o Comanda da 10ª RM, dependência vizinha. Vale ressaltar que, a concertina posta nas dependências da Praça apresenta condições de desgaste e, em diversos pontos, é possível perceber deformidades e ferrugem.
Sobre a cerca de concertina, o Iphan se reservou em informar que “a instalação no gradil do Passeio Público, bem tombado, não teve a aprovação prévia do Instituto”, disse em nota. Segundo o órgão, uma equipe de atuação no Estado “realizará vistoria no local para avaliar o impacto da mesma”.
Sendo a mais antiga praça da Cidade, datada de 1864, o Passeio Público já recebeu diversos nomes: Campo da Pólvora, Largo de Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital da Caridade, Praça da Misericórdia e, a partir de 1879, Praça dos Mártires. O último faz referência a um episódio ocorrido em 1824, quando líderes da Confederação do Equador, como o padre Mororó e Pessoa Anta, foram fuzilados no local.
Na metade daquele século, o presidente da então província, Fausto Augusto de Aguiar, escreveu um relatório sobre a necessidade do ajardinamento da Praça dos Mártires, a fim de torná-la um “belo passeio público”. Em 13 de abril de 1965, o local foi tombado pelo Iphan. Além da bela vista para o mar, a praça atualmente possui como atrativos naturais diversas árvores centenárias, como o famoso baobá plantado por Senador Pompeu em 1910, e um restaurante.
O Comando da 10ª Região Militar foi contatado para prestar esclarecimentos sobre quando a concertina foi instalada, bem como as providências a serem tomadas quanto a irregularidade. O POVO não recebeu resposta até o fechamento desta página.
Fontes: Iphan e Mapa Cultural do Ceará