Fortaleza teve o fevereiro mais chuvoso desde 1953. Os 484,1 milímetros (mm) observados neste mês já representam a maior precipitação da década, do século e dos últimos 70 anos na Cidade. O valor é ainda 31% maior do que o recorde anterior, de 366,8 mm, datado em 2011.
Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e considera dados prelimonares de 2024. Para dimensionar o que fevereiro significou: em apenas cinco dias a Capital não teve precipitações. Um dos destaques foi o sábado de Carnaval, 11, quando a cidade teve a segunda maior chuva dos últimos 50 anos.
O índice elevado se deve à forte atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal indutor de precipitações durante a quadra chuvosa cearense.
Para o meteorologista Agustinho Brito, o aumento na participação da ZCIT pode ser creditado às altas temperaturas do Oceano Atlântico. De acordo com ele, o cenário ficou ainda mais favorável às chuvas no litoral cearense durante a segunda quinzena de fevereiro, quando as águas ao sul da Linha do Equador esquentaram ainda mais.
“Diferentemente dos outros anos, a gente tem um aquecimento de todo o Atlântico, tanto no Norte, como no Sul. A gente vem percebendo nas últimas semanas um aquecimento abaixo da Linha do Equador, e esse aquecimento favorece a Zona de Convergência Intertropical a atuar aqui", explicou.
Fevereiro não foi de muitas chuvas apenas na Capital. Durante o mês, todas as macrorregiões do Ceará tiveram chuvas acima da média, também impulsionadas pela ação da ZCIT.
Passados 29 dias, o Estado apresenta 235 mm de média pluviométrica, terceiro maior valor desde o ano 2000, atrás apenas do fevereiro de 2004, com 243,3 mm, e 2007, que obteve o recorde de 245,1 mm observados.
Assim como em Fortaleza, o Estado apresentou um maior volume de chuvas durante a segunda metade de fevereiro. Segundo dados da Funceme, o período teve oito dos dez dias mais chuvosos do ano até esta quinta-feira, 29, incluindo o maior acumulado de 2024, na última quarta-feira, 28.
Depois de um janeiro com poucas chuvas e um fevereiro de maiores volumes, março deve começar com menos precipitações, pelo menos nos primeiros dois dias, resultado de uma tendência de redução na atividade da ZCIT. Porém, outros fenômenos podem ter atuação.
“A parte sul do Estado recebe a influência da Zona de Convergência Intertropical, mas ela está ligada também a fenômenos que se aproximam do sul do Nordeste. A gente tem as frentes frias que chegam próximo do Nordeste, causam uma instabilidade na atmosfera e fazem com que haja uma instabilidade no Interior. A Zona de Convergência do Atlântico Sul, que traz umidade para o sudeste e o norte, colabora para a instabilidade atmosférica no Nordeste. São esses fatores que contribuem para as chuvas do sul do Ceará”, explica o meteorologista da Funceme, Bruno Rodrigues.
Apesar de muito comemorada pelos cearenses, as chuvas também revelam diversos problemas na infraestrutura das cidades cearenses. Desde alagamentos até o desabamento de prédios, várias fragilidades são evidenciadas pelo fenômeno, Em Fortaleza, as ocorrências atendidas pela Defesa Civil aumentaram 462% em fevereiro.
Em Juazeiro do Norte, um veículo caiu dentro de um buraco da avenida Padre Cícero, alagada pelas chuvas da madrugada de ontem, 29.
Em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, o prefeito da cidade, Glêdson Bezerra, disse que a solução dos problemas passa pela realização de uma macrodrenagem.
“São vários pontos do município que sofrem bastante em época de chuva. Não há alternativa senão uma macrodrenagem. Não adianta fazer só uma drenagemzinha no lugar. Para que isso aconteça, vai ser através do empréstimo do CAF (Corporação Andina de Fomento)”, pontua o prefeito.
Como apontado pelo prognóstico da Funceme em janeiro deste ano, a atuação do El Niño, aquecendo as águas do Oceano Pacífico, pode ocasionar uma quadra chuvosa abaixo da média no Ceará.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o El Niño deve continuar ativo até o fim de julho, ou seja, durante toda a quadra chuvosa do Estado. Segundo o Instituto, o fenômeno tem quatro áreas ativas até este final de fevereiro, das quais três devem perder força até o meio do ano.
“A tendência é de que o El Niño 1 e 2 já venham enfraquecendo. O El Niño 3 e 4 ainda continuam bastante aquecidos. As previsões mostram que o El Niño só vai enfraquecer no meio do ano, principalmente os El Niño 1, 2 e 3”, afirma o meteorologista do Inmet, Flaviano Fernandes.
Além dele, outro fator é esperado para este ano, o La Niña, que ao contrário do “irmão”, esfria as águas do Pacífico. Este fenômeno, por sua vez, não terá tanta influência no período de chuvas no Ceará em 2024, pois é esperada para o início do segundo semestre.
“Essa evolução ocorre para o final do ano, onde a gente está em uma época seca ainda e para nós há uma interferência. Para nós, essa interferência só vai indicar alguma coisa se estiver dentro da nossa quadra chuvosa”, acrescenta Bruno.
Açudes sangrando
Acaraú Mirim (Massapê)
Forquilha (Forquilha)
Patos (Sobral)
Santa Maria de Aracatiaçu (Sobral)
Santo Antônio de Aracatiaçu (Sobral)
São Pedro Timbaúba (Miraíma)
Germinal (Pacoti)
Recordes
Maiores chuvas de fevereiro na Capital
1980: 457 mm
1985: 463 mm
2011: 366 mm
2024: 484 mm
Sobe para sete o número de açudes sangrando no Estado
Sete reservatórios, entre os 157 monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), estão com 100% da sua capacidade preenchida no Ceará. O primeiro a atingir a marca foi o açude Germinal, em Palmácia, no Maciço de Baturité. O segundo foi açude São Pedro Timbaúba, em Miraíma. No mesmo período, em 2023, o estado tinha seis açudes sangrando.
O Ceará, além disso, tem nove reservatórios com a capacidade acima dos 90% e outros 44 com volume abaixo de 30%. Entre os três maiores açudes do Estado, apenas um está com o volume acima dos 50%. O Castanhão, maior reservatório do Ceará, possui 24,34% do nível preenchido, Orós está em 50,79% e Banabuiú em 37,04%.
O Estado tem mais três meses de quadra chuvosa (fevereiro a maio). Porém, como apontado pelo prognóstico da Funceme em janeiro deste ano, a atuação do El Niño, aquecendo as águas do Oceano Pacífico, pode ocasionar uma quadra chuvosa abaixo da média no Ceará.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o El Niño deve continuar ativo até o fim de julho. Segundo o Instituto, o fenômeno teve quatro áreas ativas até o final de fevereiro, das quais três devem perder força até o meio do ano.
"A tendência é de que o El Niño 1 e 2 já venham enfraquecendo. O El Niño 3 e 4 ainda continuam bastante aquecidos. As previsões mostram que o El Niño só vai enfraquecer no meio do ano, principalmente os El Niño 1, 2 e 3", afirma o meteorologista do Inmet, Flaviano Fernandes. (Gabriel Damasceno/Especial para O POVO)