Após 51 dias, chegou ao fim a busca pelos dois primeiros fugitivos da história do Sistema Prisional Federal. Na tarde dessa quinta-feira, 4, Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, e Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, foram presos em Marabá (PA), a cerca de 1.600 quilômetros da Penitenciária Federal de Mossoró (RN), de onde escaparam em 14 de fevereiro.
Conforme divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), os dois foram presos na BR-222 em uma ação da Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Conforme afirmou o ministro Ricardo Lewandowski, em entrevista realizada na tarde de ontem, após ações de inteligência da PF, as duas corporações cercaram um trecho da rodovia, por volta das 13h30min, e prenderam Rogério e Deibson junto a outras quatro pessoas.
Ainda conforme o MJSP, os seis homens foram presos em um comboio de três carros. Com eles, foram apreendidos “vários” celulares, que deverão ser periciados e poderão subsidiar novas investigações. Na ação, um fuzil foi apreendido — Lewandowski afirmou que a arma chegou a ser apontada aos policiais, mas não houve disparos de nenhuma das partes. Conforme informado na coletiva, a dupla planejava fugir para o Exterior.
De acordo com o ministro, a prisão ocorrida em Marabá reforça que os dois fugitivos receberam auxílio. Contando as prisões dessa quinta, 14 pessoas foram presas na operação realizada para a recaptura. Tanto Rogério, quanto Deibson são integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e são originários do Acre.
Lewandowski afirmou que os dois presos voltarão ao Presídio Federal de Mossoró. A penitenciária, destacou o ministro, teve equipamentos reforçados e protocolos reformulados e aperfeiçoados. Eles ainda deverão ficar isolados dos outros detentos.
O secretário Nacional de Políticas Penitenciárias (Senappen), André Garcia, ainda afirmou que melhorias foram empregadas nos presídios federais desde a fuga, o que inclui dez mil câmeras recém-adquiridas e procedimentos reforçados em todas as unidades, a exemplo de revistas diárias em todas as celas. Ele ainda disse que muralhas estão sendo construídas em todos os cinco presídios federais de segurança máxima — a de Porto Velho (RO) ficará pronta até o final de 2025, afirmou.
O ministro Ricardo Lewandowski ainda considerou “razoável” o tempo levado para a recaptura dos dois fugitivos. “Não chegamos a dois meses de operação em um país de extensões continentais. O local onde eles se refugiaram era um local de mato e caatinga. As buscas foram influenciadas pelas fortes chuvas da época”, afirmou.
“Tínhamos a convicção de que os criminosos se encontravam na região, em um raio de 190 quilômetros, um território muito extenso”, afirmou o ministro. “Isso nos obrigava a manter uma força de quase 500 homens de diversas forças de segurança, durante o dia e à noite. Tínhamos vestígios da presença deles: restos de alimentação e rastros captados pelos cães farejadores. Ao longo do tempo, perdemos esses rastros, mas a inteligência da Polícia Federal os monitorou permanentemente, o que permitiu que fossem encontrados a 1,6 mil km de distância” (Com informações de Wilnan Custódio/Especial para O POVO, Agência Brasil e Agência Estadão).
Governo demite diretor de prisão federal
O Ministério da Justiça e Segurança Pública demitiu o diretor da Penitenciária Federal de Mossoró Humberto Gleydson Fontinele Alencar, que estava afastado do cargo desde fevereiro. A portaria de dispensa de Alencar foi assinada na quarta-feira, 3, e será oficializada no Diário Oficial da União nos próximos dias.
Na terça-feira, 2, o ministério concluiu investigação interna a respeito da eventual responsabilidade de servidores na fuga de Deibson Cabral e Rogério Mendonça. O órgão resolveu mover processos administrativos contra 10 servidores, concluiu que não houve corrupção, mas "falhas nos procedimentos carcerários de segurança".
Atualmente, a penitenciária está sob os cuidados de Carlos Luis Vieira Pires, que foi nomeado como uma espécie de "interventor" pelo ministro Ricardo Lewandowski, logo que a cúpula do presídio foi afastada.
De acordo com Lewandowski, os detidos formaram um "comboio do crime" para tentar escapar do País.
Cabral e Mendonça serão levados de volta a Mossoró que, segundo o ministro, passou por uma reestruturação de seus equipamentos de segurança e uma revisão dos protocolos para evitar novas fugas.
A fuga que ocorreu na penitenciária de Mossoró é inédita no sistema penitenciário federal, criado em 2006. A lentidão nas buscas motivaram desgaste para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e para Lewandowski, que havia acabado de assumir a pasta, após o ex-ministro Flávio Dino ir para o Supremo Tribunal Federal. (Agência Estadão)