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Receita apreende 416 kg de cocaína no Porto do Mucuripe, avaliados em 20,8 milhões de euros
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Receita apreende 416 kg de cocaína no Porto do Mucuripe, avaliados em 20,8 milhões de euros

Foi a maior apreensão de cocaína no porto cearense desde dezembro de 2021. A droga havia passado por uma primeira inspeção e só foi detectada num segundo momento. O motorista que levou o contêiner fugiu antes da carga ser detectada, escondida em um carregamento de cera de carnaúba
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VIAGEM tinha destino final no Japão, com passagem pela França (Foto: Divulgação/Receita Federal)
Foto: Divulgação/Receita Federal VIAGEM tinha destino final no Japão, com passagem pela França

Nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira, 6, uma operação da Receita Federal resultou na apreensão de 416 quilos de cocaína no Porto do Mucuripe, em Fortaleza. A carga foi estimada em 20,8 milhões de euros. No mercado europeu, o quilo da droga chega a ser vendido a 50 mil euros, segundo uma fonte do órgão. Ontem, a cotação do euro fechou o dia valendo R$ 6.

O entorpecente estava escondido dentro de um contêiner que transportava cera de carnaúba e tinha como destino final o Japão, mas seria desembarcada, segundo os agentes da Receita, durante uma parada do navio no porto de Le Havre, na França. Este trecho da viagem duraria cerca de uma semana. Foi a maior apreensão de cocaína no Mucuripe desde dezembro de 2021, quando 487 kg foram descobertos no porto, camuflada em um carregamento de alga marinha em pó.

O esquema desta quinta-feira foi descoberto durante o processo de gerenciamento de risco feito pelos agentes da Receita, em operação de rotina para combate ao descaminho, contrabando e tráfico de entorpecentes. Inicialmente, a fiscalização realizou escaneamento padrão da carga no porto, onde a droga não chegou a ser detectada. Em um segundo escaneamento, feito num intervalo de três horas, a cocaína foi localizada.

A situação teria sido possível após denúncias e o registro da evasão do motorista do caminhão que trouxe o contêiner. A fuga do motorista do ambiente portuário foi flagrada pelas câmeras de vigilância do local. Ele já teria sido identificado, mas o detalhamento dessas informações não foram repassadas à imprensa, durante a entrevista coletiva dada pela Receita no início da tarde desta quinta, 6. A justificativa dada foi que poderia atrapalhar o trabalho investigativo. 

Ao todo, 390 tabletes, dispostos em 13 sacos com 30 pacotes cada, foram encontrados pela fiscalização. Na contaminação do contêiner, os traficantes teriam utilizado o método rip-on/rip-off, um dos mais utilizados pelos criminosos em ambientes portuários. O contêiner é aberto sem o conhecimento do exportador e a droga é inserida ilegalmente. Não foi confirmado se houve participação de algum funcionário do porto.

De acordo com o chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho (Direp), da Receita Federal, delegado Ivanilson de Castro, o exportador foi, inicialmente, descartado de envolvimento na contaminação da carga, a princípio feita no Porto. “A carga é contaminada aqui no Porto, na zona primária. Por isso que nós descartamos, até o momento, a participação do exportador”, explicou. Ele justificou que nem o Estado da empresa seria revelado para evitar a exposição inicial do exportador.

O superintendente adjunto da Receita Federal, Marcus Araripe, disse que, atualmente, há um trabalho de melhoria do gerenciamento de risco através do cruzamento de informações com parceiros nacionais e internacionais. "A gente consegue identificar situações, né, que acendem a luz vermelha dizendo: 'Olha, ali existe uma probabilidade de ter algo irregular'", destacou.

A operação foi intitulada Carcará 1 e contou com a participação de oito servidores da Receita Federal, além dos cães farejadores Ithor, Saimon e Bashar. O material apreendido foi encaminhado para a sede da Polícia Federal, que dará continuidade à investigação. Ainda não há informações da origem da droga apreendida no Porto do Mucuripe e quantas pessoas estão envolvidas.

Durante a entrevista coletiva, o chefe da Direp, Ivanilson de Castro, preferiu não apontar qual grupo criminoso seria o "exportador" da droga. Justificou que as informações ainda seriam muito preliminares. Citou que esse trabalho deverá caber à Polícia Federal. O navio que levaria a droga zarparia nesta quinta-feira. 

Novo registro da rota Mucuripe-Le Havre; logotipos nos pacotes identificam cartéis

Em cada um dos 390 tabletes de cocaína apreendidos no Porto do Mucuripe, em Fortaleza, nesta quinta-feira, 6, dois desenhos impressos estavam sob a embalagem plástica que revestia a droga. Um deles, o desenho de um homem de smoking diante de uma carruagem, reproduz o logotipo de uma grife de luxo francesa, a Hermés Paris. A outra era a palavra One, estilizada, com o algarismo 1 sobreposto à perna da letra N.

As imagens coladas aos pacotes são insígnias usadas pelos narcotraficantes. Funcionam como uma digital dos cartéis. Identificam que aquelas são suas remessas dentro das rotas do tráfico nacional e internacional de entorpecentes. Podem até pertencer a mais de um traficante. O material poderá ajudar a Polícia Federal em informações como rastreio de origem, destino ou a propriedade da droga.

A reprodução do logotipo da grife francesa aparecia na maioria dos pacotes apreendidos no Mucuripe. Também sem indicação dos agentes da Receita de que seria ou não coincidência, os 416 kg da cocaína descobertos no porto de Fortaleza seriam desembarcados no porto francês de Le Havre, antes do Japão, destino final do navio que levaria a carga ilícita. Le Havre, na região da Normandia, é um dos principais portos da França. É citado como a principal porta de entrada de drogas no país, segundo registros de apreensões pelas autoridades brasileiras e francesas.

A rota Mucuripe-Le Havre usada pelos traficantes já tem pelo menos um registro anterior, até então o único detectado. Em maio de 2021, foram as autoridades portuárias da França que alertaram os fiscais aduaneiros do Brasil no Ceará. Cerca de 640 kg de cocaína haviam partido do porto de Fortaleza escondidos em um carregamento de manga num único contêiner. Que só foram detectados por escaneamento já no porto francês. Haviam passado despercebidos em águas brasileiras.

"Essas marcas (usadas pelos narcotraficantes) variam muito. Têm a ver com as rotas específicas ou o grupo criminoso que produz a droga. Elas variam muito porque as rotas são muito flexíveis", destaca o professor Thiago Rodrigues, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Segurança e Defesa nas Américas, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A catalogação é feita pelas autoridades policiais e portuárias, mas podem ter vida útil curta. "O mapeamento dessas marcas é importante, mas ele costuma caducar, porque elas não são sempre as mesmas. Alguns cartéis às vezes usam marcas de outros. Por exemplo, sabem que há chance de a droga ser interceptada. Isso incrimina outro grupo e despista a atenção policial", amplia Rodrigues.

O POVO mostrou a imagens dos logotipos para fontes de inteligência policial e fiscal do Ceará, do Distrito Federal, do Rio Grande do Norte e da União Europeia, que não reconheceram a quais cartéis ou grupos as imagens estariam associadas.

O que foi detectado na rota Mucuripe-Le Havre

- Do porto do Mucuripe, em Fortaleza, o navio que levaria a cocaína zarparia nesta quinta-feira, 6, para o Japão como destino final. No caminho, faria uma parada no porto de Le Havre, na França, onde a droga seria desembarcada.
- Os 416 kg de cocaína estavam acondicionados em 13 pacotes, cada um com 30 tabletes, misturados a uma carga de cera de carnaúba num contêiner. Cada pacote pesava 1 kg, em média.
- A inserção da droga teria sido feita dentro do porto do Mucuripe, no método Rip On/ Rip Off. Nele, os criminosos tiram parte da carga original do contêiner e inserem a droga antes de o equipamento ser lacrado e embarcado.
- A carga já havia passado por uma primeira inspeção, por volta das seis da manhã, onde não chegou a ser detectada. Numa segunda inspeção, três horas depois, após análise de risco, houve a descoberta. A princípio, o exportador não teria envolvimento com o caso, segundo a Receita Federal.
- Em maio de 2021, um carregamento de 640 kg de cocaína, que teria sido embarcado no porto cearense, foi descoberto por escaneamento no porto de Le Havre. Estava dentro de uma carga de manga embarcada. Teria passado despercebido em águas cearenses.

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