Era dia 11 de março de 2020 quando o mundo se deparou com uma grave realidade. Nessa data, há exatos cinco anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificava a Covid-19 como uma doença pandêmica, com capacidade de atingir todo o planeta, e acendia um alerta sobre a seriedade da patologia.
Declaração foi dada por Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da entidade, durante uma coletiva de imprensa. Na ocasião, representante ainda chegou a dizer que estava "profundamente" preocupado com os níveis alarmantes de disseminação e gravidade da doença, e "com os níveis alarmantes de omissão”. Na época, menos de 4.300 pessoas haviam morrido no mundo em razão da patologia.
A fala feita por Tedros Adhanom deu um novo tom ao cenário. De acordo com John Zarocostas, jornalista que trabalha para a AFP, agências e ONGs internacionais há mais de 30 anos, a palavra "pandemia" mudou a situação” e alterou a dinâmica em termos de reação dos governos nacionais: "Todos começaram a agir”.
Doença foi considerada pandêmica cerca de três meses após o SARS-CoV-2, vírus causador da patologia, ter sido identificado em Wuhan, na China. Um surto da doença na região, em dezembro de 2019, foi o que levou a identificação. No dia 30 de janeiro de 2020, quando pelo menos 19 países registravam casos da patologia, a OMS classificou o surto como Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (PHEIC).
À época ainda havia uma certa descrença de que o vírus chegaria ao Brasil, que já se preparava para viver mais um Carnaval. No entanto, a nação da América do Sul viria a identificar o primeiro caso de Covid-19 dali a algumas semanas, no dia 26 de fevereiro. Paciente foi um homem de 61 anos atendido no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e que havia viajado anteriormente para a Itália.
Outros 20 casos suspeitos de infecção pelo coronavírus eram monitorados no período pelo Ministério da Saúde (MS), em sete estados do país, sendo eles Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Espirito Santo (ES), Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Santa Catarina (SC).
No estado paulista foi também onde houve o registro da primeira morte em decorrência da doença, no dia 12 de março. Vítima foi uma mulher de 57 anos, que chegou a ser internada mas acabou falecendo.
Três dias depois, em 15 de março, foi a vez do Ceará registrar oficialmente os primeiros casos da patologia. Conforme informações divulgadas pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), se tratava de três pessoas, dois homens e uma mulher, que haviam chegado na unidade federativa em voos internacionais.
Em menos de uma semana depois, no dia 19, o Governo do Estado decretou o isolamento social. Medida buscava diminuir o contágio do vírus ao determinar o fechamento do comércio, restaurantes, bares, igrejas e diversos outros espaços que aglomeravam público. Além disso, barreiras sanitárias também foram instaladas nas divisas da Unidade Federativa com outros estados.
Ações não conseguiram barrar o impacto do vírus, cuja contaminação ocorria de forma rápida. No dia 26 de março morria José Maria Dutra, de 72 anos, a primeira pessoa a vir a óbito no Ceará em decorrência das complicações causadas pela doença. Ele estava internado no Hospital São José, em Fortaleza.
No mesmo dia, as mortes de outras duas vítimas - duas mulheres de 84 e 85 anos - foram anunciadas pela Sesa. Número de óbitos alcançou um disparo alarmante e no dia 13 de maio daquele ano o Estado superou a marca de 100 novas mortes registradas em 24 horas pela primeira vez. Nesse mesmo mês chegou a ser decretado o primeiro isolamento social rígido, ou lockdown, em Fortaleza, epicentro do coronavírus no Ceará. Medidas do tipo foram tomadas por outros estados e países ao redor do mundo.
Enquanto ações urgentes eram adotadas, pesquisadores corriam contra o tempo para desenvolverem uma vacina capaz de proteger a população contra o vírus. Só em dezembro de 2020 nações começaram a aplicar o imunizante. No Brasil, a imunização passou a acontecer em janeiro de 2021, mas encontrou um contexto político desafiador, com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro desacreditado na ciência.
Pais enfrentou diversas ondas da doença e acumula atualmente mais de 715 milhões de casos e mais de 700 mil mortes em decorrência dela. Em todo mundo, foram mais de 13 milhões de vidas perdidas.
Uma catástrofe semelhante poderia acontecer novamente? Para a OMS, a próxima pandemia é apenas uma questão de tempo. Em dezembro de 2021, os Estados-membros da organização, cientes das graves deficiências na luta contra a Covid-19, começaram a trabalhar em um acordo internacional e vinculante sobre prevenção e preparação para pandemias, na tentativa de evitar os mesmos erros.
As negociações são difíceis e uma sessão final está prevista para 7 a 11 de abril, com o objetivo de finalizar o projeto a tempo para a reunião anual da OMS em maio.
Enquanto esperam, os países-membros seguem uma regulamentação sanitária internacional. A partir de setembro, o chefe da OMS poderá declarar uma “emergência pandêmica”. Nos cinco anos desde março de 2020, a OMS declarou ESPII duas vezes, ambas para epidemias de mpox.
O chefe da OMS alerta regularmente os países para não repetirem o ciclo de negligência seguido de pânico que caracterizou a pandemia de covid-19.
Com AFP Notícias
Especial
No impresso, a série "5 anos de covid-19: o legado da ciência" estreou no sábado passado, 8. As duas próximas reportagens serão publicadas nos dias 15 e 29 de março, respectivamente