A Praia de Iracema, em Fortaleza, registrou movimentação moderada no último fina de semana. Mesmo com a suspensão no aluguel, O POVO testemunhou a circulação de poucos patinetes e motonetes elétricos circulando pela orla.
Funcionários de quiosques de aluguel apontaram queda na faturação devido à ausência dos meios de transporte elétricos, enquanto pedestres criticaram a disputa no espaço do calçadão com as diferentes atividades.
Funcionária em um quiosque de aluguel de triciclos e conduções elétricas, Bruna Suellen, de 28 anos, diz estar trabalhando “para não perder o emprego, porque tem dia que não dá nem para fazer a diária”.
A fortalezense apontou que “com certeza” houve um aumento na procura por patinetes, no período que precedeu a suspensão. “Hoje, o público está menor. Muita gente procura. Eles dizem, ‘Valha, acabaram os patinetes?’”.
Com a ausência dos patinetes e veículos motorizados, o que ajuda nas vendas, no quiosque onde Bruna trabalha, é “renovar, pintar” os triciclos, também conhecidos como charretes. Ela reforça, porém, o foco nos modais elétricos.
“Disseram que vai voltar daqui a um tempo (o aluguel de patinetes), mas sem previsão nenhuma. Nem disseram assim, ‘vocês têm 10 dias para trabalhar, depois param’. Não, foi ‘parem logo’. Pode retornar com uma semana, dois meses, nós não sabemos”, opinou Bruna.
Segundo ela, quatro funcionários trabalhavam junto dela; hoje, estava apenas um. “Tem dia que ou faz a diária de um, ou de outro”.
Situação similar é relatada por Aila Medeiros, 35, funcionária de um quiosque de aluguel na altura da Estátua de Iracema Guardiã: “Nesses últimos dias, está bem fraco (o lucro). Em alguns dias, não compensa (funcionar) só com patins e charrete (triciclo). Tem dias que não venho trabalhar, não tem o lucro da minha diária. Os elétricos mantinham melhor o lucro”.
O ponto onde trabalhava é gerenciado pelo ex-cunhado dela em parceria com a irmã. O grupo atua na região há 10 anos. “Antes não tinha muito elétrico. Tinha muito interesse nas charretes. Com os elétricos, perderam o interessante. Porque é mais fácil, mais rápido, você não cansa tanto (usando o elétrico)”.
Aila acrescentou que, durante o “feriadão” da Semana Santa, o movimento “está muito ruim” para o negócio “porque nosso maior lucro são os elétricos”.
Conforme a Prefeitura de Fortaleza, a suspensão no aluguel de patinetes busca regularizar o serviço na Capital e evitar acidentes. Em documento enviado aos permissionários da Beira-Mar, a qual O POVO tece acesso, a gestão informou que a suspensão seria por tempo “indeterminado”.
Ainda, a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) prepara um decreto de mobilidade urbana para o uso de patinetes e motonetes elétricos na Capital.
Em 5 de abril último, parte dos permissionários se reuniu em uma reivindicação durante o evento de entrega da reforma do Pavilhão Atlântico, no Poço da Draga. Eles posicionaram alguns patinetes no local, em uma espécie de protesto silencioso contra a suspensão do aluguel desses equipamentos.
Uma das trabalhadoras presentes demostrou apreensão com a chegada da empresa Jet Brasil Patinetes, que deve instalar 2 mil veículos desse porte na Capital, sendo 450 na orla. Companhia chegou a funcionar na Praia de Iracema no início de abril, mas teve atividade suspensa e espera autorização.
(Com Gabriela Almeida)
Transeuntes e trabalhadores ouvidos pela reportagem neste sábado, 19, pontuaram a importância de uma organização no calçadão do Aterro e do Aterrinho. Para a jaguaribana Jeane Dantas, 50, “algumas pessoas trafegam muito rapidamente. O calçadão não é dos pedestres. O pedestre sai perdendo”.
Na visão dela, que passeava no calçadão com familiares mais velhos, é preciso “delimitar”, pois “não é porque é orla que você pode andar de tudo que é coisa”.
“Para a orla ficar mais segura”, opinou, “acho que pode ter outras faixas específicas. Para o pedestre não disputar, por exemplo, com ciclista, que não deve ficar parando. É complicado. Acho perigoso”.
Jeane aponta que situação semelhante ocorre no Lago Jacarey: “A gente ia sendo atropelado por uma bicicleta lá. Porque quando você tá andando no local, conversando, você fica despreocupado”.
“E aí, de repente vem uma bicicleta. Agora há pouco, aqui no calçadão, passou um de bicicleta. É complicado ter que reparar em quem vem por trás”.
Naturais de Fortaleza, Roberto Marinho, 43, e a esposa moram atualmente em Caucaia. O casal tenta visitar a Beira-Mar e a Praia de Iracema a cada dois meses. Mesmo sem a presença frequente, os dois pontuam achar “perigosa” a movimentação de caminhantes e meios de transporte.
“Alguns vêm com velocidade. Como não venho muito, nunca cheguei a ver acidente. Não me sinto inseguro, mas ainda acho um pouco perigoso”, refletiu.
De acordo com Bruna Suellen, que trabalha em quiosque de aluguel, “deveriam botar ordem” no calçadão. “Porque muitas vezes quem tá na bicicleta quer estar no calçadão, quem está nos patins quer ir na ciclofaixa… Aí tem gente correndo no calçadão. Então, fica uma bagunça”, comentou ela.
“Melhor seria ter gente aqui para fiscalizar, para dar suporte”, sugeriu. A ideia é compartilhada por Francisco José Sousa, 57, motorista particular e morador do bairro Pirambu, que visitava a orla com dois filhos e a esposa.
Segundo ele, os pedestres “não têm que disputar com os outros, mas, realmente, as pessoas são difíceis. Já vi idosos caminhando na ciclofaixa”. Por isso, “era para ter fiscalização constante [no calçadão da orla], igual segurança de shopping. De ponta a ponta, fazendo a orientação”.
Ele também citou a falta de “consciência” dos usuários da orla. Para Jeane Dantas, o que falta é “respeito e educação”. “Acho que se existisse, só a via resolveria. Infelizmente não tem respeito, por isso são necessárias regras”.