Os últimos momentos da quadra chuvosa deverão ser de precipitações abaixo da média histórica no Ceará. Restando 12 dias para o fim, maio registrou apenas 33 dos mais de 90 milímetros (mm) de chuva considerados normais para o mês, conforme dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Até ontem, 19, somente os municípios de Araripe, a 567 km de Fortaleza, e Potengi, distante 546 km da Capital, tiveram chuvas acima do esperado para o quinto mês do ano. Os números, entretanto, disfarçam o real nível de precipitações, já que ambas as cidades, historicamente, estão entre as dez onde menos chove durante maio no Ceará.
O cenário geral cearense até o momento é de baixa incidência de chuvas, com números inferiores à média histórica em todas as oito macrorregiões. No Litoral de Fortaleza, por exemplo, área que comumente concentra as maiores precipitações em todo o Estado, o déficit é superior a 71% e não deve ser recuperado até o dia 31.
Isso porque, segundo o pesquisador da Funceme Francisco Vasconcelos Júnior, a expectativa do órgão é de que as chuvas se mantenham de forma isolada e em baixa intensidade até o fim do mês. A explicação para essa redução seria um conjunto de fatores, como a ausência de outros sistemas causadores de chuva.
“Maio já é aquele mês de transição, o mês já de final do período chuvoso. A explicação é não só isso, mas que nós tivemos poucos eventos de entrada de sistemas chamadas de ondas de leste, eventos vindos do Atlântico Sul, que eles entram, e com o continente muito quente, acabam produzindo chuva”, explica Vasconcelos.
Entre os poucos lugares onde se pôde ver bons números esteve a cidade de Acaraú, no Litoral Norte, que registrou 151 mm durante os 19 dias passados do mês. Ela e outros quatro municípios da região estão em torno da média histórica, mesmo com a queda de precipitações no Estado e compõem os mais chuvosos do Ceará de maio até aqui.
Até a próxima quarta-feira, 21, a previsão é de chuvas em todas as macrorregiões do Ceará, especialmente durante os períodos da tarde. Mesmo com as precipitações, as temperaturas devem seguir altas, variando de 32 °C a 36 °C em grande parte do Estado.
Depois de um janeiro com números acentuados e de registros dentro da normalidade em fevereiro e março, os índices de precipitações no Ceará têm desacelerado. Segundo dados da Funceme, o último mês de abril acumulou 120,2 mm de chuva em todo o Estado, número 37% abaixo do normal para o período, que é de 190,7 mm.
O cenário não é de todo estranho e já aconteceu outras quatro vezes nos últimos dez anos no Estado. Entretanto, o resultado obtido em abril de 2025 é o pior desde 2017, quando foram acumulados 110,3 mm.
Além da já citada ausência de eventos oceânicos, Vasconcelos aponta o afastamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal vetor de chuvas do Estado, como causa do tempo mais firme. Segundo o pesquisador, a ZCIT começou a se deslocar para o Hemisfério Norte desde o início de abril, e por isso, a quantidade de precipitações em solo cearense diminuiu.
Junto a ela, uma rápida atuação da Oscilação Madden Julian (OMJ), fenômeno que influencia padrões de circulação atmosférica em grande escala, durante a primeira quinzena, propiciaram os números abaixo do esperado para abril.
“Ela [ZCIT] começou realmente ali em meados de abril a ir mais para norte. Hoje, para você ter ideia, ela já está totalmente no Hemisfério Norte, cerca de 3°, 4° ao norte. Realmente foi não só a OMJ, que é algo que passa bem rápido. Para se ter ideia, ela percorre o globo todo em média de 46 dias. A atuação sobre o estado é de oito dias, dez dias…”, acrescenta Vasconcelos.
Os impactos desse cenário climatológico podem ser observados nos resultados do trimestre março-abril-maio, que até agora acumulou 358 mm. O período caminha para ficar abaixo do considerado normal, que é entre 402 e 573 mm.
No último mês de março, a Funceme divulgou prognóstico onde apontava 45% de chances das chuvas ficaram dentro da média e 30% de serem inferiores ao esperado. As chances de superar a normal eram de 25%.
Já o aspecto geral da quadra ainda é indefinido. A 12 dias do fim, ela segue apenas 29 mm abaixo da média histórica, valor que pode ser alcançado durante os últimos dias de maio.