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Marcha da Maconha levanta pauta antiproibicionista na Beira Mar
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Marcha da Maconha levanta pauta antiproibicionista na Beira Mar

Os manifestantes se deslocaram neste domingo, 25, pela avenida Beira Mar em 17ª edição do ato em Fortaleza, defendendo a legalização da cannabis
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MARCHA da Maconha ocorreu nesse domingo, 25, na avenida Beira Mar (Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo)
Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo MARCHA da Maconha ocorreu nesse domingo, 25, na avenida Beira Mar

A concentração de manifestantes na estátua da Iracema Guardiã, localizada na avenida Beira Mar, atingiu o seu ápice às 16h20 de ontem, 25, em Fortaleza. O horário não foi por acaso: em sua 17ª edição, a Marcha da Maconha iniciou com um aceno à numeração 4/20, associada ao uso da planta.

O deslocamento dos participantes leva o debate sobre a descriminalização da cannabis no Brasil até a Beira Mar, um dos cartões-postais da Capital, permeado de turistas e fortalezenses no final de semana. É ali, cruzando o calçadão da avenida, que os manifestantes denunciam as pré-concepções atreladas à maconha.

“O que incomoda, principalmente essa galera hipócrita, não é o que estão fumando, mas é a roupa que a galera tá usando. É a chinela que a galera está vestindo, é o chapeuzinho aba reta, é o skate… é a cor da pele que incomoda, não é o seu uso”, reflete Lígia Duarte, uma das organizadoras do evento.

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 “Aqui é a cultura periférica pulsante, a galera veio de todas as partes. Inclusive, essa maioria, essa elite política, nunca vai acessar”.

Duarte, que também é militante da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), revela que na edição anterior, em 2024, a participação estimada foi de 5 mil a 7 mil pessoas, número que deve ser ampliado em 2025.

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Acesso medicinal

Aos que participam pela primeira vez, como Bruna Barbosa, 26, a presença na Marcha da Maconha simboliza a chance de ampliar o acesso medicinal à planta. “Desde 2019, virei paciente canábica. Tanto eu, quanto meu filho”, explica.

A decisão foi motivada por dores crônicas causadas pela fibromialgia, no caso de Bruna, além do Transtorno do Espectro Autista (TEA) de ambos.

“Ver que meu filho ou teria essa saída, de tomar o óleo, ou teria que ser vítima desses remédios de ansiedade que eu tomo desde os meus 11 anos, que têm diversos efeitos colaterai. Então, hoje eu vim não só por mim, mas pelo meu filho”, diz.

Para o presidente da Associação Escola Cannábica do Ceará (ECC), Lucas Mateus, 34, a participação na Marcha oferece a chance de trazer informações às pessoas que ainda não conhecem os benefícios da cannabis e seu uso medicinal

“A gente discutiu neste ano em trazer a informação para as pessoas. Sabemos que o preconceito é justamente um julgamento sem conhecimento. Então, a gente decidiu informar as pessoas mais ainda”, revela.

Em 2008, Lucas conta que sofreu um acidente de moto. “Eu bati a minha cabeça fortemente e tive convulsões. Depois de ter tentado diversos remédios aqui no Brasil, não tive nenhum êxito”, informa.

Em 2017, já em tratamento com cannabis de forma caseira e notando a melhora, foi até o Uruguai para se especializar no cultivo e extração da cannabis medicinal. Ao retornar, graças a amigos que eram advogados e médicos, decidiu entrar com um habeas corpus para o cultivo caseiro.

No artigo 2º, parágrafo único, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), aponta-se que a União pode autorizar “o plantio, a cultura e a colheita (...), exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização”.

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No meio da multidão, o artista Victor Oliveira, 28, é o representante brasileiro de uma pequena “trupe” de palhaços que entretém os transeuntes. O trio é completado pela colombiana Estefania “Coragem” Velez, 33, e pelo argentino Gino “Sei Lá” Fonseca, 28.

“Geralmente a gente sempre ‘cola’ aqui no movimento da marcha, sempre quando tem”, diz Victor. “Só que aí eu como palhaço, nesse ramo que eu estou atualmente, tem umas companhias, outros palhaços que trabalham junto”.

Nesse momento, Estefania interpela — “É o desejo de brincar”. O amigo brasileiro assente, antes de acrescentar: “A gente aproveita o momento de protesto, dessa luta, também para brincadeira, né? Ao mesmo tempo, para além de brincar, também criticamos”.

Quando a entrevista termina e o trio sai pela avenida, o céu começa a adquirir uma coloração acinzentada. A promessa de chuva é cumprida por volta das 17 horas, e os primeiros pingos são acompanhados por uma ventania que bagunça os cabelos - mesmo assim, a marcha continua.

Abrigada em um guarda-sol de praia com os amigos, esperando a chuva passar, é a assistente social e designer de Moda Naylla Costa, 26, que sintetiza os desafios da Marcha da Maconha: “Mesmo que as pessoas não estejam aqui, elas estão no alto dos prédios, fumando”.

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