Escola Indígena Chuí, localizada na Aldeia Olho D’Água, território da etnia Pitaguary, em Maracanaú, na Região Metropolitana, ganhou a primeira Sala Google para os povos originários do Brasil. A inauguração ocorreu nessa quarta-feira, 28, com celebrações típicas da identidade de origem do País e na promessa da equidade educacional pela tecnologia para 426 estudantes da Educação Infantil ao Ensino Médio Regular.
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A Casa Civil do Governo do Estado do Ceará, por meio da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), em parceria com a Secretaria da Educação (Seduc), Secretaria dos Povos Indígenas (Sepince), e a empresa Golden, representante cearense da big tech dos Estados Unidos, são as responsáveis pela iniciativa.
Segundo o Governo, haverá a criação de 40 salas até o fim de 2026. Anteriormente, foram inauguradas 11 unidades em: Acaraú (duas sedes), Itaitinga, Deputado Irapuan Pinheiro, Maracanaú, Fortaleza, Beberibe, Limoeiro do Norte, Crato e Juazeiro do Norte.
De acordo com Mara Pitaguary, secretária dos povos originários do município, a etnia Pitaguary divide-se também em outra localidade, Pacatuba. Conforme o censo do IBGE de 2024, são 5.011 indígenas. "Mas sabemos que somos muito mais porque existem os indígenas que são cadastrados e os indígenas que são desaldeados, que moram às margens da aldeia", explica.
Mara acredita que o novo equipamento vai gerar mais conhecimento e inclusão, como a aprendizagem da inteligência artificial. "Para eles, é novidade. Podem até ter um celular na mão, mas não sabem como utilizar. Quem sabe esse conhecimento faça com que a comunidade indígena seja mais reconhecida, onde possam também trabalhar com programas voltados às redes sociais e à internet", imagina.
Francisco Barbosa, presidente da Etice, explica que a implementação dessas salas é feita em escolas estaduais ou municipais. "Ele [aluno] tem acesso a plataforma “Google for Education”, trabalhando a questão do ensino, onde pode conduzir e guiar os seus estudos, e também com acesso a outras trilhas de formação, se desenvolvendo e se interessando em trabalhar mais com tecnologia. É uma profissão do agora, não é do passado nem do futuro. Quem trabalha com tecnologia tem uma oportunidade muito grande de se posicionar profissionalmente", define.
“É uma reparação ao povo brasileiro. O indígena é o povo brasileiro. Os portugueses, quando chegaram como supostos descobridores, invadiram e tomaram uma terra. Hoje, nós vamos conseguir colocar uma menina indígena, pitaguary, cearense, brasileira, com informação e tecnologia, com a inclusão digital de um menino que esteja em qualquer local do mundo, com acesso à tecnologia”, afirma.
Helder Nogueira, secretário executivo de Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil da Seduc, informa que 44 escolas indígenas estaduais existem no Ceará. Adianta ainda que a próxima unidade do Google será em Crateús, com um colégio a definir.
"São escolas que estão localizadas em comunidades, muitas vezes, distantes. Assim, o acesso à internet é mais complicado, inclusive do ponto de vista da logística. Então, olhar de forma diferenciada para eles é algo que para nós é muito precioso. Nesse sentido, garantir o acesso à tecnologia e que a tecnologia promova inclusão e aprendizagem, compondo o projeto de vida desses estudantes", analisa.
Ceiça Pitaguary, secretária nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena, expõe que a trajetória da educação aos povos originários é difícil e foge da regra comum. "Saímos de uma condição de professores voluntários ensinando debaixo de um pé de mangueira ou de cajueiro, para hoje, em 2025, estarmos aqui. Temos um avanço muito grande no Ceará, precisamos avançar nos outros estados", aponta.
Segundo Ceiça, a unidade não é só um espaço entre docentes e discentes, justamente por ter um caráter comunitário servindo para reuniões e assembleias das próprias comunidades.
Já Juliana Alves, secretária dos povos indígenas do Estado do Ceará, destaca a importância de que esses conhecimentos adquiridos permaneçam nas aldeias. Visto que são mais de 300 povos indígenas na Nação falando para além de 264 línguas. "Justamente para dar continuidade à luta das suas lideranças. A gente pensa na perspectiva, no que diz respeito, de que nós somos passageiros. É importante termos acesso aos conhecimentos tecnológicos, irmos para os espaços das universidades públicas ou privadas, mas é importante também darmos continuidade à luta daqueles que nos antecederam. Então, é por isso que a nossa preocupação é manter os nossos alunos dentro do território", pontua.
A professora Nívea Paula, 49, professora da escola premiada de sociologia, eletiva de ciências humanas, língua portuguesa e dinâmicas do professor diretor de turma (PDT) celebra a Sala Google.
"Ela veio para nos ajudar. É um método de socorro. Porque na sala de aula, a gente trabalhava com atividade por quadro e pesquisa. Eles traziam celular, só que eles não estavam usando para isso. Estava com o mundo fora. Então, é um avanço", comemora.
O equipamento vai ser utilizado por ela para jogos matemáticos, sociológicos, questões de perguntas e respostas, e mapas mentais. Carlos Eduardo, 16, estudante do 2º ano do Ensino Médio, quer fazer faculdade de Informática, um “prato cheio” para a área do Google.
"É uma construção que já estávamos querendo, porque aumenta o uso da tecnologia. Ajuda a elaborar questões e a evitar o uso inadequado do celular na internet", declara.