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Ceará tem quadra chuvosa dentro da média e reserva hídrica acima de 50%
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Ceará tem quadra chuvosa dentro da média e reserva hídrica acima de 50%

Apesar da queda nos índices de precipitação a partir de abril, Estado atingiu o nível mínimo da média histórica; nível geral de armazenamento dos açudes é inferior a 2024, mas Orós volta a sangrar depois de 14 anos
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A CHUVA do último sábado de maio marcou o fim da quadra chuvosa no Ceará (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A CHUVA do último sábado de maio marcou o fim da quadra chuvosa no Ceará

Após quatro meses, a quadra chuvosa cearense de 2025 chegou ao fim no último sábado. O período, que vai de fevereiro a maio, reservou chuvas dentro da média histórica e manteve o Estado com mais da metade de sua capacidade hídrica armazenada pelo terceiro ano consecutivo.

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Ao todo, 517.9 milímetros (mm) caíram sobre todo o Ceará, apenas cinco mm acima do nível considerado mínimo para a média histórica, que é de 512 mm, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Sem grandes sobressaltos mensais e com poucas precipitações durante a segunda metade da quadra, o total para o Estado passou longe dos 761.7 mm de 2024, melhor índice em 15 anos.

A cidade com o maior média de chuvas foi Caucaia, com 1.431 mm, seguida da Fortaleza, com 1.326 mm e Maracanaú, com 1.264 mm. Todas as três fazem parte da macrorregião da Capital, área em que mais choveu no Ceará.

Em contrapartida, houve locais como o Sertão Central e Inhamuns, que registrou apenas 418.7 mm em precipitações, índice abaixo do considerado comum para os meses de fevereiro a maio, e concentrou oito das dez cidades onde menos choveu no Ceará.

O cenário apresentado é similar aos prognósticos lançados pela Funceme, que indicavam 45% de chance das chuvas dentro da média histórica. Nas previsões válidas para os períodos de fevereiro a abril e março a maio, a Fundação alertou para um maior volume de chuvas no Centro-Norte do Estado e possibilidade de tempo mais firme ao Sul.

O segundo prognóstico em particular, anunciava uma possível irregularidade de onde e quando as chuvas iriam acontecer. Essa inclusive foi uma das características dessa quadra chuvosa, com alguns meses fugindo dos números tradicionais, seja para menos ou para mais.

Foi assim logo no começo do ano, quando janeiro acumulou 191.1 mm, quase o dobro do considerado normal para o mês. Se o começo de 2025 teve essa positiva surpresa, o mesmo não pode ser dito da segunda metade da quadra chuvosa.

Após fevereiro e março de chuvas dentro da média, abril registrou uma queda brusca no número de precipitações, tendo o seu pior resultado desde 2017, com apenas 120 mm.

Conforme explicado pela Funceme à época, a explicação para esses cenários passa pela atuação de sistemas meteorológicos próximo ao Ceará. Em janeiro, o início da aproximação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), maior indutor de chuvas do Ceará, e a chegada da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), resultaram em precipitações mais fortes e recorrentes.

O motivo das chuvas em abril também está relacionado com a um afastamento precoce da ZCIT, que subiu para o hemisfério norte nas primeiras semanas do mês, afastando-se do Ceará. Atrelado a isso, uma rápida atuação da Oscilação Madden Julian (OMJ), fenômeno que influencia padrões de circulação atmosférica em grande escala, durante a primeira quinzena, propiciaram os números abaixo do esperado para abril.

Como foi cada mês da quadra chuvosa no Ceará?

Ceará termina quadra com mais da metade da capacidade hídrica pelo terceiro ano seguido

Apesar de substancialmente inferiores às do ano passado, as chuvas de 2025 foram suficientes para manter o armazenamento de 55% da capacidade hídrica do Estado ao final de maio. Este é o terceiro ano seguido em que o Ceará termina a quadra com pelo menos metade da reserva total.

Com a queda nas chuvas a partir de abril, dez das 12 bacias hidrográficas do Ceará apresentaram queda no comparativo com o fim da quadra de 2024. Apenas as bacias do Alto Jaguaribe e da Serra da Ibiapaba (que possui apenas um açude), tiveram acréscimo.

Comparativo bacias hidrográficas do Ceará ao fim da quadra chuvosa 2024-2025

A boa notícia dessa quadra fica por conta do açude Orós, segundo maior do Estado, que voltou a encerrar a quadra em sangria depois de 14 anos. O reservatório chegou ao nível máximo ainda no dia 26 de abril, e segue transbordando desde então.

A sangria do açude atraiu moradores do município homônimo e região, que compartilharam o momento nas redes sociais. Segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), o reservatório comporta até 1,9 bilhão de metros cúbicos (m3) de água.

Se por um lado o Orós transborda, outros grandes açudes do Estado tiveram perda de água entre o fim das quadras de 2024 e 2025. O Castanhão, maior reservatório hídrico da América Latina, perdeu o equivalente a 440 m3. Hoje, o gigante do município de Alto Santo, a 250 quilômetros (km) de Fortaleza, comporta cerca de 29% de sua capacidade máxima.

O terceiro maior do Estado, Banabuiú, foi mais um a sofrer queda dos níveis de armazenamento. Ao fim de maio de 2024, o reservatório acumulava 42% de sua capacidade, enquanto este ano, somou 36%.

Apesar das quedas, o nível atual dos açudes não compromete o abastecimento de água no Ceará pelos próximos anos. A manutenção de pelo menos 50% da capacidade total mantém o ritmo de recuperação da seca que assolou o Estado entre 2012 e 2016.

A escassez de chuvas no período fez com que as reservas hídricas do Estado caíssem de 85% em 2011, para 11% em 2016. O cenário que só teve maiores sinais de recuperação a partir da quadra de 2020, que injetou mais de 3 bilhões de m3 de água nos açudes. Ainda sim, naquele ano, o Estado terminou maio abaixo dos 40% da capacidade máxima de armazenamento.

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