Em 59,9% do território cearense, as precipitações da quadra chuvosa de 2025, entre fevereiro e maio, ficaram abaixo da média histórica. Apenas cerca de 5% do Estado ficou acima da média.
A informação é da Fundação Cearense de Meteorologia de Recursos Hídricos (Funceme), divulgada durante a avaliação anual da quadra chuvosa, realizada ontem, 4, na sede da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), em Fortaleza.
As regiões mais afetadas pela falta de chuvas foram o Sertão Central e Inhamuns, Serra da Ibiapaba e Vale do Jaguaribe.
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O cenário reflete uma quadra chuvosa que, apesar de ter finalizado dentro da média histórica, esteve aquém do esperado.
Apesar dos resultados abaixo em boa parte do Ceará, algumas localidades, como a faixa litorânea e as proximidades do Orós, segundo maior açude do Estado, podem comemorar as chuvas deste ano.
“As chuvas começaram mais cedo e o quadro foi bem animador, mas não tivemos o acúmulo que nós esperávamos. No litoral temos um acúmulo muito bom, no Orós um acúmulo muito bom, tanto que sangrou, mas temos regiões que causam muita preocupação. O aporte no geral foi confortável diante de nossas circunstâncias”, comentou o secretário dos recursos hídricos do Ceará, Fernando Santana (PT).
De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), os 157 reservatórios monitorados atualmente no Estado estão com 54,88% da capacidade total acumulada, valor praticamente idêntico ao do ano anterior, quando se chegou a 56%.
No entanto, o número de açudes sangrando no pós estação chuvosa caiu de 49 em 2024 para 26 em 2025. Atualmente, outros 36 reservatórios estão com mais de 90% de volume. Por outro lado, 30 ainda operam com menos de 30%.
De acordo com Yuri Castro de Oliveira, presidente da Cogerh, apesar da quadra chuvosa não ter sido acima da média, conseguiu garantir um aporte razoável de água. “Já alcançamos 6 bilhões de metros cúbicos aos reservatórios. O ano passado foi excepcional, com 10 bilhões. Comparativamente, este ano teve um desempenho satisfatório”.
Pelo sexto ano consecutivo, não será necessário transferir água do Jaguaribe para a Região Metropolitana de Fortaleza, que se mantém com mais de 90% de acúmulo em seus reservatórios.
A região Jaguaribana, embora com alguns índices baixos, se beneficia do acúmulo nos principais açudes, Orós e Castanhão, que somam 4 bilhões de m³. A situação, segundo Yuri Castro, “garante tranquilidade para o abastecimento humano, irrigação e carcinicultura”.
Entretanto, ele ressalta a irregularidade espacial. “Temos bacias no litoral com mais de 90% de acumulação, como Coreaú e Acaraú. Entretanto, os Sertões de Crateús, com apenas 20%, apresentam hoje a pior situação hídrica do estado”.
Também destacam-se a bacia do Banabuiú, com 36% de acumulação, e a bacia do Médio Jaguaribe, com cerca de 30%. Já no sul do Ceará, as bacias registram mais de 60% de volume acumulado.
Para enfrentar os desafios da distribuição desigual das chuvas, a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) destacou investimentos como o projeto de duplicação do Eixão das Águas, que levará água do Castanhão à Região Metropolitana de Fortaleza. Mais de R$ 1 bilhão devem ser investidos na obra.
Outra frente é o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), na região do Cariri, com 86% de execução. A expectativa é concluir até junho de 2026, com investimento total de R$ 2,4 bilhões, beneficiando municípios como Missão Velha.
No Sertão Central, um dos focos é o projeto Malha d’Água, que capta água do rio Banabuiú e abastecerá nove municípios e 38 distritos, com investimento de R$ 643 milhões.
A cidade de Milhã é hoje a que mais preocupa o governo. Outros municípios que acendem alerta para a pasta são Ipaumirim, Baixio e Umari.
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“Estamos fazendo todo o esforço para que a água chegue a Milhã até julho. Já alugamos geradores para garantir o funcionamento da estação de tratamento, diante do atraso da Enel no fornecimento de energia”, explicou o secretário Fernando Santana.
Encerrada a quadra chuvosa, os meses até o final do ano devem ser de ainda menos chuvas no Ceará. Com a saída da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal vetor de precipitações do Estado, os registros devem ficar cada vez mais pontuais, e sem intensidade para abastecimento de reservatórios ou culturas agropecuárias.
Essa é a expectativa de junho, por exemplo, historicamente o mês com menos chuvas do primeiro semestre. As atenções dos órgãos hídricos do Estado se voltam agora não mais para o volume de chuvas, mas sim para as cidades que vão precisar de auxílio no abastecimento
“O cenário para os próximos 30 dias não é animador. Já temos que nos preparar para identificar os municípios que vão precisar de alguma ação mais imediata para os usos [de água]”, afirma o presidente da Funceme, Eduardo Sávio.
No relativo à temperatura, o Ceará deve seguir registrando algumas baixas temperaturas, como a vista em Aiuaba, no último dia 30, acrescidas de fortes ventos até meados de agosto. Após esse período, será iniciado o "B-R-O Bró", época de maiores índices de calor no Estado.
“De julho e agosto tem ainda [baixas temperaturas]. A circulação vai mudar um pouco em setembro, os meses de setembro, outubro e novembro em que a temperatura vai subir bastante porque a gente chega perto do verão no hemisfério sul”, explica o pesquisador da Funceme, Francisco Vasconcelos Júnior.
Colaborou o repórter Kleber Carvalho