Quando a iluminação do prédio da reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) brilhou nos tons do arco-íris, Raquel Patrício, 23, parou sua resposta ao O POVO na metade e se juntou às palmas. A estudante de psicologia fez parte do público reunido nessa quinta-feira, 12, em homenagem simbólica às cores da bandeira LGBTQIAPN+.
A luminosidade temporária busca representar as celebrações do Mês do Orgulho, comemorado em junho, e foi precedida por uma breve cerimônia no auditório. Na ocasião, o espaço contou com a presença do reitor da UFC, Custódio Almeida, e da secretária da Diversidade do Estado, Mitchelle Meira.
“Fico muito feliz e fico muito orgulhosa de fazer parte da UFC nesse momento, vendo aqui a contagem regressiva, né?”, sorri Raquel, enquanto as vozes de fundo impulsionam o coro — “três… dois… um!”.
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“Como uma pessoa que entra na universidade pela política de cotas e continua pelas políticas de permanência, eu vejo esse reconhecimento como uma anunciação de que a UFC está firmando um compromisso”, ressalta.
A jovem é acompanhada por Mirela Studart, 23. Juntas, a dupla faz parte da 2ª Semana do Orgulho LGBTQIAPN+, uma iniciativa de estudantes do curso de Psicologia da instituição, que nasceu a partir de “uma falta de reconhecimento e de um compromisso com a nossa futura profissão de abarcar todos”, segundo Mirela.
Para a secretária da Diversidade, Mitchelle Meira, a ação promovida pela universidade representa um passo importante. “As coisas simbólicas também têm valor, têm muito valor”, afirma.
“Porque a gente diz também que a universidade é um espaço de todas as pessoas”, destaca. “Tem pessoas que conseguem sonhar quando veem assim, porque muitas vezes a pessoa não consegue sonhar nesse espaço”.
“Deixar a UFC iluminada com as cores do respeito, do orgulho da bandeira LGBT, para além disso, é sinalizar para a população que esse espaço é um espaço de todos e todas. Então, é muito importante esses momentos”, completa.
A percepção também é compartilhada pelo reitor da UFC, Custódio Almeida, que evidencia o papel da universidade como um “lugar da emancipação das pessoas, da conquista da maioridade intelectual, da conquista da liberdade”.
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“Nós somos universidade. Enquanto universidade estamos comprometidos com a vida, com a liberdade”, diz. “Nós estamos comprometidos com o combate a todas as formas de preconceito, a tudo aquilo que retira o ser humano da sua dignidade”.
Mais cedo, a instituição de ensino superior também exibiu o documentário Transversais (2022), que acompanha a trajetória de cinco pessoas trans do Ceará. “O Trabalho no Cinema" é um projeto que pensa o mundo do trabalho através dos filmes, através da linguagem fílmica. E nesse mês do orgulho, nós estudamos e fizemos uma sessão acadêmica de ‘Transversais’, do Émerson Maranhão”, explica o coordenador da ação de extensão Trabalho no Cinema, Paulo Carvalho.
“E com uma bela representatividade de, após o cine debate, termos esse momento histórico na reitoria, do acendimento das luzes”, completa. “Eu acho que acender as luzes é também acender a pulsão da universidade em discutir, através de diversas linguagens, a questão da diversidade”.
Durante a cerimônia no auditório, a celebração recebeu sua própria “trilha sonora” improvisada, declamada com emoção pela vice-reitora, Diana Azevedo, adaptando a canção “Milagres do Povo”, por Caetano Veloso:
“Quem é ateu e viu milagres como eu / Sabe que os deuses sem Deus / Não cessam de brotar, nem cansam de esperar / E o coração que é soberano e que é senhor / Não cabe na escravidão, não cabe no seu não /Não cabe em si de tanto sim”.