A Universidade Federal do Ceará (UFC) anunciou que o Grupo Biotec será responsável por produzir a pele liofilizada do peixe da espécie tilápia para uso em medicina regenerativa, como curativo no tratamento de lesões em humanos e animais, por meio de comunicado nessa terça-feira, 8.
Pele de tilápia será utilizada no tratamento de animais feridos em enchentes no RS; VEJA
A empresa é ganhadora do edital que regulariza a exploração, sob licença exclusiva, da tecnologia. Publicado em janeiro deste ano, o texto estabeleceu critérios de lisura e transparência da seleção quanto a melhor escolha para a UFC.
Com a publicação do resultado, a etapa seguinte focará nos trâmites de contratação da empresa.
A Biotec é formada pelas unidades empresariais de Manaus, Fortaleza, Miami (Estados Unidos), com sede em São José dos Campos (São Paulo). O time formará um consórcio entre as unidades amazonenses e paulistas para empreender toda a logística de fabricação e venda do curativo.
O objetivo é que a pele de tilápia possa ser fornecida em kits para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que atende 80% dos casos de queimaduras no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS).
Também caberá ao consórcio obter aprovação regulatória do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os estudos sobre o uso da tilápia na medicina regenerativa foram iniciados em fevereiro de 2015 por pesquisadores da UFC e pelo médico cirurgião Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), ex-diretor da Unidade de Queimados do Instituto Doutor José Frota (IJF) e coordenador-geral da pesquisa.
Segundo a Pró-reitoria de Inovação e Relações Interinstitucionais (Prointer) da Universidade, o trabalho foi desenvolvido em uma década.
Desde o início, a proposta contou com a realização do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), coordenado pelo professor Manoel Odorico de Moraes Filho. A rede soma 101 projetos de pesquisa.
"Ao todo, 380 pesquisadores estão ou estiveram envolvidos nos estudos de desenvolvimento de novos produtos com a pele da tilápia, espalhados por nove países, como Colômbia, Argentina, Guatemala, Estados Unidos, Alemanha e Holanda", afirma a UFC.
Além de Edgar Maciel, também são inventores os professores Maria Elisabete Amaral de Moraes, Carlos Roberto Koscky Paier e Felipe Augusto Rocha Rodrigues, atualmente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
A tecnologia obteve patente em 2024, concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O passo seguinte foi lançar a oferta pública de licenciamento, com o objetivo de garantir a fabricação do biomaterial em larga escala e a utilização no tratamento das pessoas.
Entre as exigências do edital, a empresa deveria dispor de uma equipe técnica envolvida em pesquisa e inovação, apresentar um modelo de negócios e uma proposta de percentual de royalties. Todo o processo foi realizado e acompanhado pela Prointer.
Além da pele liofilizada, foram desenvolvidos a pele no glicerol, a matriz acelular e o colágeno purificado de pele de tilápia, para os quais existem ou foram solicitadas patentes no Brasil e no exterior.