Acidentes com fogo, líquido inflamável ou descarga elétrica são responsáveis por levar milhares de pessoas ao hospital todos os anos no Brasil. Em Fortaleza, essas marcas são gravadas principalmente na pele daqueles que compartilham um perfil sócio e econômico ainda não contabilizado em planilhas, mesmo sendo bem conhecido por profissionais que trabalham de perto dessa realidade. Referência no Nordeste, o Instituto Dr. José Frota abriu as portas para mostrar sua rotina especializada nesse atendimento, cujo alerta é evidenciado em 6 de junho, Dia Nacional da Luta contra Queimaduras.
Desde 2009, o Ministério da Saúde é autorizado a estabelecer a Semana de Prevenção e Combate a Queimaduras nesta data, com o objetivo de divulgar medidas preventivas para tentar reduzir o número de acidentes domésticos, no trabalho ou em momentos de lazer. Pensando nisso, o Núcleo de Queimados do IJF promove ao longo do sexto mês de 2023 o “Junho Laranja”, com diversas ações que buscam despertar a atenção das pessoas para essa situação tão conhecida, mas igualmente negligenciada por parte da população cearense.
Em conversas com especialistas IJF, a preocupação redobrada está entre os pedidos mais recorrentes para tentar evitar esses acidentes. No entanto, apontamentos sobre a necessidade de sempre buscar atendimento médico e o quanto antes, em detrimento aos “remédios caseiros”, não ficam para atrás.
Ao contrário do que é facilmente encontrado na internet, creme dental, pomadas, ervas, manteiga ou mesmo medicamentos sem orientação médica não são o ideal. Além da falsa sensação de tratamento, esses métodos podem resultar na piora ou mesmo na morte das vítimas, sejam elas crianças, adultas ou idosas.
Dados obtidos por meio da assessoria de comunicação do IJF mostram que mais de 21 mil atendimentos de queimaduras foram prestados à população de Fortaleza, de municípios do Interior do Ceará e até mesmo de outros estados, entre 2017 e os primeiros meses de 2023. A média mensal é de 280 acolhimentos nesse período. Apesar de assustador, os números poderiam ser ainda maiores. Isso porque nos anos mais graves da pandemia da Covid-19, em 2020 e 2021, houve uma redução visível do volume de casos registrados na unidade hospitalar.
“A maioria dos acidentes com crianças e idosos, por exemplo, acontecem em casa. Quando não existe a supervisão no domicílio, os acidentes acontecem com muito mais frequência. Durante esses anos de pandemia, as pessoas não estavam saindo de casa, não estavam fazendo festa, usando churrasqueira, fogos de artifícios, nem deixando os filhos ou idosos sozinhos. Então o número diminuiu bastante”, comenta Eliane Maciel, enfermeira assistencial do Núcleo de Queimados há quase 30 anos.
Ela é uma das memórias desta ala, que está localizada no oitavo andar do prédio da rua Barão do Rio Branco, número 1816, no Centro da capital cearense. Por lá, existe uma ampla área de atendimento de emergência e hospitalar do dia a dia, principalmente para primeiros socorros e troca de curativos, além de ambulatórios e enfermarias adulto e infantil, salas de cirurgia e de UTI, salas de serviço social, terapia ocupacional, psicologia e atendimento nutricional. É toda uma estrutura multidisciplinar para proporcionar aos pacientes o melhor acolhimento humanizado possível.
“O desafio é tornar o atendimento o menos traumático, tanto para os pacientes quanto para as famílias, mesmo sabendo que isso é difícil” – Eliane Maciel
Para entender a dinâmica e o esforço desses profissionais, a reportagem do OP+ esteve durante seis horas no Núcleo de Queimados do IJF, que também é laboratório para inúmeras pesquisas científicas, como a que indicou que a pele da tilápia tem componentes que ajudam na cicatrização de feridas e queimaduras. Ao percorrer os longos, pálidos e silenciosos corredores dessa ala especializada, e conversando com pacientes e familiares, os resultados de um esforço conjunto são sentidos, bem como a motivação de melhoria para encurtar o tempo para o tão esperado retorno para casa.
O processo de recuperação de uma queimadura nem sempre acompanha a velocidade do relógio. Ele é lento e obedece ao próprio corpo. A depender do grau da lesão, inclusive, a estadia das vítimas nos leitos de internação pode levar dias, semanas ou até mesmo meses a fio. Tanto é que não são raros os casos de pacientes que permanecem internados ou sendo acompanhados por longos períodos no Núcleo de Queimados do Instituto Dr. José Frota.
Atualmente no final de seu tratamento, o motorista Antônio Carlos foi internado em 12 de abril de 2023 após uma experiência de quase morte. Morador do pequeno distrito de Forquilha, em Maranguape, ele teve sua vida mudada depois de buscar melhorar a qualidade do sinal que sua televisão estava recebendo. Por conta própria, ele tentou ajustar o direcionamento da antena de transmissão de TV, que fica do lado de fora de sua casa. Mas enquanto manipulava o equipamento, acabou encostando sem querer em um fio de alta tensão.
Em uma pequena fração de segundos, ele literalmente se transformou em um verdadeiro condutor de energia, a qual entrava pela sua mão direita, percorria por todo o corpo e saia pelo pé esquerdo. A descarga elétrica foi tão forte que o homem de 41 anos e cerca de 90 quilos foi arremessado ao chão totalmente desacordado. Para piorar, uma haste de ferro ficou em contato com sua coxa esquerda e com os fios da rede elétrica, continuando assim a lhe passar corrente.
"Eu sempre tive muito cuidado, mas foi uma fatalidade tão grande que é difícil de entender"
A priori levado a um hospital da cidade por familiares, ele foi encaminhado para o IJF, em Fortaleza, e imediatamente internado. Durante quase dois meses, precisou se adequar a uma rotina de banhos anestésicos, enxertos e pequenas cirurgias, além de diversos outros acompanhamentos médicos que visavam a sua recuperação. “Não fiquei só deitado esperando melhorar. Os médicos sempre me pediram para ficar caminhando, para ver se o sangue circulava melhor”, conta.
Desde o dia em que deu entrada no hospital, suas diversas queimaduras nas pernas, no ombro, nas costas e na cabeça precisaram ser cobertas por ataduras brancas, com intuito de evitar eventuais infecções. Ao mesmo tempo, trocas desses equipamentos, assim como higienizações das lesões, precisam ser feitas regularmente. Agora, por mais que esses procedimentos sejam necessários, eles também são dolorosos para os pacientes. “Tem gente que chega a gritar de dor, mesmo estando com anestesia”, narra Antônio Carlos, que informa que depois de tomar medicação, o alívio vem.
Vivendo hoje a expectativa para receber a alta do hospital, ele diz sonhar acordado com esse dia. “O choque que sofri foi uma dor inexplicável, mas agora eu só quero voltar a abraçar minha família”, diz, com a voz embargada e com lágrimas lhe escapando dos olhos. “Quero voltar para minha casa e à minha vida normal.”
Em outra enfermaria estava internado Gustavo Carneiro, de Cascavel, que também compartilha o milagre de ter sobrevivido a uma descarga elétrica. De maneira parecida com Antônio Carlos, ele estava ajudando um vizinho a instalar uma antena de TV quando de repente entrou em contato com uma rede pública de alta tensão. Rapidamente sua roupa pegou fogo e seu corpo foi lançado para o chão de uma altura de aproximadamente um metro. O acidente aconteceu em 10 de maio de 2023, seis dias antes do seu aniversário de 17 anos.
Socorrido por uma ambulância do Samu, ele foi conduzido para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), porém transferido às pressas para o IJF. Precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu por 14 dias. Com 50% do corpo queimado e com várias lesões de 3º grau, Lucas precisou passar por diversos banhos anestésicos, além de duas cirurgias de desbridamento, que é o procedimento realizado para remover a pele necrosada (ou morta), para evitar que as infecções se espalhem para outros locais.
“Estão sendo dias bem difíceis. Mas tem que esperar a recuperação, que é lenta. Sempre tenho um familiar fazendo companhia, conversando comigo”, menciona ele, que ainda não tem ideia de quanto tempo mais precisará ficar internado.
Bastidor: Os relatos de Antônio Carlos e de Gustavo Carneiro dão conta de que durante todo o período de internação sempre tiveram alguém por perto para fazer companhia ou ajudar em tarefas simples (no caso do primeiro), como caminhar e ir ao banheiro. Mas nem todos os pacientes têm essa mesma sorte. “Esse rapaz veio do Interior e está sozinho há uns 20 dias”, sussurra Antônio Carlos, apontando para um paciente deitado na maca ao lado.
Apesar de serem lembradas principalmente em épocas comemorativas, como festas juninas e Réveillon, as queimaduras costumam acontecer durante todo o ano. Conforme dados anuais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, 265 mil pessoas vão a óbito por ano em todo o mundo por esse tipo de acidente, sendo cerca de 2.500 só no Brasil. Chefe do Núcleo de Queimados do IJF, o médico Breno Pessoa afirma que a maior parte dessas mortes acontecem em países pobres.
“Mais de 60% das queimaduras graves e dos óbitos acontecem em países de segundo e terceiro mundo. Ou seja, em países subdesenvolvidos. Então o problema das queimaduras têm, sim, uma correlação direta com a pobreza. O grau de instrução das pessoas também influencia na gravidade das queimaduras e na sua mortalidade”, completa.
Pelos corredores e ambulatórios do IJF, é possível perceber características parecidas dentre as pessoas que são atendidas por conta de queimadura. Além de vulneráveis clinicamente, elas apresentam certa fragilidade social: geralmente são moradores de periferias ou do Interior do Estado e pertencentes a famílias pobres. Apesar desta percepção, não existe de maneira bem definida e contabilizada um perfil epidemiológico desses pacientes.
Enfermeira assistencial, Gabrielle Aires afirma que os atendimentos no Núcleo variam entre os diferentes níveis econômicos, no entanto evidenciam que os acidentes estão sempre ligados às atividades desempenhadas no dia a dia. “Se a pessoa pertence à uma classe social mais alta financeiramente, mais abastada, ela não vai passar o café ou acender a churrasqueira. Vai ter alguém fazendo isso para ela. Com isso, vai ter uma menor incidência de queimaduras na população mais rica. Agora, não é porque ela se cuida mais, mas se expõe menos a esses riscos”, aponta.
A desatenção e a falta de auxílio também acabam surgindo como fatores relevantes nesse assunto. Ela declara que, culturalmente, muitos cuidados já foram incorporados pelas pessoas, como colocar os cabos das panelas voltados para dentro do fogão, para evitar que crianças puxem e sejam escaldadas com alimentos quentes. Por outro lado, Gabrielle comenta ainda que novos problemas até então inimagináveis acabam surgindo, como quando famílias colocam as panelas no chão para esfriar. “Ridículo, né? Mas é muito frequente”, lamenta.
Outros acidentes, por outro lado, são cíclicos e específicos de determinadas localidades. No Interior, por exemplo, periodicamente trabalhadores rurais cavam grandes buracos no chão para depositar restos de plantas e até mesmo lixo, e depois ateiam fogo. Chamado de coivara, esse processo serviria para limpar terrenos para facilitar a plantação de novas culturas naquele espaço.
“Muitas crianças acabam entrando nesses buracos achando que não têm nada, só cinzas, sendo que lá embaixo está extremamente quente e assim não conseguem sair. Por ser no Interior, em locais pouco habitados, elas demoram para receber ajuda. Então quando acontecem esses acidentes, geralmente as crianças vêm com queimaduras nos pés e nas mãos, que são estruturas muito nobres e de pouca musculatura. Muitas vezes acabam tendo que amputar uma pontinha dos dedos ou até o membro inteiro”, pontua Gabrielle.
Diferentemente da calmaria e do silêncio registrados nas enfermarias dos adultos, no outro lado da ala o burburinho aumenta conforme você vai se aproximando. Isso porque no Núcleo de Queimados do Instituto Dr. José Frota, as crianças contam com uma área especial para o seu atendimento. Esteticamente não muda muita coisa: são macas e cadeiras enfileiradas em uma sala de paredes brancas. A principal diferença, porém, está no público acolhido, composto pelos pequenos pacientes inquietos e que só querem brincar e dar pinotes para cima e para baixo.
Somente em 2022, 804 crianças e adolescentes, de 0 a 19 anos, foram socorridos vítimas de queimaduras no IJF. O número representa 24,3% do total de atendimentos do ano. Quando colocada uma lupa sobre os dados gerais, verifica-se ainda que 11,30% dos pacientes estão na faixa etária de 1 a 4 anos, com 373 casos.
Em meio às centenas de crianças que deram entrada no Núcleo em 2022 está Gabriel Lucas. Natural de Itarema, no Litoral Oeste do Ceará, ele chegou à unidade hospitalar em 19 de julho, quando ainda tinha quatro anos. Internado após sofrer graves queimaduras ocorridas enquanto brincava, ele tem como principal acompanhante a avó Lucenira Andrade, que observa de perto sua melhora obtida ao longo dos últimos meses.
Ela conta que o deixou brincando sozinho em casa por aproximadamente 30 minutos, quando de repente escutou de longe seu choro. Gabrielzinho, como carinhosamente é chamado pela família, teria encontrado um isqueiro com o qual começou a brincar. Com o objeto em mãos, pegou uma caixa de papelão e foi para debaixo de um sofá, onde começou suas tentativas de acender o fogo. Sem muita dificuldade, conseguiu, e as chamas logo passaram da caixa para o móvel, que facilmente entrou em combustão.
Apavorado, o pequeno começou a gritar pela avó, que contou com ajuda de um filho para remover Gabrielzinho das chamas. Com grande parte do corpo queimado, ele foi levado de ambulância diretamente para o IJF, onde ficou internado na UTI. Após um mês de tratamento ininterrupto, ele apresentou melhoras e foi encaminhado para a enfermaria, lugar de sua estadia por mais dois meses.
"Por aqui, todo mundo conhece a história dele, que é um verdadeiro milagre de Deus"
Após quase um ano de tratamento, Gabrielzinho voltou a uma rotina comum para alguém da sua idade, realizando brincadeiras, indo para escola, interagindo com outras crianças. Periodicamente, no entanto, precisa retornar a Fortaleza para realização de procedimentos médicos, como troca de curativos e sessões de terapia ocupacional. Ele ainda necessita passar por determinadas cirurgias, mas para isso tem que aguardar uma vaga na fila de espera virtual do hospital.
“Mas Ave Maria, filho, não tem alegria maior do que ver a saúde dessa criança”, celebra Lucenira que, com as mãos juntas, segue falando de Deus e da alegria de poder acompanhar a recuperação do netinho, que hoje pode brincar livre pelos corredores do IJF com outros amiguinhos. “Ver ele assim já é maravilhoso.”
Acompanhar de perto toda essa dor, sentida principalmente na pele de quem ainda não está completamente desenvolvido fisicamente e mentalmente, está entre os processos mais árduos para se trabalhar no Núcleo de Queimados. Diante disso, a pediatra Ângela Leite clama aos pais e responsáveis de crianças para a necessidade de sempre estar por perto dos pequenos, já que a prevenção continua e continuará sendo o melhor dos tratamentos.
“Não só para queimadura, mas para todos os acidentes na infância, porque a criança precisa ser vigiada e ter o máximo de atenção, porque ela é muito frágil e fica muito exposta às tragédias, principalmente no domicílio. Então tem que ser observada de perto, porque o risco de acidentes é sempre iminente”, alerta.
Os motivos que levam as pessoas aos atendimentos no Núcleo de Queimados são os mais diversos que alguém pode imaginar. Todos os dias, novas histórias são ouvidas pelos profissionais que atuam diretamente com as vítimas. Até abril de 2023, os principais causadores de queimaduras variaram de gelo a líquidos inflamáveis, de descarga de moto a choque elétrico, sem desconsiderar ainda acidentes com pólvora e até mesmo com radiação.
Conforme dados preliminares do próprio Instituto Dr. José Frota, somente nos quatro primeiros meses deste ano já foram registrados 1.100 atendimentos. Desses, 75% foram provocados devido a líquidos ou superfícies quentes, conforme mostra o gráfico abaixo.
Terceiro lugar nessa lista, as queimaduras em motocicletas são as responsáveis por 5,54% dos atendimentos. Suas vítimas, a propósito, são de fácil identificação, já que costumeiramente carregam a marcas dos acidentes na parte interna das pernas, local de maior proximidade com o motor do veículo.
Uma das vítimas desse tipo de queimadura foi o contador Marcelo Bruno, de 35 anos. Enquanto aguardava para realizar a oitava troca de seu curativo, ele comentou que seu acidente aconteceu na noite de véspera do Dia das Mães, em 13 de maio. Naquele dia, Fortaleza registrou apenas chuvas isoladas e fracas, mas que geraram volume suficiente para ser lembrado por Marcelo durante um bom tempo.
“Eu estava indo comprar um lanche. No percurso, na saída de um semáforo, a moto escorregou e caiu por cima da minha perna direita, mas eu logo levantei. Foi tudo muito rápido. Só depois percebi que tinha me queimado”, puxa da memória. Como estava tarde, ele adiou sua ida ao médico somente para o dia seguinte, não sem antes optar por uma receita caseira: passar creme dental na queimadura. “Esse foi meu erro. Quando eu vim no dia seguinte foi preciso fazer a limpeza, que causou muita dor”, lamenta.
Quem é de fora do Ceará pode até estranhar o método adotado por Marcelo Bruno, mas este é um dos “remédios” da crendice popular mais utilizados como suposto tratamento de queimaduras no Estado – mesmo sem qualquer comprovação científica. Somada a isso, vários outros produtos aparecem com a pretensão de cura, quando na realidade podem ser bastante prejudiciais e perigosos.
Pelos corredores do IJF, pacientes listam aquilo que já chegaram a utilizar em suas queimaduras:
O próprio Núcleo de Queimados, por sua vez, reprova o uso de qualquer tipo de método caseiro, gelo ou mesmo medicamentos que não tenham sido prescritos por um médico especialista. Abaixo, confira quais as medidas a serem tomadas em caso de queimaduras.
Durante todo o período de internação no Núcleo de Queimados do Instituto Dr. José Frota, os pacientes são constantemente encorajados a enfrentar os desafios em busca da cura em uma batalha não só física do corpo, mas também mental. Para se ter ideia, diferentes médicos e enfermeiros do hospital fazem questão de mencionar que aqueles que demonstram maior motivação com o tratamento acabam melhorando muito mais rápido do que os que se apresentam mais entristecidos.
Para que haja um componente motivacional firme para os pacientes, primeiro é preciso que exista uma rede de apoio pessoal que esteja envolvida no processo de cura. “O corpo e a alma não estão separados e a gente sabe que a dor não tem uma relação direta com o tamanho do ferimento. Então se um paciente que tem grande parte do corpo queimado e conta com um suporte familiar, ele acaba se sentindo muito mais seguro com o hospital e passa a ver de maneira mais clara suas perspectivas para sair daqui”, declara a psicóloga Darla Moreira.
Ela afirma que essa atmosfera favorece para que o paciente consiga verbalizar o que está sentindo e organize psiquicamente suas questões internas. “Tudo isso vai ter repercussão em seu corpo. E não é que o paciente deixe de sentir dor. Ele vai sentir, mas vai ser uma dor compatível com o que o corpo tem realmente sentido”, diz, complementando que em casos de pacientes que apresentam vulnerabilidades maiores, como abandono parental, a evolução deverá ser ainda mais lenta. “Isso vai ser um potencializador das dores”, segue.
Terapeuta ocupacional do Núcleo, Cristina Bezerra ressalta que uma das necessidades humanas está no cuidado espiritual. Para tanto, antes de dar início às suas sessões que buscam dar autonomia nas tarefas do dia a dia, costuma puxar uma oração para tornar aquele seus momentos mais acolhedores. Com uma barreira a menos, o tratamento como um todo acaba se tornando mais transparente em seus atendimentos. “Isso é muito importante, porque você cria um vínculo mais próximo, pois não é só chegar no leito, dar um remédio e pronto”, ressalta.
O Instituto Dr. José Frota celebra todos os anos o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, em 6 de junho, com o objetivo de divulgar medidas preventivas necessárias à redução da incidência dos casos de lesões causadas por contato com alimentos, líquidos e superfícies aquecidas, chamas e brasas, explosão de substâncias inflamáveis e choques elétricos.
Em 2023, realiza o lançamento da campanha “Junho Laranja de Luta contra Queimaduras”, além de contar com apresentações artísticas, panfletagem e participação dos profissionais e usuários do hospital da Prefeitura de Fortaleza. O evento acontece na área de convivência do IJF.
O Núcleo de Queimados do Instituto Dr. José Frota sinaliza para uma série de cuidados a serem tomados com intuito de evitar a ocorrência queimaduras em crianças, adultos e idosos. Confira como evitar acidentes em casa e em momentos.