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Homem apontado como mandante de expulsões de famílias de distrito de Morada Nova é preso em São Paulo
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Homem apontado como mandante de expulsões de famílias de distrito de Morada Nova é preso em São Paulo

Localidade concentrava cerca de 300 residências, que tiveram os moradores intimidados por homem e demais integrantes de uma facção criminosa. Ameaças eram feitas, principalmente, por ligação diante de uma briga entre grupo criminosos rivais na região
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POLÍCIA Civil do Ceará detalhou a prisão do mandante das expulsões de famílias em Uiraponga (Foto: Divulgação/PC-CE)
Foto: Divulgação/PC-CE POLÍCIA Civil do Ceará detalhou a prisão do mandante das expulsões de famílias em Uiraponga

Um homem apontado pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE) como mandante de ameaças e expulsões de famílias do distrito de Uiraponga, localizado na zona rural de Morada Nova, a 167,62 quilômetros de Fortaleza, foi preso na manhã dessa segunda-feira, 28. As ações criminosas registradas no local estão ligadas a uma briga entre o suspeito e um líder local de uma facção criminosa rival para tentativa de domínio do território.

Identificado como José Witals da Silva Nazario, conhecido como “Playboy”, de 25 anos, fugiu do Estado para a Capital paulista na semana passada após as investigações indicarem ele como articulador das expulsões da população no distrito. Na região, o homem ameaçava as famílias por meio de ligações telefônicas ordenando que deixassem suas casas.

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Conforme o delegado Pedro Viana, diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Sul da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), inicialmente, as ameaças seriam direcionadas aos familiares e pessoas próximas ao rival do suspeito. Posteriormente, as ameaças começaram a ser realizadas para pessoas em geral.

“Há informações de que ele próprio fazia ligações ameaçando os moradores. Inclusive, ele também participou de algumas execuções. As informações são de que seriam ameaças, na sua grande maioria, feitas por telefone”, disse o delegado.

Há também casos em que os criminosos chegaram a atirar em algumas residências na região para intimidar à população.

O distrito concentra em média cerca de 300 residências e aproximadamente mil habitantes. No entanto, a investigação não tem definido quantas famílias foram expulsas de suas casas após as ameaças.

Diante dos casos, a região passou a concentrar policiamento ostensivo e ações de prevenção que deverão contar com apoio do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), para que a população retorne as residências.

O POVO revelou anteriormente que o conflito iniciou após uma ruptura entre antigos aliados: Gilberto de Oliveira Cazuza, o “Gilberto Mingau”, de 35 anos, e José Witals da Silva Nazário, o “Playboy”. Mingau é apontado como chefe de um grupo criminoso que age no Vale do Jaguaribe.

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Ele chegou a integrar a Guardiões do Estado (GDE), mas rompeu com a facção e, atualmente, pertence ao Terceiro Comando Puro (TCP). Conforme a Polícia Civil do Ceará (PC-CE), Witals era um dos subordinados de Gilberto, mas, após deixar a prisão em setembro de 2024, ele decidiu abandonar o grupo.

O POVO apurou que uma nova linha de investigação suspeita de que Witals teria entrado para a facção Primeiro Comando da Capital (PCC), o que também levantou a suspeita do criminoso buscar refúgio em São Paulo, berço da facção paulista.

Há ainda a suspeita de que o suspeito teria permanecido na GDE para disputar o domínio do Vale do Jaguaribe, principalmente, Uiraponga. Com isso, o suspeito teria passado a ameaçar pessoas ligadas a Mingau na região.

De acordo com o delegado Pedro Viana, após identificar que o suspeito fugiu para a região paulista, policiais civis do Estado foram à região e realizaram o monitoramento do suspeito até identificar a residência onde ele foi preso. A captura contou com apoio da Polícia Civil de São Paulo (PC-SP).

O diretor do Departamento de Repressão ao Crime Organizado, delegado Ricardo Pinheiro, informou que a Polícia Civil do Ceará irá realizar o recambiamento do suspeito para o sistema penitenciário do Estado. “Estamos com a equipe São Paulo e está seguindo o trâmite após a captura do indivíduo, aguardando a audiência de custódia, bem como providenciar o recambiamento”, disse.

A Polícia Civil informou que José Witals da Silva Nazário, possui extensa ficha criminal com três passagens por homicídio doloso, além de antecedentes por roubos, receptação e tráfico de drogas. Apesar da prisão, as investigações seguem para capturar mais suspeitos de ameaçar e expulsar os moradores da região. As Delegacias de Polícia Civil de Morada Nova e de São João do Jaguaribe coordenam as investigações do caso.

 

Imagem de procurado de Gilberto Mingau, suspeito de liberar grupo criminoso no Vale do Jaguaribe
Imagem de procurado de Gilberto Mingau, suspeito de liberar grupo criminoso no Vale do Jaguaribe

Saiba quem é Mingau, um dos pivôs do conflito em Uiraponga

Com a prisão de José Witals da Silva Nazário, o "Playboy", as Forças de Segurança do Estado se voltam agora para localizar e prender o rival dele na disputa registrada em Uiraponga e no restante do Vale do Jaguaribe. O POVO apurou que há indícios de que Gilberto de Oliveira Cazuza, o Gilberto Mingau, se esconde no Rio de Janeiro.

Como O POVO mostrou em reportagem de março de 2024, ele é procurado desde, pelo menos, 2016, ano em que foi preso, ao lado de outros dois homens, portando duas pistolas. Gilberto é um dos 13 nomes da lista de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Levantamento do O POVO indica que Mingau só não está nessa lista há mais tempo que outros dois procurados: Jangledson de Oliveira, o "Nem da Gerusa", e Carlos Mateus da Silva Alencar, o "Skidum" ou "Fiel".

Gilberto Mingau já atua na criminalidade no Vale do Jaguaribe há mais de uma década. Ele chegou a integrar o chamado "Novo Cangaço", criminosos que roubam bancos utilizando-se do domínio de cidades interioranas — o que inclui uso de explosivos e ataques a tiros a destacamentos policiais. Com o passar do tempo, Gilberto teria diversificado as práticas criminosas, recorrendo ao tráfico de drogas, ao roubo de gado e, até mesmo, à extorsão de empresários. Como O POVO também mostrou na reportagem de março de 2024, em somente uma dessas ações, o grupo de Gilberto extorquiu um R$ 100 mil um empresário do ramo da carcinicultura.(Lucas Barbosa)

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