Foi inaugurado ontem, 11, o Centro de Diagnóstico Espaço Girassol, no bairro Edson Queiroz. O equipamento compõe a rede de saúde de Fortaleza e deve atender a demanda reprimida e novas solicitações de avaliações para identificar transtornos de neurodesenvolvimento, como autismo e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
A fila de crianças e adolescentes aguardando neurodiagnóstico chega a quase 30 mil na Capital. Segundo a coordenadora do Espaço Girassol, Saskia Vaz, quem já fez a solicitação será contactado primeiro. “A gente tem que priorizar essas pessoas que já estão na fila de regulação do município”, diz.
Já aqueles que ainda não iniciaram a busca pelo diagnóstico precisam procurar primeiro um posto de saúde. A partir de uma primeira consulta em uma Unidade Básica de Saúde é que a criança ou adolescente pode ser referenciada ao Centro de Diagnóstico Espaço Girassol.
Para isso, profissionais dos 134 postos de saúde de Fortaleza estão sendo capacitados para conseguir atender e avaliar a necessidade de encaminhamento dos pacientes ao Centro.
LEIA TAMBÉM | Prefeitura lança Plano Fortaleza Inclusiva para combater desigualdades sociais
“Se essa criança realmente precisar de um diagnóstico mais preciso, ela vem para cá, passa pela equipe multidisciplinar, pelos especialistas”, explica a coordenadora.
Depois da avaliação, ela pode ser encaminhada para acompanhamento terapêutico nos Espaços Girassol — que devem ser implantados em cada uma das 12 regionais —, nos Caps, no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) ou em unidades contratualizadas, como o Núcleo de Tratamento e Estimulação Precoce (Nutep).
O primeiro Espaço Girassol voltado para terapias será inaugurado no bairro Bonsucesso, na próxima segunda-feira, 18, de acordo com a primeira-dama de Fortaleza, Cristiane Leitão. O equipamento funcionará dentro da Policlínica Dr. José Eloy da Costa Filho, localizada na regional 5, território que tem 1.800 crianças e adolescentes com autismo. Até o fim de 2025, outras duas unidades de acompanhamento serão entregues.
O Centro de Diagnóstico contará com neuropediatras, neuropsicólogos, psiquiatras infantis, pediatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, audiologistas, entre outros.
As equipes são compostas de 22 profissionais que inicialmente terão capacidade de realizar 1.500 atendimentos por mês. O número deve crescer gradualmente e, até novembro de 2025, Saskia afirma que o espaço deve chegar a 3.300 atendimentos mensais.
Segundo o prefeito Evandro Leitão (PT), alguns profissionais que irão compor a equipe já estavam na rede da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e outros serão contratados.
Mesmo pacientes que já tenham laudos de algum transtorno do neurodesenvolvimento devem passar por reavaliação no Centro de Diagnóstico.
“Nós precisamos fazer um diagnóstico bem assertivo, porque infelizmente temos vários laudos errados e a gente quer fazer um laudo bem feito com a equipe multidisciplinar”, afirma Cristiane Leitão.
A reavaliação não necessariamente vai invalidar um diagnóstico anterior, segundo Saskia. Mesmo havendo confirmação do laudo, é preciso passar pelo Centro para entender de quais acompanhamentos a criança se beneficiaria. Parcerias com outras secretarias serão feitas para ofertar esportes, suporte na escola e atividades culturais específicas para esse público.
Melissa Bezerra, 5, foi diagnosticada com autismo com três anos. Fazia terapia ocupacional em um posto de saúde no bairro Aerolândia, mas segundo a mãe, Roseane Bezerra, 41, o atendimento “só parou”, sem explicações.
“Quando a Melissa tinha as terapias, ela era um pouco mais tranquila. Esse período que ela está sem já desencadeou muita agressividade, o convívio com ela é muito difícil, tem a questão da seletividade alimentar, tudo isso atrapalha um pouco”, relata Roseane.
Ao ver nos jornais sobre a inauguração do Centro de Diagnóstico, resolveu ir até o local para tentar atendimento e foi informada sobre o fluxo a ser seguido: primeiro, Melissa precisa passar pelo posto de saúde novamente para conseguir ser referenciada para as terapias.
O mesmo ocorreu com Ana Débora Batista, 31, que levou Mardokeu Allef, de 2 anos e 8 meses, para o Centro na busca por informações. O menino é outro que está na fila para conseguir atendimento terapêutico.
“Entrei até com um processo na Justiça para ver se conseguia as terapias dele, mas até agora nada. Até eu mesmo passei a tomar remédio para conseguir me adaptar, porque é muito puxado”, explicou.
Mardokeu também ainda não entrou na creche, pois Débora não se sente segura de deixar a criança, que ainda não fala, na escola. Débora também foi orientada a voltar ao posto de saúde mais próximo de casa para tentar ser atendida no Espaço Girassol.