A teóloga e filósofa cearense Maria Lúcia Simão Pereira morreu aos 76 anos, nessa quarta-feira, 13, deixando o legado do movimento negro, da luta antirracista e da valorização da cultura popular cearense.
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Ela foi uma das fundadoras e precursoras do Movimento Negro no Ceará e responsável por criar e conduzir a Associação Cultural Maracatu Nação Iracema, que reforça a expressão artística e a identidade afro-brasileira no Carnaval de Fortaleza.
Pioneira nos debates raciais e na luta antirracista cearense, Maria Lúcia Simão Pereira nasceu em 24 de abril de 1949 e se dedicou a promover mais igualdade, justiça social e respeito à diversidade.
Maria Lúcia Simão trabalhou como empregada doméstica e atuou até a sua recente aposentadoria como servidora técnico-administrativa em educação (TAE) do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Terceira de cinco filhos do casal Chico e Mazé Simão, cresceu no bairro Jardim Iracema, na periferia de Fortaleza.
Um dos amigos de Lúcia Simão, o historiador Hilário Ferreira, conta que ela era “muito incisiva”.
“Ela era uma pessoa que nos alertava sobre a problemática do racismo, que nos orientava que era importante a gente levantar a cabeça, que o grupo deveria se fortalecer, deveria se ampliar", relata.
Hilário conta que ela afirmava que, sem a organização, o racismo não vai ao menos ser ferido. “Era aquele discurso de união”.
Hilário relembra como Lúcia era na vida pessoal: “Por ter passado por muitas situações de violência, ela era uma mulher de natureza forte. Ela se impunha nas relações”.
De acordo com Hilário, o maior legado deixado por Lúcia foi a luta negra. “Todo o avanço que a gente tem hoje dentro da luta negra, deve-se ao Grucon (Grupo de União e Consciência Negra). No combate ao racismo, a gente tem uma compreensão de que as contradições no Brasil elas não se limitam à questão de classe, mas são de raça e classe", finaliza.
Já o professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Arilson dos Santos Gomes, relata que conheceu a militante há cinco anos.
“Ela era uma pessoa que, na militância, ela compreendia que tinha que valorizar a identidade negra no Ceará, que durante muito tempo inviabilizou essa identidade (...) Para além da cultura, ela tinha essa ideia de valorização, mas ela respeitava a diferença [das pessoas]. E isso me chamava muita atenção nela".
Como pessoa, Arilson conta que Lúcia era “muito doce”. Além disso, uma das qualidades da militante era como cantora.
“Ela cantava muito bem, se expressava muito bem. Uma coisa que eu nunca vou me esquecer é que ela tinha uma mão boa para fazer as coisas, um mão muito amorosa”.
Arilson continua: “Seja na cultura ou até uma refeição, com os ingredientes que ela tinha, ela fazia coisas fantásticas. Ela tinha um dom relacionado a isso”, recorda.
Ele conta que Lúcia também era compositora fantástica. “Com músicas relacionadas à história do Ceará e à cultura negra, né? Muito bem aprimorado o lado de compositora dela também. Ela era uma pessoa diferente", finaliza.
Referência dentro e fora do Brasil, levou a cultura afro-brasileira para as ruas cearenses por meio do Maracatu.
A missa de corpo presente foi realizada na tarde desta quarta, 13, na Travessa Rio Solimões, no bairro Floresta, em Fortaleza. O enterro foi no Cemitério Parque da Paz. (Colaborou Bárbara Mirele, especial para O POVO)
Atualizada às 21 horas