Uma investigação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) descobriu um grupo de mensagens onde funcionava uma espécie de Recursos Humanos (RH) da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE). No local, foram identificados “currículos do crime” enviados por suspeitos que queriam integrar a organização.
Os currículos possibilitaram a identificação de integrantes da facção alvos do cumprimento de 88 mandados de prisão realizado durante a 5ª fase da Operação Nocaute, da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), deflagrada, ontem, 20. Foram presos 43 homens e mulheres que estavam em liberdade e os outros 45 já estavam em unidades prisionais do Estado.
De acordo com o titular da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da PC-CE, o delegado Thiago Salgado, um grupo de WhatsApp era utilizado para a inscrição de novos membros.
Os interessados em aderir à facção preenchiam um “cadastro do crime” informando dados como nome, apelido, área de atuação, ou seja, a cidade e o bairro, padrinho dentro da facção e tempo no crime.
“Eram indivíduos já com extensa ficha criminal, em sua maioria, e tinha na prática de crimes graves, violentos, como homicídios, tráfico de drogas e que almejavam ingressar nesse grupo criminoso e, portanto, faziam esse cadastro”, explica o titular da Draco.
Após realizar a inscrição para integrar a facção, os suspeitos passavam por alguns superiores da GDE, que avaliavam ou não o ingresso desses indivíduos. “Foi identificado todo esse cadastro dessa facção”, afirma o delegado.
As investigações revelaram que os aprovados entravam, inicialmente, como membros e, posteriormente, passavam a ser frentes no determinado bairro, cidade ou município, principalmente o que foi citado por ele na inscrição. Aos poucos, eles conseguiam subir na estrutura hierárquica da facção.
Os documentos foram revelados a partir da investigação que começou em novembro do ano passado, com a prisão de uma conselheira final da GDE. Na prisão, foram apreendidos objetos e aparelhos celulares. Na extração dos equipamentos, foi possível identificar a existência do grupo que funcionava no WhatsApp.
O delegado da Draco afirmou que foram identificados e presos suspeitos em quase todo o Estado. Foram identificados alvos da região Sul (Quixadá e Quixeramobim) da região Norte (Canindé, Baturité e Aracoiaba) da região Metropolitana (Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e Caucaia) e da Capital, praticamente todas as áreas de segurança integrada (AIS).
Ainda na operação, três pessoas foram presas nos estados do Piauí, Maranhão e no Distrito Federal. Durante o cumprimento dos mandados, dois suspeitos alvos dos mandados também foram presos em flagrante, sendo um por tráfico de drogas, em Fortaleza, e um por posse de arma de fogo, em Quixadá.
A partir da identificação dos suspeitos que se cadastraram para integrar a facção, foi possível solicitar, junto ao Poder Judiciário, mandados de prisão e de busca e apreensão. Foram expedidos 139 mandados de prisão, onde 88 foram cumpridos durante a quinta fase da operação ‘Nocaute’.
Além das prisões, foram bloqueadas contas bancárias dos suspeitos totalizando aproximadamente 14 milhões de reais, com objetivo de asfixiar financeiramente a organização criminosa. Os capturados são suspeitos de crime de homicídios, tráfico de drogas e de integrar organização criminosa.
Conforme a Polícia Civil, as quatro fases anteriores da operação Nocaute tiveram resultado em 53 capturas de suspeitos. Com as prisões da quinta fase, o número subiu, totalizando 141 presos. As diligências continuam ao longo do dia para capturar mais suspeitos alvos da operação.
De acordo com o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), Roberto Sá, o Estado apresentou, em julho, um aumento de 60% nas prisões de pessoas que cometeram Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Ainda no período, houve alta de 90% de prisões relacionadas a organizações criminosas.
“Entre janeiro e julho, já são 1.668 presos por assassinato e 1.131 por envolvimento com organizações criminosas. Estamos divulgando, mês a mês, a redução das mortes violentas. Mas sabemos que ainda há muito a ser feito”, disse Sá.
Os nomes dos suspeitos presos em ações das forças da segurança do Ceará deixaram de ser divulgados desde o dia 5 de fevereiro de 2024.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou atender à orientação da sua assessoria jurídica para adequar-se à Lei de Abuso de Autoridade (Lei Nº 13.869/2019).