Logo O POVO+
Fortaleza sedia conferência global sobre adaptação às mudanças climáticas no semiárido
CIDADES

Fortaleza sedia conferência global sobre adaptação às mudanças climáticas no semiárido

A 3ª Conferência Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas vai até o próximo dia 19 de setembro, debatendo o papel estratégico do Nordeste rumo à COP30
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
CONFERÊNCIA Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (Foto: Julio Caesar)
Foto: Julio Caesar CONFERÊNCIA Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas

Especialistas, pesquisadores, sociedade civil e autoridades nacionais e internacionais se reúnem no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, para debater soluções de adaptação às mudanças climáticas em regiões áridas e semiáridas do mundo

O encontro, que começou ontem, 15, segue até sexta-feira, 19, integra a 3ª Conferência Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID 2025).

O foco é discutir os impactos das mudanças climáticas nas áreas mais secas do planeta. Com o Ceará, ao lado de outros estados do Nordeste, busca organizar documentação e posicionamentos para a COP 30, com destaque para a Caatinga — bioma exclusivo do Brasil.

LEIA MAIS | Fortaleza anuncia criação de cinco novos parques urbanos e reforça agenda climática rumo à COP 30

Caatinga em foco

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), ressaltou na abertura do evento, nessa segunda-feira, a importância do encontro para a construção de políticas públicas voltadas ao semiárido.

“Todos os estados nordestinos vão atuar juntos na COP 30 para chamar a atenção do mundo para esse bioma [Caatinga], para garantir políticas públicas de preservação e desenvolvimento do semiárido, apoiando as comunidades locais e preservando a natureza”, afirmou.

A Caatinga cobre 88% do território cearense, correspondendo a 7,4 milhões dos 8,5 milhões de hectares de florestas do Estado. No entanto, o desmatamento do bioma cresceu 28% entre 2022 e 2023, totalizando 126 mil hectares, segundo dados do MapBiomas e do Instituto Escolhas.

Durante a conferência, a secretária da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), Sandra Monteiro, destacou o papel da inovação no enfrentamento das mudanças climáticas.

“Temos que mostrar para o mundo que o semiárido e a Caatinga também são responsáveis pela biodiversidade, pela bioeconomia e pelo equilíbrio do clima”, defendeu.

LEIA TAMBÉM | Reportagem seriada; mudanças climáticas no Ceará

Ela explicou ainda que a Secitece atua em articulação com municípios, universidades e instituições culturais, citando como exemplo o Geoparque Araripe. A iniciativa reúne prefeituras e centros acadêmicos para fortalecer a proteção da biodiversidade e da cultura local.

Segundo Sandra, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema) e outras pastas, o Governo do Estado também aposta no uso de tecnologias de monitoramento territorial para mapear e combater o desmatamento na região.

Assinatura de acordos e novas políticas

Durante o evento, além de painéis e debates, está prevista a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre o Conselho Nacional de Educação (CNE) e a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).

Também será apresentado o Plano Brasil Nordeste de Transformação Ecológica, que busca impulsionar políticas públicas e ferramentas estratégicas em setores como indústria, agricultura, energia, finanças e sociedade, elevando-os a um novo patamar de desenvolvimento sustentável e tecnológico. As atividades estão programadas para amanhã, 17.

LEIA MAIS | Soluções: é possível impedir a desertificação e restaurar áreas já afetadas

Na plenária final, prevista para sexta-feira, 19, será divulgado o Documento-Mosaico, reunindo as contribuições do Nordeste para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA).

Sobre o documento, a titular da Secitece, Sandra Monteiro, explicou:

“O cerne dele envolve políticas públicas de mitigação e adaptação, sobre como conviver científica e economicamente nessas regiões. As pessoas não precisam sair daqui, ao contrário: o semiárido já tem conhecimento acumulado. Vamos avançar em ciência de dados e financiamento, e essa troca será um diferencial.”

O papel da Funceme

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) também tem protagonismo na realização da ICID 2025. A atuação vai além do monitoramento das áreas suscetíveis à desertificação, englobando ações práticas de reversão.

Eduardo Sávio, presidente da Funceme, destacou a importância de integrar diferentes perspectivas ao convidar povos e instituições de outras regiões semiáridas e áridas do mundo. Ele citou como exemplo o Projeto PRODHAM, que recuperou 70 hectares de mata nativa em Canindé, demonstrando os impactos positivos de um manejo adequado da água e do solo na Caatinga.

“O objetivo é cruzar olhares sobre problemáticas similares e estratégias de convivência diferenciadas. Essa troca de experiências enriquece o debate, fortalece a construção de soluções mais adaptadas e leva uma mensagem global sobre a importância das terras secas para a COP 30”, ressaltou.

LEIA MAIS | Fortaleza inicia segunda fase de discussões do Plano Diretor

Cooperação internacional e protagonismo do Nordeste

A abertura da conferência contou com a presença de autoridades internacionais, evidenciando a relação do Ceará com países como a França e nações africanas, estabelecida por meio de interações científicas e políticas públicas. A parceria entre o Ceará e a França tem ganhado destaque, especialmente no enfrentamento da desertificação e na gestão da água em regiões áridas e semiáridas — desafios comuns a ambos os territórios, que se intensificaram nos últimos anos.

Em entrevista ao O POVO, Sophie Jacquel, conselheira científica da Embaixada da França no Brasil, reforçou a necessidade de dar visibilidade ao tema na COP30, em Belém:

“A desertificação é uma consequência das mudanças climáticas, e a escassez hídrica é um problema central que emerge dessa interação. Portanto, para enfrentar um, é preciso considerar os outros, com a água sendo o principal problema para todos nós daqui a décadas.”

Já Fernando Rizzo, diretor-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), classificou o evento como oportuno diante da emergência climática global. Ele destacou que a atenção não deve se restringir à Amazônia, mas também a outros biomas cruciais, como a Caatinga e demais regiões semiáridas do mundo, que sustentam bilhões de pessoas.

A conferência marca a consolidação de uma posição unificada do Nordeste nas negociações climáticas globais, reforçando o papel da região como protagonista na transição ecológica, na transformação industrial verde e na defesa da justiça climática rumo à COP30. (Colaborou Victor Marvyo)

O que você achou desse conteúdo?