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Motociclistas opinam sobre faixa prioritária para motos em vias de Fortaleza
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Motociclistas opinam sobre faixa prioritária para motos em vias de Fortaleza

O espaço não é exclusivo e nem obrigatório, e sim prioritário. Especialista critica a iniciativa
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TRECHO da av. Santos Dumont receberá a Faixa Azul (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA TRECHO da av. Santos Dumont receberá a Faixa Azul

Após o anúncio do projeto Faixa Azul, motociclistas de Fortaleza opinaram sobre a implantação da medida, a ser executada pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). A ação a ser realizada, a princípio, nos bairro Pici e Cocó, visa diminuir os acidentes no tráfego.

Serão pintadas faixas de sinalização na cor azul, que irão direcionar o tráfego dos motociclistas. O espaço não é exclusivo e nem obrigatório, e sim prioritário. Os motoqueiros devem seguir todas as regras de trânsito da via.

Não há data para o início, mas segundo o prefeito Evandro Leitão (PT), em vídeo publicado nas redes sociais, ocorrerá "nos próximos dias". Uma portaria publicada pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) autoriza a implementação "de estudo experimental com sinalização voltada para a circulação de motociclistas", até o dia 31 de março de 2026.

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Motoboys comemoram instalação de medida

O presidente da Associação dos Trabalhadores por Aplicativos de Fortaleza (Ataf), Douglas Souza, 44, afirma que antes de a faixa ser implantada, uma medida educativa deve ser feita pela AMC: “Ela vai ser direcionada para o motociclista, mas é preciso esclarecer isso para todos os motoristas (...) Ela é para reduzir acidentes, prevenir e proteger vidas”.

Para ele, a sensação é de conquista pela aprovação do projeto. “É um sonho realizado. Não era para mim, é para os meus filhos e netos. A gente só precisa se responsabilizar cada um que conduz dentro da faixa”, ressalta Douglas.

Rony Silva, vice-presidente da Associação dos motoboys trabalhadores por aplicativo e similares do Estado do Ceará (Amot-CE), declara que medida é uma conquista, por incluir os motoqueiros na malha urbana da Cidade.

"Os motoqueiros são uma engrenagem da economia de Fortaleza, pois prestamos um serviço de utilidade pública, onde transportamos pessoas, mercadorias e serviços. Apesar de não ser unanimidade, a faixa azul é rodeada de desinformação e nós da Amot-CE sabemos que não é bem assim, precisa ser feito uma campanha de informação e adequação, tanto de motoristas quanto de motoqueiros", destaca.

No Ceará há oito anos, o sulista Luciano Kasper Balem, 45, conta que toda a categoria de motociclistas já aguardava pela aprovação do projeto.

Trabalhando como motoboy há três anos, ele acredita que a medida vem como vem para “dar uma dinâmica no trânsito”.

“A gente percebe a demanda crescente pelos motoristas de aplicativo (...) O que nós esperamos é que cada vez mais tenhamos segurança para rodar na Capital. Queremos que o trânsito se torne cada vez mais seguro para nós e para quem nós transportamos”, afirma Luciano.

Luciano conta que está curioso para saber como a fiscalização da nova medida irá funcionar em Fortaleza: “A gente já tá um pouco cansado de tanta fiscalização no trânsito, né? Claro, a fiscalização ela é necessária (...) Agora, ela não pode ser usada para multar os motociclistas", destaca.

Luciano dos Santos, 23, trabalha como motoboy há dois anos e afirma que a medida é uma “boa ideia” e que fará com que motoristas de carro evitem acidentes.

“Eu mesmo já quebrei a clavícula pelo desrespeito dos motoristas. Estava saindo da faixa do meio para fazer uma ultrapassagem proibida. Com a faixa já melhora, né? Porque [eles] sabem que tem uma faixa e aí não vai para o lado”, declara.

Com o acidente, Luciano levou alguns pontos e precisou colocar uma placa de platina na clavícula. O aço é utilizada em graves acidentes, para fixar os fragmentos ósseos causados pelo impacto.

O motociclista Marcos Vinícius, 27, aponta que a medida veio como um reconhecimento para os motoqueiros.

“Quem salvou [as pessoas] na pandemia foi a gente, com as entregas. É um reconhecimento porque a Cidade depende da gente. Eu acho uma boa iniciativa da prefeitura”, afirma.

Sobre os acidentes, Marcos acredita que eles irão diminuir com a iniciativa: “A tendência é diminuir, mas tem carro que não respeita. Tem ciclofaixa e não interfere [no trânsito], então eu acho que [a faixa azul] não irá interferir em nada não”, conclui.

Especialista diverge de motociclistas

Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes (DET), da Universidade Federal do Ceará (UFC), não vê como o poder público irá arranjar espaço para implantar as faixas.

“Vai tirar de onde? Da faixa de ônibus, de bicicleta ou dos autônomos? Eu não tenho ideia de onde vai se tirar”.

Ele continua: “Do ponto de vista de transporte de pessoas, eu acho uma ideia ruim, porque você tá dando um sinal com contrário. A ideia, na minha opinião, é que você deve favorecer o transporte coletivo e o transporte não motorizado, ou seja, bicicletas e caminhada (...) A Prefeitura está com problema de transporte público na Cidade", explica Mário.

Para Mário, a medida até pode favorecer os motociclistas, porém, não vê como irá melhorar o trânsito da Capital.

“A preocupação principal tem que ser com o transporte público. Eu não posso me preocupar com motocicleta sem me preocupar com os acidentes que eles se envolvem. Tem medidas para diminuir isso, mas eu não sei se a faixa azul vai ser algo que diminua", finaliza.

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AMC informa que estudo sobre legislação está sendo feito

Procurada, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) informou que um estudo sobre questões como legislação e multas está sendo feito, e informações a respeito serão divulgadas em breve.

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